Onde está Bárbara?
- Se você me espetar, vou te matar, mulher!
- Vamos parar com essa palhaçada, Romualdo, eu sei que você é um cara legal, não mata ninguém, só baratas!
- Vou te matar, mulher, não me espeta!
- Estou morrendo de medo, matador de baratas...
Bárbara completou o procedimento, o paciente se acalmou e como estava se aproximando a hora da rendição, foi fazer seu relatório.
Bárbara era a nova enfermeira do C.P. Nova Vida, era formada há cinco anos e havia trabalhado em cidades do interior em clínicas de recuperação de drogados e viera para os arredores do Rio de Janeiro para dar continuidade à sua vida acadêmica.
Esse foi o motivo principal da sua separação de Gustavo, também enfermeiro, que não quis vir para a capital. Alegou não se adaptar à metrópole e preferiu ficar no interior.
Na época ela tinha conseguido emprego para os dois na Clínica Psiquiátrica, mas nem isso foi capaz de demovê-lo da ideia de não se mudar.
É verdade que o seu casamento já não estava bem. Mas a mudança foi a gota necessária para transbordar o copo d'água.
Felizmente não tinham tido filhos, o que tornaria a separação muito pior, mas Gustavo era muito ciumento e os clientes da clínica não tinham limites e viviam fazendo propostas indecorosas para Bárbara, o que o incomodava. Ele não sabia lidar com essas situações...
Numa dessas ocasiões, um paciente viciado em cocaína, o Cacau, ameaçou matá-la se ela não cedesse aos seus desejos. Ela , uma mulher bonita, charmosa e por si mesmo provocante, causava "frisson" entre os doentes a quem ela tratava, e por isso mesmo sua presença era requisitada e todos queriam ser por ela atendidos. Ela compensava essa exaltação de ânimos com sua forma profissional de ver as coisas, pois bem sabia da incapacidade dos pacientes em controlar os seus limites e por isso mesmo era ela quem mais limitava seus pacientes, colocando um barreira entre a mulher e a profissional.
Para complementar, ela tinha uma forma muito peculiar de abordar os problemas, transformando em piada todas as situações incômodas e rindo daqueles que confundiam as coisas, transformando-os em verdadeiros palhaços. Acima de tudo, ela era muito profissional.
O Centro Psiquiátrico Nova Vida ficava isolado, numa estrada que dava acesso a uma cidadezinha periférica ao Rio de Janeiro e foi por Bárbara escolhido para trabalhar porque ficava a poucos quilômetro do Campus Universitário da Universidade Rural, onde ela estudava e residia. Tanto o Centro Psiquiátrico como o a Universidade se situavam em áreas ermas e de pouco movimento e não tinham muitos coletivos para fazer o transporte da sua casa para o trabalho e vice-versa, e por isso mesmo, ela comprou com sacrifício um carrinho barato produzido somente aqui no Brasil e cuja fábrica já havia falido, a Gurgel, com o qual ela se movimentava.
O Centro Psiquiátrico tinha uma grande estrutura e atendia a doentes particulares ou oriundos de convênios e planos de saúde e também os do Sistema Único de Saúde, o SUS, do governo. Os doentes particulares, de convênios e planos de saúde tinham diferenciação de tratamento na parte hoteleira, usando de mais regalias, ficando em quartos perto do jardim, enquanto os do SUS eram instalados em alojamentos coletivos, mas o atendimento médico, os procedimentos, eram todos padronizados, sem diferenciação alguma.
Foi num final de tarde que Bárbara foi chamada para o atendimento ao Romualdo na área dos reclusos, porque ele estava muito agitado e para isso ela convocou dois auxiliares de enfermagem fortes para que fizessem a contenção do paciente, para que ela pudesse aplicar a injeção do medicamento que o médico receitara para esses casos. Situações como essas eram rotineiras, ocorriam quase diariamente e eram tratadas com o procedimento padronizado.
Ela completou o procedimento mesmo com a relutância de Romualdo, ele se acalmou e ela foi fazer seu relatório.
A noite chegou rapidamente, era final de dezembro, trazendo com ela uma tempestade que se aproximava, os raios e trovões pipocavam no céu e Bárbara acomodou-se no seu carrinho e saiu apressadamente para não ter que fazer o percurso debaixo do temporal. Foi tudo em vão, quando acabou de cruzar por baixo do viaduto de Viúva Graça, sob a rodovia que interliga Rio a São Paulo, já estando na reta da estrada que a levaria à Universidade Rural, num lugar completamente ermo, uma grande poça d'água na estrada impediu-a de passar, o carro ficou com a água ultrapassando as rodas e com certeza ela não conseguiria transpor aquela água toda.. Ela encostou o carro no acostamento, desligou - o e ficou esperando a água abaixar.
Bárbara estava cansada e não conseguia manter os olhos abertos, num último recurso, ligou o rádio para tentar assim espantar o sono, contudo parecia que o sono aumentava com a melodia, não resistiu e dormiu profundamente...
No dia seguinte e nos dias que se seguiram Bárbara não voltou ao Centro Psiquiátrico. Ninguém sabia do seu paradeiro, por coincidência, Romualdo, aproveitando a chuva que desabou sobre o Centro Psiquiátrico, aproveitando-se de umas telhas que foram arrastadas pelo temporal, fugiu do estabelecimento e ninguém também conseguiu saber para onde ele teria ido.
A direção da casa, preocupada com a fuga do Romualdo e sabendo da responsabilidade que adviria perante a sua família, escondeu os fatos das autoridades durante vários dias e contratou detetives para procurá-lo sem contudo obter resultados. Quando a polícia foi avisada, relacionou um caso ao outro e procurou pelos dois, mas não os encontrou...
Bárbara acordou já com o dia claro, dentro do seu carro, em um local totalmente estranho, em uma estradinha cercada por um milharal. O carro ficou sem bateria e não funcionou. Andou a esmo durante horas até ser encontrada por uma pessoa, que falando em inglês, lhe disse que ela estava em Buckingham, no Estado de Ioha, nos Estados Unidos...
- Se você me espetar, vou te matar, mulher!
- Vamos parar com essa palhaçada, Romualdo, eu sei que você é um cara legal, não mata ninguém, só baratas!
- Vou te matar, mulher, não me espeta!
- Estou morrendo de medo, matador de baratas...
Bárbara completou o procedimento, o paciente se acalmou e como estava se aproximando a hora da rendição, foi fazer seu relatório.
Bárbara era a nova enfermeira do C.P. Nova Vida, era formada há cinco anos e havia trabalhado em cidades do interior em clínicas de recuperação de drogados e viera para os arredores do Rio de Janeiro para dar continuidade à sua vida acadêmica.
Esse foi o motivo principal da sua separação de Gustavo, também enfermeiro, que não quis vir para a capital. Alegou não se adaptar à metrópole e preferiu ficar no interior.
Na época ela tinha conseguido emprego para os dois na Clínica Psiquiátrica, mas nem isso foi capaz de demovê-lo da ideia de não se mudar.
É verdade que o seu casamento já não estava bem. Mas a mudança foi a gota necessária para transbordar o copo d'água.
Felizmente não tinham tido filhos, o que tornaria a separação muito pior, mas Gustavo era muito ciumento e os clientes da clínica não tinham limites e viviam fazendo propostas indecorosas para Bárbara, o que o incomodava. Ele não sabia lidar com essas situações...
Numa dessas ocasiões, um paciente viciado em cocaína, o Cacau, ameaçou matá-la se ela não cedesse aos seus desejos. Ela , uma mulher bonita, charmosa e por si mesmo provocante, causava "frisson" entre os doentes a quem ela tratava, e por isso mesmo sua presença era requisitada e todos queriam ser por ela atendidos. Ela compensava essa exaltação de ânimos com sua forma profissional de ver as coisas, pois bem sabia da incapacidade dos pacientes em controlar os seus limites e por isso mesmo era ela quem mais limitava seus pacientes, colocando um barreira entre a mulher e a profissional.
Para complementar, ela tinha uma forma muito peculiar de abordar os problemas, transformando em piada todas as situações incômodas e rindo daqueles que confundiam as coisas, transformando-os em verdadeiros palhaços. Acima de tudo, ela era muito profissional.
O Centro Psiquiátrico Nova Vida ficava isolado, numa estrada que dava acesso a uma cidadezinha periférica ao Rio de Janeiro e foi por Bárbara escolhido para trabalhar porque ficava a poucos quilômetro do Campus Universitário da Universidade Rural, onde ela estudava e residia. Tanto o Centro Psiquiátrico como o a Universidade se situavam em áreas ermas e de pouco movimento e não tinham muitos coletivos para fazer o transporte da sua casa para o trabalho e vice-versa, e por isso mesmo, ela comprou com sacrifício um carrinho barato produzido somente aqui no Brasil e cuja fábrica já havia falido, a Gurgel, com o qual ela se movimentava.
O Centro Psiquiátrico tinha uma grande estrutura e atendia a doentes particulares ou oriundos de convênios e planos de saúde e também os do Sistema Único de Saúde, o SUS, do governo. Os doentes particulares, de convênios e planos de saúde tinham diferenciação de tratamento na parte hoteleira, usando de mais regalias, ficando em quartos perto do jardim, enquanto os do SUS eram instalados em alojamentos coletivos, mas o atendimento médico, os procedimentos, eram todos padronizados, sem diferenciação alguma.
Foi num final de tarde que Bárbara foi chamada para o atendimento ao Romualdo na área dos reclusos, porque ele estava muito agitado e para isso ela convocou dois auxiliares de enfermagem fortes para que fizessem a contenção do paciente, para que ela pudesse aplicar a injeção do medicamento que o médico receitara para esses casos. Situações como essas eram rotineiras, ocorriam quase diariamente e eram tratadas com o procedimento padronizado.
Ela completou o procedimento mesmo com a relutância de Romualdo, ele se acalmou e ela foi fazer seu relatório.
A noite chegou rapidamente, era final de dezembro, trazendo com ela uma tempestade que se aproximava, os raios e trovões pipocavam no céu e Bárbara acomodou-se no seu carrinho e saiu apressadamente para não ter que fazer o percurso debaixo do temporal. Foi tudo em vão, quando acabou de cruzar por baixo do viaduto de Viúva Graça, sob a rodovia que interliga Rio a São Paulo, já estando na reta da estrada que a levaria à Universidade Rural, num lugar completamente ermo, uma grande poça d'água na estrada impediu-a de passar, o carro ficou com a água ultrapassando as rodas e com certeza ela não conseguiria transpor aquela água toda.. Ela encostou o carro no acostamento, desligou - o e ficou esperando a água abaixar.
Bárbara estava cansada e não conseguia manter os olhos abertos, num último recurso, ligou o rádio para tentar assim espantar o sono, contudo parecia que o sono aumentava com a melodia, não resistiu e dormiu profundamente...
No dia seguinte e nos dias que se seguiram Bárbara não voltou ao Centro Psiquiátrico. Ninguém sabia do seu paradeiro, por coincidência, Romualdo, aproveitando a chuva que desabou sobre o Centro Psiquiátrico, aproveitando-se de umas telhas que foram arrastadas pelo temporal, fugiu do estabelecimento e ninguém também conseguiu saber para onde ele teria ido.
A direção da casa, preocupada com a fuga do Romualdo e sabendo da responsabilidade que adviria perante a sua família, escondeu os fatos das autoridades durante vários dias e contratou detetives para procurá-lo sem contudo obter resultados. Quando a polícia foi avisada, relacionou um caso ao outro e procurou pelos dois, mas não os encontrou...
Bárbara acordou já com o dia claro, dentro do seu carro, em um local totalmente estranho, em uma estradinha cercada por um milharal. O carro ficou sem bateria e não funcionou. Andou a esmo durante horas até ser encontrada por uma pessoa, que falando em inglês, lhe disse que ela estava em Buckingham, no Estado de Ioha, nos Estados Unidos...