Um dia

- Você promete me amar para sempre?

- É claro que sim meu amor

- Então repita comigo... Eu

- Eu

- Marcela Bigotto

- Marcela Bigotto

- Amarei para sempre Brenner Cortez

- Amarei para sempre Brenner Cortez

- Pronto, está registrado aqui em meu celular na data de vinte e cinco de agosto de dois mil e nove, Que você me amará para sempre.

- Brenner você é tão doce

- Não tanto quanto você.

Três anos depois...

- Acorde Brenner, está na hora de ir trabalhar!

- Qual é pai, me deixe dormir aqui, não quero sair da cama!

- Brenner não adianta ficar deitado ai para sempre, isso não trará Marcela de volta, já faz uns dois anos, e você fica ainda assim.

- Está bem, está bem – Brenner se levantou da cama – Pai o que você faria se pudesse voltar ao tempo?

- De novo? Pare de ficar pensando isso, não há nada que possa ser feito, não temos como mudar nosso passado.

- Mas e se houvesse, uma única chance de isso acontecer?

- Responderei para você uma ultima vez, eu voltaria para o dia em que concebemos o seu irmão e teria usado preservativos, assim pouparíamos a vida de sua mãe, mas não podemos, são coisas da vida.

- Entendi, Vou tomar uma ducha.

- Vá rápido, temos muito trabalho hoje, o pessoal da Intec quer a apresentação do produto ainda essa semana.

Brenner tomou banho, e depois começou a se arrumar, penteou seus cabelos negros, lavou seu rosto moreno e colocou os óculos em seus olhos castanhos.

- Pronto senhor Jorge, vamos?

- Vamos!

Brenner e Jorge entraram no carro e foram ao trabalho, ainda eram por volta das 08h00min, o transito era caótico, estavam na marginal do rio Tietê.

- Que transito é esse? Está pior do que de costume – Reclamou Jorge.

- É e ainda o senhor escutando reportagem para piorar.

- As noticias são essenciais para nós, você quer o que? Escutar musica?

- Olha que não seria uma má idéia.

- Brenner, dorme ai e quando nós chegarmos eu lhe aviso.

Brenner conseqüentemente ao silencio do carro, acabou por dormir.

“– Vamos ao cinema hoje meu amor?

- Marcela, hoje não, eu estou cansado, este trabalho que meu pai me arranjou e está acabando comigo.

- Nossa você está parecendo um velho, saudades dos tempos de colégios em dois mil e oito.

- Eu também sinto saudades, faz o seguinte, vá com suas amigas ao cinema de depois venha para cá e prometo a você que te recompensarei.

- Está bem, eu quero só ver”

Um barulho ensurdecedor acordou Brenner que gritou

- Marcela!

E ao seu lado estava seu pai gritando

- Filho da puta! Comprou a carta foi?

- O que está acontecendo?

- Um idiota, fechou a gente quase dei na traseira dele – Jorge olhou para Brenner – Nossa você está suado!

- É, deve ser por causa desse calor!

- Calor Brenner? Esta por volta de dez graus, você teve outro sonho com Marcela não foi?

- É pai, de novo.

- Isto está te afetando de mais, escuta pela ultima vez, você não teve culpa, o motorista do caminhão estava bêbado e a arma do policial disparou sozinha quando ele tentou salva-la, pare de se culpar!

- Mas se eu tivesse aceitado ir ao cinema com ela, nada disso teria acontecido.

- E como você sabe? Você é vidente por acaso? Se for eu quero ver seu holerite.

- O pai, se eu pudesse voltar atrás...

- Você não pode! – Jorge ficava muito bravo quando Brenner falava disso.

- Pai, por que o senhor fica tão nervoso quando falo de consertar as coisas?

- Por que o que está feito está feito, nada pode ser mudado, apenas o futuro pode ser escrito.

Chegaram por volta das 10h na empresa que ficava na região sul de São Paulo. Entraram com rapidez e foram se aprontando para uma possível apresentação de um projeto. Brenner não consiga se concentrar muito, mas estava fazendo seu trabalho, o problema é que além de preparar a apresentação, ele tinha que atender alguns clientes em sua mesa, enquanto seu pai ficava na sala ao lado tendo idéias.

Por volta das 13h00, Jorge passou com alguns colegas na sala de Brenner.

- Brenner, nós estamos indo almoçar, quer vir conosco?

- Não pai, muito obrigado, mas ficarei aqui para terminar o trabalho.

- Bem, você quem sabe, qualquer coisa estaremos no restaurante aqui em baixo.

- Ok, bom almoço para vocês.

A empresa estava bem quase vazia, e Brenner era um dos poucos a estarem ali, de repente Brenner sentiu um calafrio na espinha, se sentiu angustiado.

- Nossa senhora, o que é isso?

Um homem todo de preto apareceu a porta da sala de Brenner, era pálido e usava um chapéu negro, seus olhos eram negros como a escuridão.

- Com licença senhor? Pode me ajudar?

- Desculpe, estamos em horário de almoço.

- Ah, é uma pena – o homem estava um pouco sarcástico – se pudesse chegar mais cedo e fazer tudo diferente.

Brenner levantou seu rosto ao escutar aquelas palavras

- Como disse senhor?

- Se eu pudesse mudar o passado, chegaria mais cedo aqui.

- É, mas infelizmente não podemos – falou Brenner.

- Será mesmo que não podemos Brenner?

- Como sabe meu nome?

- Sei muito sobre você, posso entrar e me sentar?

- Por favor, sente-se – Brenner estava curioso para saber mais sobre aquele homem. O homem se sentou – E então o que deseja?

- Na verdade, eu nada, quem deseja é você não é mesmo?

- Como assim? Quem é você?

- Meu nome é Bune, digamos que ouvimos sua voz de desespero sobre Marcela e vim te ajudar.

- Mas que brincadeira de mal gosto é essa? Saia daqui!

- Tem certeza? Você pode tocar novamente o rosto branco de Marcela, sentir a doçura de sua voz!

- Como sabe de tudo isso?

- Digamos que eu fico comovido com as coisas que acontecem e eu posso te ajudar.

- Ah é? Então me diga como?

- Já pensou em voltar no tempo?

- Toda vez, eu penso nisso, mas não tem como.

- Acha mesmo? Veja só – Bune começou a girar a mão e o tempo começou a voltar, as pessoas tudo como se estivesse rebobinando uma fita.

- Como é possível?

- É só dizer que aceita minha ajuda.

- Assim de graça?

- Você me fará alguns favores, mas fique tranqüilo, só depois que você morrer.

Brenner ficou confuso, ele tinha a chance de novamente ver Marcela, de talvez salva-la, pensou bem e disse:

- Está bem, eu aceito, faça-me voltar no tempo.

- Acalme-se, você voltará, mas não agora – Bune se levantou e antes de ir falou – Mande um abraço pro Jorge.

Bune se foi e Brenner acordou em sua mesa desesperado, seu pai e os demais estavam voltando do almoço.

- Brenner? Você esta bem?

- Sim Jorge, eu acho que cai no sono enquanto fazia os relatórios.

- Se precisar de alguma coisa, vá a minha sala.

- Pode deixar.

Brenner continuou trabalhando, mas não conseguia tirar aquele sonho de sua cabeça, parecia tão real, ficou um pouco atordoado.

“Caramba, que sonho maluco, seria tão bom se fosse real, dormir e acordar no passado, para mudar este futuro, daria qualquer coisa por isso”

O expediente acabou Jorge e Brenner então foram para casa, novamente um transito infernal e por volta das 20h, chegaram em casa.

Preparam-se para jantar, algo pronto, comida de micro-ondas para ser mais exato, colocaram a comida a mesa, Jorge percebeu que Brenner estava distante.

- Filho, o que está havendo?

- Nada não pai.

- Tem certeza? Se algo está lhe incomodando, me fale.

- É que eu tive um sonho enquanto eu trabalhava que me deixou um pouco confuso.

- Que sonho foi esse? – Jorge sentiu um arrepio na espinha.

- Sonhei que um homem entrava em minha sala e dizia que faria eu mudar meu passado.

- E o que você respondeu? – Jorge quase se engasgou

- acalme-se pai...

- Responde o que você falou para ele?

- Eu não me lembro bem, mas acho que tinha aceitado, lembro também que ele mandava um abraço para o senhor.

- Desgraçado! – Gritou Jorge – Bune filho da puta!

- Sim, esse era o nome dele, como o senhor sabe?

- Não importa Brenner, você vendeu sua alma para voltar ao passado, eu te avisei que você não devia ficar pensando nisso.

- Como você sabe de tudo isso pai? – Brenner estava com uma voz de medo.

- Lembra quando eu te disse sobre sua mãe?

- Sim.

- Ele a visitou, Seu irmão não era para ter nascido, lembra de sua prima Eliana?

- Sim, ela faleceu de câncer na medula, certo?

- Isso mesmo, Sua mãe ficou muito triste e a chance que um segundo filho poderia ter de salvar Eliana era muito grande.

- E então?

- Então? Preciso continuar? Bune a visitou em uma noite e disse que poderia mudar as coisas em troca de alguns favores após a morte, ela aceitou e voltou, para uma noite em que estávamos fazendo amor e ela estava no período fértil, ela conseguiu fazer com que eu não usasse camisinha.

- Meu Deus!

- Não terminei... O problema é que Bune não voltou um ou dois anos, ele voltou sete anos, antes de qualquer problema com Eliana, sua mãe começou a adoecer por causa da gravidez e faleceu no parto junto com seu irmão!

- Mas como isso é possível – Brenner começou a sentir sonolência – Como o senhor soube de Bune?

- Quando sua mãe morreu, ele fez a mesma proposta para mim, mas eu... Brenner você está bem?

- Um pouco sonolento

- Não durma, não pode dormir – Brenner caiu a mesa dormindo.

- Não! Bune você não levará meu filho!

- Acorde Brenner, está na hora!

- Qual é pai, não quero trabalhar hoje!

- Se não levantar para ir à escola, não trabalhará nem amanhã!

- Escola? – Brenner pulou da cama – Como assim escola?

- O que houve Brenner, parece assustado.

- Em que data nós estamos?

- Ué, vinte de sete de setembro de dois mil e sete.

- Não acredito! – Brenner correu ao banheiro e se olhou no espelho, viu seu rosto mais jovem – Desgraçado!

- O que foi filho?

- Pai, eu não deveria estar, aqui, eu deveria estar em dois mil e doze.

- Filho você está usando drogas?

Brenner colocou a mão no bolso e lá estava escrito “24 horas”

- Veja esse papel meu pai!

- Sim o que tem?

- Vinte quatro horas? Como assim o que tem?

- Filho não há nada escrito, neste papel.

- Bune, pai, este nome te lembra alguma coisa?

Jorge parou e fixou seus olhos para o papel.

- Você não pode ter feito isso meu filho.

- É eu fiz, e agora preciso de uma saída.

- Seu idiota! O que lhe fez vender sua alma para esse monstro?

- Marcela, meu pai, a morte de Marcela.

- E quem é Marcela?

- Marcela, minha namorada... Espere em que data você disse que estamos?

- Vinte sete de setembro de dois mil e sete

- Droga! – Brenner levou as mãos à cabeça – Eu nem a conheço ainda, que filho da puta!

- Como assim?

- Eu conhecerei Marcela, daqui a seis meses quando começar as aulas do segundo colegial, ela ainda nem sabe que eu existo.

Jorge se sentou no vaso sanitário e disse:

- Você é uma anta Brenner, como pode fazer isso!

- O que está feito está feito, preciso encontrar Marcela e preveni-la do que esta por vir.

- Mas e você? Aceitará a venda de sua alma assim?

- Não tenho mais escolhas pai, pelo menos tentarei mudar o futuro de vocês.

- Espere, há um jeito de quebrar este acordo.

- E como?

- Faça assim, você fará o que veio fazer e deixe o resto que eu visitarei um amigo, que talvez possa nos ajudar.

- Esta bem.

Arrumaram-se rapidamente, Brenner iria à escola e Jorge trabalhar. Brenner Chegou a porta da escola e encontrou seus amigos.

- Brenner hoje é o dia – falou um colega.

- Que dia Martin?

- Ora, você esqueceu? Hoje é o dia do provão, Você trouxe seu gabarito?

- Puta merda! Esqueci disso!

- Como esqueceu? Você sabe que se fomos mal, poderemos reprovar!

Brenner ficou pensando em como fugiria desta enrascada e falou:

- Vou até em casa buscar daqui a pouco eu volto!

- Vá rápido, você tem quinze minutos!

Brenner correu como se fosse para sua casa, mas foi em direção ao metrô, chegou lá comprou um bilhete e passou a catraca.

- Bem, Marcela mora em Itaquera, devo chegar lá em vinte minutos – Brenner olhou para o papel e estava escrito “23 Horas”

O Trem parou.

- Atenção, devido a usuário na linha, nós pararemos nossas operações por alguns minutos.

- O cacete! Era só o que faltava, até aqui estes suicidas vão me ferrar!

Jorge estava a caminho do trabalho e parou em uma biblioteca próxima ao trabalho, entrou correndo.

- Por favor! Preciso ir à seção de esoterismo.

- E por ali à esquerda, senhor – disse a recepcionista.

Jorge correu em direção ao local e foi pegando todos os livros que podia sobre espíritos e demônios.

- Bune, você não levará meu filho, como levou minha mulher!

Correu de volta a recepção

- Quero levar todos esses.

- Mas senhor, são vinte livros.

- E daí, eu quero ler todos!

- Mas temos normas que somente podem ser levados cinco livros por vez.

- Não tem como abrir uma exceção para mim?

- Não senhor! O senhor pode ler alguns aqui e escolher cinco para levar

- Droga! Está bem – Jorge voltou e sentou-se a mesa para começar a ler e de repente faltou luz – Era só o que faltava.

No metrô, após vinte minutos de paralisação, os trens voltaram a funcionar.

- Porra! Já não era sem tempo!

O Metrô começou a andar, passando Tatuapé, Carrão, Penha, Vila Matilde, Guilhermina – Esperança o trem parou ai.

- Atenção! Devido a falha de equipamento de via na região de Vila Matilde, os trens circularam com velocidade reduzida e maior tempo de parada.

- Não Acredito! Deve ser de propósito! Bune sabe mesmo como ferrar alguém! – Ao fundo todos estavam reclamando do transporte, uns falavam do governo, outros da incompetência e assim ia.

Jorge estava com uma lanterna de bolso lendo algumas paginas dos livros, mas não estava encontrando nada sobre Bune.

- Alô! Viriato?

- Sim, sou eu.

- Aqui é o Jorge, lembra de mim?

- Jorge? Caramba cara, há quanto tempo! E ai como está?

- Um pouco com pressa, deixa eu perguntar, você ainda mexe com aqueles negócios de demônios?

- Você quer dizer com invocações?

- isso, isso mesmo.

- Não mais, eu me aposentei desse ramo, faz uns dois anos, por quê?

- Estou com um probleminha referente a isso.

- Bem, por um velho amigo, podemos voltar à ativa.

- Certo! Você ainda mora no centro?

- Sim, no mesmo local!

- Estou indo, para sua casa então! Obrigado.

- Venha, estou curioso para saber o que acontece.

O Metrô ia devagar, mas finalmente após quarenta e cinco minutos, Brenner chegou a estação de Itaquera, o local estava um caos, com as paralisações, Brenner tentava esquivar das pessoas, mas acabava sempre por trombar em alguém.

Conseguiu sair da estação correndo pelo terminal de ônibus para sair, Brenner viu um mendigo segurando uma placa “Acredite no seu coração, isso te salvará”, Brenner não tinha muito tempo para refletir sobre tal frase, mas ela ficou em seu pensamento.

Enquanto isso Jorge, recebia ligações direto da empresa, mas ele não atendia, e estava preso em um transito na região da Vila Madalena. Estava passando um guarda e Jorge perguntou:

- Senhor? O que esta havendo para tal trânsito?

- Um rapaz se jogou em baixo de um caminhão, mas já estamos providenciando a normalização, fique em seu carro!

Brenner estava correndo, entrou em uma ruazinha quase perto de uma favela, e começou descansar um pouco, olhou para o papel e estava escrito “22 Horas”.

- Mas que droga! – sua respiração era ofegante – Será que vou conseguir?

Dois homens de bermuda e sem camisa o abordou.

- E ai moleque? Está perdido aqui na quebrada é?

- Não! Estou indo para casa de minha namorada, quero dizer amiga.

- Olha lá, o moleque ta doidão – falou um para o outro – Vai malandro, passa o celular e a carteira!

- Não levem a mal, mas não vou passar porra nenhuma pra vocês.

- Como que é Playboy? Se ta tirando a gente? – um dos homens tirou um canivete do bolso – Vai caralho! Ou você que ficar furado igual a um queijo suíço!

- Está bem, esperem, deixe-me pegar as coisas – Quando o homem munido da arma abaixou a guarda, Brenner o empurrou e saiu correndo em direção a casa de Marcela – Bune, você que está fazendo isso! Tenho certeza!

Para a sorte de Brenner os homens que o perseguiam foram parados por uma viatura, para levarem um enquadro. Brenner sem viu só pensava em chegar até a casa de Marcela.

Jorge se aproximava da casa de Viriato, o trânsito era lento, mas fluía constantemente. Jorge chorava dentro do carro, não podia acreditar que aquilo estava acontecendo de novo.

Em Itaquera, Brenner chegou à rua onde Marcela morava.

- Graças a Deus! Nossa, mas como essa rua está diferente, nem parece que.... Ah não, essa não! – Correu até a casa de Marcela e chamou três vezes – Marcela! Marcela! Marcela! – tocou a campainha.

- Pois não? – uma mulher atendeu a porta

- Por favor, ai mora Marcela Bigotto? – Brenner não reconhecia a mulher que o atendera

- Marcela? Não, aqui não mora ninguém com este nome – a mulher reparou que Brenner estava suado e cansado – Posso te ajudar?

- Não, desculpe o incomodar a senhora – Brenner saiu em disparada de volta ao metro – Como eu sou burro! Ela ainda não mora aqui! O pai dela ainda não faleceu, ela mora ainda em pinheiros! – olhou para o papel “21 Horas” – Não é possível, as horas estão passando mais rápido!

Jorge estava na praça da República, Viriato morava em um dos prédios ali próximos, Jorge procurou estacionamentos, mas estavam todos cheios.

- É claro, como seria tão fácil assim não é Bune?

Parou o carro em uma vaga que achou na calçada e correu para a casa de Viriato.

Brenner voltara para estação do Metrô, comprou um novo bilhete, a situação já estava melhor, afinal quase duas horas se passaram, só para Brenner as horas eram tensas. Embarcou no Metrô, rumo a Pinheiros.

- Vamos lá – começou a matutar Brenner – Contando com o tempo daqui a república serão uns trinta minutos, mas com certeza essa merda vai dar pau, então demorarei uma hora, pego a linha amarela e desço em pinheiros se tudo der certo em duas horas chegarei lá.

Jorge tocou o interfone.

- Viriato?

- Sim.

- Sou eu, o Jorge.

- Pode subir!

Jorge subiu rapidamente as escadas até chegar ao quarto 666 de Viriato que ficava no 6º andar.

- Jorge há quanto tempo que não o vejo!

- Viriato, Aconteceu de novo!

- Você está de brincadeira não é?

- Não, Ele voltou!

- Mas que droga Jorge! – Viriato acendeu um cigarro – Mesmo sabendo o que ele fez com sua esposa, você aceitou um pacto com ele!

- Não fui eu que fiz.

- Então quem?

- Meu filho! Meu único filho!

- Puta que pariu! – Viriato estava desconsertado – O que seu filho teve de tão importante para tal pacto.

- Ele disse algo, sobre a morte de uma namorada chamada Marcela e que estava em dois mil e doze.

- É obvio, Bune move a alma dos mortos de lugar e as faz de escravos.

- Como assim?

- Não entendeu? Bune vai levar seu filho hoje no lugar de Marcela, já que Marcela não fez nenhum pacto. Apenas trocaram de lugar.

- Mas existe algo errado ai Viriato.

- O que?

- Hoje, Marcela nem sabe da existência de Brenner, eles ainda não se conhecem.

- Que estranho, onde esta Brenner?

- Indo falar com ela, Eu acho.

- Não! Ele não pode encontrá-la agora! Se ele a encontrar ele corre o risco de morrer, até entendermos o que acontece ele não pode encontrar essa menina.

- E então?

- Ligue para ele.

- Está bem!

Brenner estava no metro e pensou “ Que droga, não existe a linha amarela ainda, terei que ir de ônibus” vou demorar mais ainda.

- Alô?

- Filho!

- Sim, pai pode falar.

- Não veja Marcela...

- O que? A ligação está ruim

- Você não deve ver Marcela ainda, venha para República, eu te conto tudo.

- Está bem!

Brenner ainda estava no Tatuapé, e sabia que o metrô ia ficar mais lento, já estava se preparando psicologicamente para seu fim. Olhou para o papel “20 Horas”.

Viriato era um negro alto, que tentou ajudar Jorge a vencer Bune, quando sua mulher vendeu a alma, mas não conseguiram a tempo. No apartamento dele ainda existiam alguns santos, Viriato colocou uma túnica preta sobre seu corpo e acendeu algumas velas.

- É preciso tudo isso?

- Fique quieto Jorge, você que salvar seu filho não quer? Então só ajude.

No metrô, Brenner estava sentido frio, um arrepio na espinha, como daquela vez em seu escritório.

- De novo isso? O que será?

Uma mulher sentou-se ao seu lado e disse:

- Você fez sua escolha Brenner, você vendeu sua alma para um demônio, faça agora por merecer, se você conseguir, mais de uma vida inocente poderá ser salvo.

Brenner acordou, estava no Brás.

- Mais de uma vida poderá ser salva? – Brenner ficou pensativo.

No apartamento, Viriato derramava vinho em ouro, e pronunciava palavras em latim, Jorge só ficou quieto e observou. Viriato se sentou.

- Viriato o porquê de vinho no ouro?

- Bune, gosta de riqueza e luxuria o grande duque do inferno não pode ser invocado sem uma boa e farta recompensa.

- Duque do inferno?

- Após os acontecimentos, eu me afastei de tudo, não porque estava cansado, mas por que também queria derrotar Bune, me aprofundei em toda sua historia!

- Mas...

- Silencio! Ele esta vindo!

As velas se apagaram e um vento forte soprou, e na porta de Viriato, um Homem de preto de chapéu apareceu.

- Bune!

- Olá cavalheiros em que posso ajudar vocês?

- Seu desgraçado – gritou Jorge – Você vai levar meu filho!

- Jorge! É você, que saudade, rapaz!

- Vai pro inferno!

- Eu estava lá e vocês me chamaram aqui – a voz de Bune ficou grossa – O que querem.

- Bune – falou Viriato – Existe alguma forma de libertar Brenner de seu pacto?

- Não! Ele não fez pacto nenhum comigo, ainda – e deu risada, estamos em dois mil e sete ele é jovem.

- Pare de blasfêmias e conte-nos a verdade.

- É claro que não! Vocês acham realmente que eu vou liberá-lo? É só fazer as contas, estou salvando duas almas inocentes, por uma que não quer mais viver.

- Quem disse que meu filho não quer mais viver? – perguntou Jorge.

- Você ainda não sabe, você não estava em dois mil e doze para saber. Se filho perdeu a vontade de viver e fez um pacto comigo, sei também que ele esta vindo pra cá, acreditem, eu não minto, é melhor vocês o deixarem ir atrás de Marcela.

- Para você matá-lo?

No trem, Brenner pensou, “não posso demorar mais, não encontrarei meu pai, irei direto para pinheiros”. Chegou à estação da República e ao invés de ligar para Jorge, entrou em um ônibus que passava em Pinheiros.

- Marcela, eu estou indo, não se preocupe.

Matar Brenner? – disse Bune – Quem disse que eu o matarei?

- Ora, então por que...

- Por algum caso, quando sua querida esposa fez o pacto comigo eu a matei no dia? Ela viveu nove meses e faleceu devido a complicações na gravidez. Brenner pode fazer sua escolha, e alias como castigo por me chamarem em vão Brenner perderá dez horas desse dia para consertar as coisas.

Brenner estava com medo e pensativo principalmente ao ouvir que “mais de uma vida inocente poderia ser salva” e aquele cartaz do mendigo escrito “acredite em seu coração, isso te salvará” não estava entendendo. Olhou para o papel e estava escrito “11 Horas”.

- Como assim? 11 horas? Esse safado está trapaceando! – o pessoal do ônibus olhou para Brenner, que deu um sorriso sem graça.

Eram 11h30min, na escola em pinheiros.

- Marcela! Essa aula é vaga, vamos ser dispensadas! – disse uma amiga.

- Ainda bem Lucy, eu quero ir para casa dormir.

- Ata, até parece que eu vou deixar essa garota loira e magnífica ir pra casa dormir, quando lá fora está cheio de meninos lindos doidos por nós.

- É serio Lucy, eu prometi ao meu pai que voltaria o mais cedo possível para casa.

- Qualquer coisa você saiu as 12h20.

- Está bem Lucy, você venceu!

O celular de Brenner tocou...

- Alô

- Filho?

- Fala pai.

- Onde você está?

- Desculpe, estou indo para Pinheiros, não tenho tempo, acredite ou não ele reduziu dez horas minhas.

- É, foi culpa minha.

- Como assim?

- Depois te explico, escute bem.. Mais de uma vida.. – cortou a ligação.

- O que?

- Pode ser salva, você não....

- O que pai? Não estou escutando. – a bateria do celular de Brenner acabara – ótimo, agora a bateria acabou!

Brenner encostou-se ao vidro e pelo reflexo do vidro novamente viu a data vinte e sete de setembro de dois mil e sete.

E Começou a lembrar do futuro...

- Parada ai isso é um assalto!

- Ai Brenner que susto, sabe que não gosto dessa brincadeira!

- Desculpe-me.

- Sabe que meu pai morreu assim, quando foi me defender de um assalto...

- Desculpe- me meu amor, nunca mais farei essa brincadeira...

Brenner caiu em si no ônibus...

- Claro, é hoje, o pai de Marcela morrerá hoje, por que irá atrás dela no shopping, duas vidas inocentes é Obvio!

No apartamento Jorge e Viriato se arrumavam para ir atrás de Brenner.

- Não consegui falar com Brenner, ele acha que vai morrer!

- Vamos então!

Desceram as escadas e quando chegaram próximo ao carro de Jorge, ele não estava mais lá.

- Onde está meu carro?

- Olha moço, tinha um carro aqui que foi guinchado há uns vinte minutos – falou um moço que estava na banca de jornal.

- Mas que merda!

- Venha Jorge, vamos de ônibus, não temos tempo a perder.

Após quase duas horas dentro do ônibus, Brenner chegou ao ponto que precisava, olhou para o relógio e eram 13h00. Olhou para o papel e estava marcado “9 Horas”

- Droga pai, o que o senhor fez que fez eu perder meu tempo?

Correu em direção à escola de Marcela que ficava ali próximo, chegou até a porta e pensou “de novo um tiro errado, ela já saiu, já deve estar no shopping”

Não tinha mais muito tempo...

-Olhe Marcela, aqueles dois gatinhos – disse Lucy

- Não sei amiga, eu já devia estar em casa! Meu pai já me ligou.

- Espere, só esses dois se não forem legais, vamos embora.

- Está bem Lucy!

Os rapazes olharam para as meninas e deram uma risada, e Lucy retribuiu.

- Vamos até lá – disse um deles.

Chegaram perto das garotas e se cumprimentaram Marcela queria estar em casa, mas sempre ia na onda de Lucy.

Brenner cansado e esgotado, precisava comer, mas não tinha tempo para isso, estava chegando próximo ao shopping, comprou uma coca em uma barraca só para amenizar.

- E ai gatinhas, nó moramos aqui perto, querem ir pra casa?

- Acho melhor não – disse Marcela.

- Qual é gatinha, temos bebidas e festas!

- Vamos Marcela – disse Lucy – eles são bem legais.

- Só um pouco.

As meninas se levantaram para irem junto com os rapazes.

No ônibus Jorge tentava ligar para Brenner, mas o celular só dava caixa postal.

- Garoto irresponsável! Que não carrega este celular.

- Calma Jorge, já, já nós chegaremos

- E como vamos saber onde ele esta?

- Confie em seu coração, ele te levará a seu filho!

Brenner então correu para o shopping e esbarrou em um homem de camisa social e calça jeans.

- Desculpe senhor – e continuou correndo – Marcela! Onde você está?

Olhou para o papel e estava marcado “8 Horas”.

Avistou uma garota loira e correu em direção a ela.

- Marcela?

- Quem?

- Desculpe!

No ônibus, Jorge disse:

- Já sei, Brenner odeia shoppings, ele deve estar lá!

- mas se ele odeia – disse Viriato.

- Confie em mim! Ele esta lá.

No shopping, Brenner após verificar quase todo o shopping viu, duas garotas e dois rapazes perto da saída.

- Será? Que é ela? – Brenner gritou – Marcela!

A garota olhou para trás, sim era Marcela.

- Graças a Deus!

Brenner correu em direção a ela e chegou bem próximo.

- Marcela, nós precisamos ir embora.

- Quem é você?

- Não importa, você precisa vir comigo! Agora!

- O mano, você não ta vendo que a garota está acompanhada não?

- Sim estou.

- Marcela, vamos embora, deixe este louco ai – disse Lucy.

- Espera Marcela, eu sou empregado de seu pai, ele pediu para buscá-la!

- Ai, você vai saindo de role – disse um dos rapazes – quer apanhar?

- Apanhar? Ou você vai pegar sua arma e atirar em mim?

- Arma? Que arma? – disse um dos rapazes – você ta usando droga.

- Vamos embora!

- Esperem! Marcela, você deveria voltar para casa, mas preferiu vir aqui, seu pai está atrás de você.

Um dos garotos grudou no pescoço de Brenner e neste exato momento entraram dois homens encapuzados atirando. Um tiro acertou o braço de Lucy que caiu ao chão.

Todos caíram no chão, um dos bandidos pegou Marcela de refém.

- É o seguinte – gritou um dos ladrões – isso aqui é um acerto de contas, pessoas vão morrer! – mirou na cabeça de um dos garotos e atirou.

- Não! – Gritou Brenner! – Não era assim que era para acontecer! – olhou para o papel e estava escrito “nem tudo será igual” – o que? Cadê as horas? - Olhou de novo e estava marcado “1 Hora”.

Tudo havia mudado, não era desse jeito que as coisas aconteceriam. Brenner são entendeu o porquê da mudança.

Jorge e Viriato chegaram ao shopping e muitas pessoas estavam correndo.

- Viu, eu sabia que era aqui o local.

Entraram rapidamente ao shopping, a policia começou a chegar.

Um homem de camisa social e calças jeans gritou:

- Filha!

Brenner olhou e viu.

- Então ele é o pai de Marcela!

Os bandidos olharam e miraram no homem e atiraram.

- Não! – gritou Marcela.

Brenner correu e pulou, a bala acertou em suas costas

- O senhor está bem?

- Sim.

Brenner caiu para o lado e Jorge e Viriato viram tudo.

- Brenner! – gritou chorando Jorge.

Os bandidos não perceberam, mas a policia estava atrás deles e os imobilizaram, Marcela correu em direção a seu pai.

- Pai, Você está bem?

- Sim, graças a esse garoto – apontou para Brenner.

- Você? Como sabia de tudo isso?

- Se eu te disser que eu te amo – disse Brenner tossindo sangue – você vai acreditar?

- Mas nós não nos conhecemos!

- Agora nos conhecemos, meu nome é Brenner – O garoto riu e fechou os olhos.

Jorge chorava:

- Meu Filho! Não! Se eu o avisasse a tempo!

- Jorge, seu filho optou por salvar duas vidas inocentes, em troca deu a alma dele – disse Viriato.

Chegaram os paramédicos e afastaram todo mundo.

De pé ao lado do corpo de Brenner, estavam Bune e o próprio Brenner.

- Sabe Brenner, atitude corajosa essa sua. Mas me diga por que preferiu morrer, ao invés de viver e aproveitar Marcela? Você sabia que não precisava morrer não é?

- Sim eu sabia, mas me diga o que vale mais para alguém? Um pai vivo, ou alguém que você ainda nem conhece?

- Tem razão...

- Tenho razão? É claro que eu tenho você me fez voltar nessa data justamente por isso, você sabia que eu iria dar minha vida para o bem dela.

- Tenho que concordar outra vez, mas agora são águas passadas, temos muito trabalho pela frente.

- Que trabalho?

- Sabe buscar almas iguais a suas, prestar contas a Lúcifer, você vai adorar conhecê-lo, cara gente finíssima!

- É mesmo?

- Claro que sim, lembra de sua mãe?

- Claro que eu lembro!

- Esta lá com a gente, ta morrendo de saudade, vai ficar contente...

- Marcela! Acorde esta na hora!

- Qual é pai, não quero trabalhar hoje!

- Linda do meu coração, aquele garoto morreu por nós, não foi pra você ficar sentido culpa de si mesmo.

- Tem razão, mas e se pudéssemos voltar no tempo? O que faríamos...

FIM