Mentes Diabólicas
Estava lá, vendo a figura entrar. O seu corpo escamoso deixava gosma em suas pegadas. O seu rosto lembrava a face de um morcego, que carregava em sua cabeça grandes chifres. Um ruído baixo e contínuo tomava o quarto enquanto ele respirava.
O animal, ou outra coisa que poderia ser, pulou sobre o corpo de uma mulher e começou a estoca-lo com uma lamina que parecia ser a continuidade de seu punho. Eu apenas observava, com um estranho desejo de tocar nas vísceras, no sangue e comer a carne. Olhei para a coisa que rasgava o corpo feminino e a criatura se transformou em uma mulher.
- Ok Rogério, quando eu chegar a três, você deverá despertar. Um, dois, três.
Rogério levantou assustado. Nas seções que tivera com Raquel contava sobre um sonho que ao acordar não lembrava todo o seu conteúdo. Deixou-se então ser hipnotizado. Para que todo o sonho fosse extraído. Rogério começou a chorar. Seu rosto estava coberto de suor. Raquel o olhou e lhe ofereceu uma toalha, um copo com água.
Rogério comentava sobre o estranho sonho que se repetia. Raquel, sua psicanalista, anotava com cuidado o que escutava e observava. Rogério esfregava as mãos enquanto falava. Seus olhos, inquietos, giravam percorrendo toda a extensão da sala, suas pernas tremiam em ritmo alucinante.
- Você está se sentindo bem – Raquel falava enquanto observava as atitudes de Rogério – nossa seção de hoje terminou, espero você amanhã.
Rogério saiu pela porta do consultório. Raquel organizou as suas anotações e pediu para que entrasse outro cliente.
Michele entrou e se deitou no sofá. Raquel explicou para Michele o procedimento que ela iria experimentar:
- Michele, você deverá obedecer todas as minhas sugestões. Logo que isto acontecer nós tentaremos levar a sua mente a visualizar os sonhos repetitivos que lhe trouxeram até o meu consultório. No final da análise você despertará no fim de uma contagem que chegará até três.
Seguindo as técnicas de fixação do olhar, indução de relaxamento e concentração de foco de atenção, Raquel conseguiu que Michele começasse a falar:
- Eu estava sobre o corpo inerte de uma mulher. No final de meu braço, como um prolongamento deste, uma espada entrava no corpo e deixava as vísceras pularem e se espalharem sobre a ferida que ia se alargando. Um homem se aproximou e olhou em meus olhos, segurou a minha mão e me ajudou a dilacerar o que restava da carne.
- Ok Michele, quando eu chegar a três, você deverá despertar. Um, dois, três.
Michele acordou apavorada. Seu rosto suado, contorcido pelo medo, encarou o rosto de Raquel que lhe entregou uma toalha. Raquel fez algumas anotações. Michele saiu desequilibrada, abriu a porta a utilizando para se escorar. Curiosa Raquel a observou e pode ver, pela fresta da porta, Rogério sentado na antessala. Raquel se levantou e foi até a saída de seu consultório e pode ver Michele sair sendo ajudada por Rogério.
No final do dia Raquel se organizou para ir para sua residência. O telefone tocou e do outro lado Michele falava em tom desesperador sobre o seu temor de voltar a sonhar. Raquel a confortou e acertou de passar em sua casa.
Raquel chegou a frente à casa de Michele. Aproximou-se da porta e percebeu que ela estava entreaberta. Empurrou a porta e entrou. Começou a chamar por Michele.
A sala de Michele estava meticulosamente arrumada. As paredes pintadas de branco-gelo, escoravam sofás, mesas. No centro um tapete estampado tomava toda a sala. O tapete parecia forrar o centro da sala como se a esconder algo sobre o chão de mármore cinza. Raquel caminhou para um dos quartos. Ela percebera um movimento e se aproximou. Entrou no quarto.
O corpo foi jogado no chão. Uma faca estocava o corpo como se fosse o prolongamento do braço. As vísceras saltavam, se espalhando pelas feridas que se abriam. Um olhar em direção a um canto do quarto alertou Rogério, que se aproximou da carnificina. Rogério segurou na mão da opressora, se deliciou ao ver o sangue que se espalhava e se misturava com o mármore frio.
Jornal da Manhã
“Uma morte macabra na noite de ontem. Uma mulher foi encontrada mutilada em um quarto da Rua Diego Dutra. Os vestígios se alinham com os assassinatos realizados nos últimos meses, investigados e agora considerados como a de um serial-killer...”.
Próximo a um chamariz, sentado em um banco de parque se encontrava Rogério. Em sua mão um exemplar do Jornal da manhã. Rogério o lia tranquilamente enquanto várias pessoas passavam à sua frente. Um dia tranquilo de um belo sol. Seu olhar disperso não trazia nenhum traço de remorso pelo que ocorrera na noite anterior.
Rogério se levanta, joga o jornal na lixeira próxima. Ele estica a mão e é tocado suavemente pela mão de uma bela moça que acaricia o seu rosto. Rogério a presenteia com um belo sorriso:
- Então, quando terei novamente o sabor. - Falava Rogério à bela moça que passava.
- Estou procurando, logo voltaremos ao prazer, mas agora tenho que ir.
- Estou aguardando, até mais tarde Raquel!
Fim
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