Atentado Insano

Corri para me apresentar a ela. Foi tão rápido o nosso contato, nem pude conseguir desvencilhar os mistérios que a tão nobre menina impunha com pudor em meus pobres devaneios. Persisti em ali ficar. Conversei coisas casuais e usuais daqueles homens que tentam articular uma frase, ou frases, para ludibriar a bela em torno de si, fazendo-a girar perfeitamente e no movimento adentrar em seu laço pecaminoso. Inclinei meu corpo para ela. Tristemente, ela também, mas não como gostaria. Senti uma distração suavizada pela sua educação e classe, deixando-me sem atitude alguma perante o que fazer. Levei minhas mãos numa tentativa de aproximar a intimidade do que ao meu desejo deveria ser um lindo casal, mas ela de tão esperta conseguia captar na água e no mar qualquer que fosse o artifício que viesse a utilizar. Fiquei mais uma vez sem reação. Toda minha experiência de noites antológicas e guiadas pelo sucesso de buscas perfeitas estava sendo questionada, de tal forma que as perguntas entravam e saiam não só como lanças, como tridentes perfurantes e impiedosos.

O tempo foi se passando e sem ninguém apoiar-se em nada a ventania fez-se em som fúnebre e alto, destacando o vácuo recheado de desejo que existia entre nós, ou pelo menos entre mim. Foi aí que resolvi retorná-la e com olhos fogosos atirá-la para o chão. Não o sólido e frio que estava sob nós, mas o paraíso que pretendia mostrá-la por meio das minhas carícias envolventes e confirmadas em sonhos e pesadelos. Teci meia dúzia de palavras e, com um sobro angelical que, confesso, não foi apenas de autoria minha, fiz a tão enrijecida menina olhar com brilho cristalino para os meus. Pronto! Consegui sentir e a fazer sentir aquilo que almejei desde os instantes de cheiro ao passar perto de sua pele. Nossas mãos se ataram com um envolvimento único. Imagine as cores saindo juntas por uma explosão de energia numa estrela. Pois bem, nesta ainda há pouca perfeição ante nós. Saímo-nos dali e escolhemos um lugar especial para tanto, nem precisamos caminhar muito, havia um bem pertinho e que chamava baixinho pelos nossos nomes. Incrivelmente até escutava-se o murmuro excitante que confundia com meus toques e falas em seu ouvido.

Chegando ao encontro de nossos corpos, resolvi tentar ouvir a voz que pouco havia me dado o prazer de inflamar-me em cobiça. Suas curvas em som já eram perfeitas, qualquer que fosse o detalhe acrescido àquilo, tornava-me uma flama única que queimava tudo que terminava em circular perto de mim. Já estava a achar vistas ali tão excêntricas, insistia em ouvir sua voz, mas não conseguia. Apertava sua mão e sentia o ardor igual ao da excitação que obtive ao vê-la nos primeiros minutos de nossa existência. Em seus olhos a chama igual às outras. Indagativo permaneci. De um lado as cores escuras da noite, sendo esta uma das mais incrédulas que já vi, citando além de tudo o céu que caía aos poucos vindo ao nosso encontro. De início, achei que estivesse apaixonado e alucinado pela sua beleza, até tudo ficar anormal. Os sussurros que nos chamavam aumentavam-se em tom até tornar-se gritos. Cavernosos estes. O temor preenchia os espaços que foram deixados pela minha ambição, aos poucos em cada parte tomada uma dor estranha e mais forte era sentida. Tentei perguntar se ela possuía o mesmo. Então notei o quão enigmática estava àquela noite para mim.

Sem mais delongas olhei fixamente para ela, que decepção! Nada vi. Além de um véu negro que cobria um molde de uma mulher. Assustei-me e alguns passos dei para trás, até esbarrar em outro molde enegrecido e esfumaçado, também quente. Tentei virar repentinamente, sem sucesso. Havia algo que me impedia de olhar, nem sequer podia me concentrar naquilo tão curioso que transparecia névoa de terror. Já apavorado que estava perguntei e orei aos anjos e arcanjos que estivessem dispostos a me socorrer. Um deles piedosamente tocou em mim e com uma tranquilidade absurda e peculiar aos seres mais distintos do imaginário humano, perguntou se de respostas eu viveria. Com lábios trêmulos escolhi pouquíssimas palavras que me foram surgindo e perguntei sobre o porquê de tudo isto acontecer. Sem demoras o ente vidente respirou em meu corpo e mostrou o mundo fantasioso que causei ao atentar pela cobiça demoníaca tomada em posse da minha loucura. Foi quando me arrependi e voltei sozinho para o lado de fora do tudo que havia deixado por uma mulher no meu insano mundo profano.

João André
Enviado por João André em 22/11/2012
Código do texto: T3999942
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