O anjo caído (1 Temp.)-1
1.O Inicio
Ele estava por perto.
Isso eu tinha certeza absoluta!Podia sentir, ao longe, aquele seu perfume de campo-de-flores, misturado com incenso de rosas vermelhas.
Eca! Odiava aquele cheiro. Me dava ânsias de vomitar.
Precisa encontrá-lo antes dos outros. Antes dos alados e dos chifrudos. Se eu o conseguisse capturar, o El Diablo, com certeza, iria fazer-me de subir de posto no inferno. Yes! E Rubie, ficaria com aquela carranca tenebrosa dela, totalmente desapontada.
Mas para que isso acontecesse, eu necessitava dum corpo.
Olho em meu redor. Impossível.
O lugar onde estava só havia gatos vagabundos, que fuçavam as latas de lixo atrás de ratazanas. O que fazer?Pensava nisso quando ouço um muxoxo...
-- Olá, Rúbia, querida, o que você está fazendo aqui?
Não, não aquilo não podia estar me acontecendo. Aquela voz estridente e zombeteira era-me bem familiar. Viro-me e quase volto pro inferno. Era Rubie!
-- Oi. O que você está fazendo aqui?—pergunto rispidamente. Será que a desgraçada descobrira alguma coisa?
-- O mesmo que você querida...
Rubie tinha o péssimo hábito de ficar chamando os outros de querido ou querida. Era algo muito detestável.
Encaro-a de cima a abaixo. Dou um muxoxo e digo:
-- Como você soube?
--Você não é a única que fica auscultando atrás das portas do salão infernal... Também soube e vim corrido pra cá...
-- Só você soube?—pergunto interessada. Aquela ordinária era mesmo esperta. Tinha de tomar muito cuidado.
-- Não. Pelo menos mais de cem demônios da nossa classe ficaram sabendo. É melhor nós agirmos logo...
O que ela queria dizer com: nós?Não confiava em outro demônio, porque não confiava em mim mesma. Contudo, seria uma boa estratégia unir forças, para capturar aquele...
--Então, sei que você me odeia e você sabe que te odeio, mas que tal fazermos uma trégua? Que tal abdicarmos dessa nossa rixa, pelo um bem maior?Nossos interesses...
Propõe-me ela com aquele seu sorriso de lagarto, com a lingüeta bifurcada a estalar no ar.
Eu tinha que concordar.
Seria muito mais fácil e rápido pra caçar aquele anjo se tivesse mais outro demônio a me ajudar.
-- Então, tá. Mas, primeiro faremos um pacto.
Ela me olha com aqueles olhos amarelos embaciados e diz:
--O.K.
Rasgo meu posso com a unha e ela o dela. Pingamos o sangue de cada uma na ferida de ambas. O rasgo se cicatriza e um cheiro de enxofre rescende no ar.
--Pronto. Agora teremos que encontrar corpos. Você tem alguma ideia?
Ela assente a cabeça com um sorriso malicioso.
***
Estávamos vestidas com os nossos novos corpos. Rubie trajava de uma prostituta de uns vinte e cinco anos aproximados e eu travestia o corpo de uma mulher com uns trinta anos.
--Fomos rápidas não?—diz-me ela sorrindo com aquela boca vermelhíssima. O corpo que ela pegara era maravilhoso. Magra, seios fartos e cintura harmoniosa. Contudo, o que mais se sobressaía era: aqueles cabelos pretos que emoldurando-lhe seu rosto ovalado ; e seus olhos verdes vividos como uma esmeralda.
--Que foi?—me interpela. O que fez com que despertasse daquele transe de admiração. —Está com inveja querida?
--Não... Nem um pingo... —minto. Na verdade estava. O corpo dela era bem melhor do que o meu.
Vejo meu reflexo no vidro duma loja. Cara, aquele corpo era realmente muito tenebroso. Parecia uma pêra. O rosto, então, parecia o da Fiona do Shrek: nariz de batata; beiços largos e grandes; sobrancelhas grossas e arqueadas; e olhos castanhos escuros e foscos. O cabelo desgrenhado e preto me dava aparência de uns sessenta anos. Porém, não poderia fazer mais nadada, pois uma fez que se escolhe um corpo (pelo menos pra nós demônios) não podemos escolher outro.
Isso fora um contrata assinado pelo El Diablo e o lá de cima. Um trato meio que injustos, porque os anjos podem trocar de corpos como bem entendem.
--Você sabe onde estamos?—interroga-me.
--Peba City.
Ela começa rir.
--Peba City? Que nome mais ridículo pra uma cidade. Quem o ouve, pensa se tratar de uma cidade grande e imponente... Mas quando a vê se decepciona, por não passar duma minúscula cidade no fim do mundo...
--E por isso que criaturas sobrenaturais a escolhem pra se manifestar... Por sua pequenez...
--Tá, tá bom... Estamos perdendo muito tempo com essas idiotices... Temos que ir logo atrás do anjo antes que um de nossos parentes do inferno resolva aparecer...
***
-- Ai, que dor de cabeça... Onde estou?—pergunto-me olhando ao meu redor. Estava escuro e as estrelas reluziam no céu, rebrilhavam como pequeninas lâmpadas incandescentes. A lua majestosa jorrava sua luz sobre mim e um objeto a meia luz a minha esquerda. Levanto-me e aproximo-me dele. Era como se fosse uma daquelas conchas gigantes que encontramos no mar.
Só que aquela era muito diferente.
Ela era rosa e completamente rodeada por pedras azul-piscina. E além de possuir um encanto fenomenal qual quem a visse ficaria perdidamente encantado por aquele brilho de tão rara beleza. Pego. E imediatamente meu corpo inteiro se arrepia como se levasse um choque.
Algo me alertava pra sair dali o quanto antes, todavia, não havia como. Estava encerrado dentro duma, cratera de mais de cinco metros. De alguma forma eu caíra ali...
Mas tinha que sair dali urgentemente. Algo em meu coração dizia, instigava-me a fugir...
Foi quando fecho meus olhos e algo de muito estranho acontece...
CONTINUA....
LEIAM O SEGUNDO CAPÍTULO DESTA SÉRIE EM MEU BLOG:raffaelpetter.blogspot.com