Era apenas um garotinho brincando de esconde esconde com o irmão. Enquanto seu irmão mais velho contava até 50, Marquinhos correu para o mato. Antonio seu irmão mais velho terminou de contar e logo gritou que já ia procurá-lo, mas ele não encontrou Marquinhos, passou-se minutos, Antonio preocupado foi chamar a mãe, agora já havia mais gente, muita gente e nada de encontrar Marquinhos, veio a policia, corpo de bombeiro e nada.
- sequestraram meu filho - gritou a mãe desesperada. Passou se dias, e aguardavam para que algum bandido fizesse contato e nada, o desespero tomou conta de todos, principalmente do irmão que não prestou atenção para onde o irmão foi. Passou meses e nada, cartazes com fotos de Marquinhos foram espalhados nos postes e nos comércios do bairro, postagens nas redes sociais, mas a familia não teve nenhuma noticia. Passaram-se anos, Antonio cresceu deprimido, embora a mãe não o culpasse, ele se sentia culpado, entrou em depressão.
Marquinhos estaria fazendo 10 anos, já se passaram cinco anos e nenhum sinal.
Antonio ia todo domingo até o parque onde o irmão desapareceu e mantinha as esperanças de encontra-lo.
Já era tarde, o parque estava fechando, Antonio se escondeu e ficou lá dentro sozinho.
As luzes se apagaram, ficando apenas acesas os holofotes dos postes de luz no centro do parque, Antonio adormeceu no banco. A noite estava quente e a brisa noturna o refrescava, agora a mãe estava preocupada com ele, ligou para amigos e vizinhos que negaram a sua presença.
No parque Antonio acordou e viu o irmão parado proximo a entrada para do bosque, Antonio se levantou e correu até o irmão que desapreceu na escuridão.
sua mãe resolveu ir até o parque. Um dos vigias disse que já havia fechado ha horas e não viu ninguem lá dentro, mesmo assim ele abriu para a mãe e os tios. Queriam ter certeza de que ele não estava ali, um filho já havia desaparecido, mais um ela não suportaria.
Antonio esfregaou os olhos para ver se estava mesmo acordado quando viu novamente o irmão mais adentro do bosque, Antonio correu e cada vez mais entrava pra dentro da mata. Com lanternas, seus tios e sua mãe gritavam pelo seu nome. Tudo estava se repetindo novamente, aquilo ela não ia aguentar, ela acabou  desmaiando e foi amparada pelos irmãos.
Antonio já não sabia mais onde estava, não havia entradas ou saidas, acabou  se perdendo, Marquinhos apareceu novamente ao meio da escuridão, estava ao lado de uma grande árvore, Antonio se aproximou, mas o irmãozinho não estava mais lá, Antonio cansado encostou na árvore e quando colocou a mão pra se apoiar, percebeu que havia um grande oco na árvore que com muita calma passaria uma criança do tamanho de Marquinhos, ele escutou um de seus tios gritando por seu nome e  logo respondeu: - estou aqui tio! 
seguindo a voz de Antonio, os tios chegaram té o rapaz.
- onde está a mamãe?
- ela ficou com o vigia no banco enquanto se recupera do desmaio, respondeu o Tio.
- fala pra ela que eu vi o Marquinhos, ele correu pra esta árvore, chama a mamãe.
Um dos tios foi chama-la, enquanto Antonio mostrava o oco no pé da árvore onde o irmão ficou parado.
Quando a mãe chegou, ela o abraçou e  disse que não era pra ele fazer mais isso, parar de se culpar pelo desaparecimento do irmão. Então Antonio disse que havia visto o irmãozinho e ele o teria mostrado aquele lugar. Com a lanterna um dos tios iluminou o buraco no pé da arvore, temendo o pior, ele resolveu pedir ajuda e ligou pra policia que chegou em minutos acompanhado de uma equipe de bombeiros.
- como pode? isso não pode ser verdade, como voces não viram isso, disseram que vasculharam cada local, não posso acreditar que meu filho esteja ai dentro, indagou a mãe. 
Os policiais iluminaram o local com os farois da viatura e lanternas, os bombeiros fazendo um leitura do local, verificaram que era possivel uma criança do tamanho de Marquinhos na época, entrar ali dentro com uma certa dificuldade, mas criança não mede o perigo. Com uma serra os bombeiros cortaram a árvore, ficando só o tronco, aos poucos aquele pequeno oco no pé da árvore se transformou num grande buraco.  Alguns metros abaixo, estava Marquinos, seu pequeno esqueleto deitado coberto pelas roupas que usava no dia que desapareceu, a mãe não suportando, desmaiou novamente sendo preciso ser levada á um hospital. Os restos de Marquinhos ainda ficaram algumas horas até a pericia chegar e depois foi levado para ser feito o serviço de  funeral.
Antonio não dizia nada, mas sabia que o irmão o perdoou por ter mostrado o lugar onde estava.
O tempo passou, a árvore cresceu e nas tardes de final de semana, crianças dizem que um menininho fica chamando eles para se esconderem na árvore.

O DIABO DO REFORMATÓRIO.



Estava ele andando nas ruas escuras do gueto, Lineker parecia não se incomodar com o perigo, a cidade estava sob o domínio do mal, mas não se preocupava com isso, quando nasceu foi batizado pelo padre que era parente da família, foi criado sob as mentiras do clero, seus pais lhe ensinavam desde cedo os costumes da doutrina, honrar pai e mãe e os outros mandamentos, mas ele só respeitava esse, rebelde ainda na infância, foi enviado ao reformatório, aprendeu as leis duras da vida, sem expectativas só lhe restara dobrar os joelhos perante uma estátua de um santo qualquer, afinal todos eram santos de gesso ou madeira, não fazia diferença se era São João ou São Judas, ele queria era respostas para suas duvidas, saiu do reformatório aos dezoito anos, passou a adolescência sem a presença da família, quando chegou em casa, seus pais estavam velhos e arrependidos da atitude que tomaram, mas Lineker estava irredutível e não os perdoou, deixou –os viverem em seus miseráveis  finais de vida. Pegou uma economia que os pais haviam guardado para ele, afinal era filho único,ganhou o mundo e foi morar numa pensão onde se hospedava todo tipo de gente, cada um com seus segredos inclusive ele próprio, odiava que falassem de santos e religião, todo padre era safado, tinha essa convicção generalizada, depois que seus companheiros menos indefesos foram molestados no reformatório num quarto recheado de imagens sacras, isso fez sua revolta aumentar mais ainda, saía as noites para curtir prostíbulos, onde se sentia bem porque ninguém fazia perguntas nem queriam saber de onde veio ou para onde ia, seu passado ainda estava vivo dentro dele, e uma agonia atormentava sua mente,não tinha vícios, não bebia, nem fumava e odiava as drogas porque achava que isso era uma forma dos fracos ganharem coragem e não sentir medo, ele já era assim por natureza, jamais foi visto um sorriso no seu rosto, ah sim, isso não é verdade, ele sorriu quando matou um gato estrangulado ainda no reformatório, foi punido, mas para ele a punição era coisa normal, antes de sair definitivamente pra rua, Lineker tinha autorização para sair durante o dia e voltar á noite, numa dessas saídas, Lineker tirou cópias das chaves.
Certa noite sua cabeça estava martelando, seu plano de vingança contra os padres do reformatório tinha que ser naquela noite, sorrateiramente ele adentrou o reformatório, deu a volta por trás entrou pela porta do fundo, sem fazer barulho ele foi até o quarto do padre que dormia profundamente.   Uma luz de velas que iluminava as imagens de todo tipo de santo presos nas paredes, agora era a hora de provar se santo fazia milagre mesmo, se algum iria impedir dele matar aquele desgraçado vestido com batina, derramou éter numa flanela e asfixiou-o, inerte na cama, o padre levou apenas um pequeno golpe, Lineker passou a navalha no seu pescoço, a veia pulsava e o sangue jorrava freneticamente no lençol branco, um sorriso estampou no rosto de Lineker, as imagens nada fizeram, visitou os outros quartos um por um, cada vitima sofreu da mesma forma, alias nem sofreram porque não sentiram dor, apenas agonizaram no  próprio sangue, sob a luz das velas e santos, Lineker teve a certeza que santos não faziam milagres, ou não quiseram se intrometer, pois aquele lugar não era santo,  talvez eles estivessem sorrindo assim como Lineker que saiu da mesma forma, sorrateiramente desapareceu na noite sem deixar vestígios e dormiu pela primeira vez sem ter pesadelos.
Os jornais do dia seguinte estampava a matéria da capa:
Cinco corpos, cinco padres, cinco degolados, parece que o Diabo entrou nesse lugar, sangue escorria pelo lençol da cama e corria pelo chão frio.
O reformatório estava cercado de policiais e muitos repórteres vestidos de Urubus prontos para saciarem-se da carniça, Lineker estava feliz, os garotos da sua época que ainda viviam no reformatório quando souberam da noticia, suspeitavam de quem seria o autor, mas alguém se vingou por eles, o jornal deu um nome ao assassino: o Diabo do reformatório, Lineker gostou do titulo e as noites na cidade não foram mais a mesmas desde aquele dia, nenhum novo padre quis voltar ao reformatório e os garotos ficaram em paz sendo educados pelas irmãs do convento.
Lineker jamais aprendeu a rezar.