FUI AO MUNDO DOS ESPÍRITOS
Saímos da Boate as três da manhã, Beto havia bebido, preocupada pedi para levar o carro, o que resultou numa discussão:
_ Você pensa que está lidando com algum irresponsável? Acha mesmo que não tenho condições de dirigir? Está com medo? Vai de táxi.
Assim foi o clima entre nós no retorno para casa, depois daquela noite na Boate. Eu nervosa, não queria piorar as coisas, portanto não mencionei mais nenhuma palavra, calei-me enquanto ele discutia. Nas condições em que ele se encontrava nada do que eu falasse adiantaria.
Depois de muito reclamar, Beto calou-se, colocou o veículo em movimento na estrada, Ele corria muito, o carro estava a 140 km/h, parecia que ia voar. Eu preocupada me agarrava ao banco, por vezes usei meus pés na tentativa de freiar o carro, foi apenas reflexo.
Me encolhi no meu banco pensando no pior, Beto estava descontrolado e totalmente sem reflexos. Quando em uma curva fechada, ele entrou a toda velocidade e em sentido contrário veio uma carreta, Beto perdeu o controle e invadiu a outra pista, e em questão de segundos a carreta passou por cima do nosso carro.
Luzes, sirenes, pessoas foram chegando, por que? O que foi que aconteceu, corri e perguntei a um e a outro, mas ninguém me respondeu. Fecharam a estrada, para que? Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui? - Dessa maneira eu gritei, mas ninguém me respondeu.
De repente vejo uma nuvem escura que desceu sobre o Beto e o carregou. Continuei sem entender nada, mas eu não bebi, porque estou tonta? E continuei ali em meio a multidão de curiosos, quando novamente vi outra nuvem escura sobre o caminhoneiro e o levou também.
Continuei ali sem entender o que estava acontecendo, por que levaram o Beto? E o caminhoneiro? Estava eu assim, quando vi um clarão que desceu sobre mim. A luz incomodou a visão, mas ao mesmo tempo foi atrativa e eu a segui, e como se fosse um roda moinho ela me envolveu e me levou consigo.
Acordei, ainda senti tonteira, me vi deitada em uma cama com um lençol da mais bela brancura, reparei que ao meu lado havia outros leitos, pessoas deitas neles enquanto enfermeiros nos cercavam de cuidados. Que lugar era aquele? Onde estava o Beto? Por que ninguém me diz nada? E nesse turbilhão de pensamentos adormeci, e quando acordei não sei quanto tempo se passou, mas me senti melhor, levantei e caminhei pelos aposentos, vi que parecia um Hospital, sim era um grande Hospital.
Fui até uma janela e pude ver uma linda paisagem em tons áureos, me encantei com tamanha beleza. Caminhei pelos corredores a procura do Beto,mas foi em vão.
Aproximei de um Senhor que tinha o cabelo e barbas grandes e branquinhas como a neve, ele me inspirou confiança, por isso me acheguei a ele e comecei um diálogo:
_ Senhor bom dia!
_ Minha filha ainda não ti disseram que aqui não existe espaço e tempo? - Disse o Senhor.
Foi então que não entendi nada mesmo, como assim não existe tempo e espaço? Aonde foi parar o tempo e o espaço? Como isso era possível? Minha cabeça estava dando um nó, eu só queria entender o que aconteceu.
_ Senhor que lugar é este? O que aconteceu? Por que estou aqui?
_ Calma minha filha, entendo como você se sente, é natural, logo logo você vai se situar melhor. Vou ver se posso lhe ajudar.
E pegando um grande Livro, o abriu e começou a ler em voz alta, leu diversos nomes, entre eles o de Beto. Ao que disse: _ Roberto Cardoso do Amaral, nascido em 10 de março de 1984, na cidade do Rio de Janeiro, capital, filho de Ana Maria Cardoso e João Pedro do Amaral,e falecido a 30 de agosto de 2012 - E assim ele leu um dossiê completo da vida de Beto, com todas as suas ações.
Foi quando me dei conta que Beto havia morrido,e provavelmente eu também. Então indaguei:
_ Senhor pelo que entendi, Beto morreu?
_ Sim minha querida, mas não fique triste, pois a morte não é o fim, é apenas uma passagem, um período da vida eterna. Pois há necessidade de se passar por todas elas, para ser provado e progredir rumo a perfeição. - A morte é uma benção, pois é a porta para a vida eterna, mesmo que você ainda não compreenda isso. - disse ele.
Em seguida Ele abriu outra página do Livro, e começou a ler o meu dossiê, nos mínimos detalhes. Leu minha data de nascimento em 16 de fevereiro de 1990 e falecimento em 20 de dezembro de 2070. Foi quando ele parou, pensou e falou:
_ Não pode ser há um erro aqui, o que você está fazendo aqui?
_ Não sei Senhor, lembro muito bem do Beto correndo na estrada, de resto não lembro não.
O Senhor mandou chamar o responsável pelo feito, eis que chegou uma mulher vestida de preto, com uma foice na mão, a qual denominavam de dona Morte. E o senhor perguntou:
_ Dona Morte não posso admitir este tipo de erro, você sabe muito bem que nunca erro, portanto não admito erros.
O Senhor falou que a Morte seria destituída do cargo, pois este é o tipo de erro que não pode acontecer. E enquanto o senhor resolveria o meu caso, o cargo estava em aberto, portanto ninguém morreria até que o cargo fosse novamente ocupado.
Então o senhor voltou a atenção para mim, e disse que eu voltaria para a terra, pois ainda não era chegada a minha hora, pediu-- me desculpas pelo erro, deu-me um forte abraço e me disse que era Jesus cristo. Chorei em seus braços de tanta alegria e pedi para ficar, mas Ele me disse que eu não poderia, e explicou-me que as Leis do Universo são imutáveis e eu precisava obedecer. Pois lá não há o jeitinho brasileiro, não há corrupção. Uma vez quebrada uma Lei há consequências sérias.
Abracei O mais uma vez e chorei...acordei no Hospital cercada por Médicos a me examinar, ouvir algo do tipo:
_ Mais como isto é possível ela morreu há vinte minutos.
E foi um corre, corre para me atender.