“Um fantasma em meu quarto”
Hoje tive um dia atormentado pelas lembranças que guardo de minha amiga Ester.
Ela foi uma pessoa que me marcou muito com seu jeito sempre alegre, carismática.
Embora todos pensassem que a gente fosse mais que amigos, pasmem! Riamos-nos muito, falávamos muita coisa, mas éramos apenas amigos.
No verão passado, ela teve pneumonia e não resistiu, morreu e eu sofro muito com saudades dela.
Este ano sai da casa de meus pais, comprei um apartamento mais próximo do meu trabalho e fui morar só, mas vem acontecendo umas coisas estranhas lá em casa, ontem eu cheguei por volta de meia noite e havia um cheiro estranho, como se eu guardasse flores murchas, e minha cama estava marcada como se alguém estivesse dormido ao meu lado, estranho! Pensei; quem esteve aqui? Fui ate a janela, olhei para o estacionamento, quem sabe alguém a me espreitar, sabe-se lá.
Ninguém, nem uma viva alma no estacionamento, à noite esta fria, uma garoa impede a visão.
Voltei para dentro, fui ao banheiro, quando tomava banho ouvi passos lentos de alguém subindo as escadas, eu pensei, deve ser a vizinha Márcia voltando da faculdade, mas os passos continuaram, passou pela porta do apartamento da Márcia, parou por alguns segundos, prosseguiu em direção a porta do meu apartamento, senti um arrepio, quem pode ser? Enrolei-me numa toalha, fui próximo à porta, encostei o ouvido para ouvir melhor, o barulho dos passos parou, olhei pelo olho mágico, vi apenas a pontinha do tapete do corredor se mover um pouquinho, mas não via ninguém, logo pensei, deve ser coisa da minha imaginação, ao me afastar da porta, novamente os passos, agora se aproximando rápido da minha porta e em seguida parou bruscamente, eu corri ao interfone e liguei para o porteiro que demorou muito a me atender, os passos ecoavam em direção ao meu quarto, coisas caiam como se fossem tampa de vidro de perfume, os passos paravam, a cama fazia barulho como de alguém se mexendo, procurando uma posição para ficar, o medo me paralisava, eu mau conseguia segurar o aparelho do interfone, mas lutei com meu consciente já debilitado, perguntei ao porteiro; alguém do sétimo andar passou por ai a uns dez minutos? Ele disse, não, o ultimo que passou por aqui foi o senhor e a dona Ester, o que? O que você disse? Ele repetiu.
Senti um arrepio forte que paralisavam inda mais minhas espinhas, o porteiro disse; ela tem vindo aqui toda noite e diz que vem para te fazer companhia, eu só não a vejo sair pela manhã com o senhor, eu fiquei mudo, o porteiro insiste, Daniel, Daniel, tudo bem? Eu; por favor, sobe aqui logo, venha logo, por favor, eu não estou me sentindo bem.
Tem alguma coisa aqui...
O porteiro vem e trás com ele uma arma em punho, ele por certo pensava ter alguém invadindo o meu apartamento.
Eu pedi a ele para me explicar melhor o que disse quanto a Ester vir comigo todas as noites, ele confirmou; ela me parece estar pálida, com um semblante apagado, eu ate pensei que ela tivesse doente. Eu disse a ele, ela ficou doente e morreu, ele não me parecia surpreso com a informação, você deve estar vendo coisas, como você a vê? E eu não á vejo, ele me disse; eu vejo gente morta e, começa a falar com a Ester na minha frente, eu fiquei apavorado, ele me dizia; fica calmo ela não é do mau, ela diz que vem aqui toda noite para dormir em tua cama e te acalmar, ela tem te visto atribulado e triste depois que ela morreu, só quer te acalmar.
Foi quando eu entendi o motivo que me atormentava, por algum momento eu senti vontade de á ver, embora com muito medo, decidi falar para o porteiro não descer para a portaria do prédio e ficar lá para me ajudar encontrar um caminho para Ester ir embora e descansar em paz. Assim eu também me acalmaria!
“A alma daqueles que se vão só descansa em paz quando quem fica em vida, encontra a paz e se conforma com a morte de seus amigos queridos, sabendo que todo ser vivente um dia terá que desmaterializar-se, basta se conformar e viver em paz apesar da dor, da saudade!”