Quando o Inferno Sussurra o seu Nome
Quando acordou, Eduardo Simens pode se ver preso em uma cela fria e escura. Havia apenas uma fagulha de luz a quilômetros de distancia. O cheiro que exalava naquele lugar era insuportável, uma mistura de algum animal morto com enxofre, o fazendo ficar com náuseas.
Eduardo não tinha ideia de como foi parar ali, suas lembranças estavam confusas, apenas lembra de alguns fleches, a musica que tocava em seu carro, o forte farol de um caminhão vindo em sua direção.Logo o medo tomou conta do seu ser, já não conseguia controlar suas mãos tremulas, não conseguia mais evitar o pânico que crescia dentro de si. Com seus 38 anos, era a primeira vez que realmente sentia se angustiado e com medo, como uma criança inocente, seus pensamentos apenas estavam sendo os mesmo "Será que eu morri? Se sim, onde estou? Aqui não aparenta ser o paraíso que tantos dizem por ai."
Ainda confuso Eduardo pode ouvir uma respiração próximo de si, seu medo foi crescendo o que aumentava ainda mais o barulho da respiração. Sem pensar duas vezes Eduardo corre para o canto da cela e se senta com os braços sobre a sua cabeça, estava se sentindo louco, queria acordar daquele pesadelo, queria voltar a realidade e dizer para sua filha e esposa o quanto ele as amava. Quando achou que o barulho havia passado, uma risada fina, alta, e assustadora veio de dentro da sua cela, o medo percorreu por todo seu corpo, seus sentidos estavam mais aguçados naquele lugar. Sem abrir os olhos e ainda com as mão sobre sua cabeça começou a gritar;
-Eu quero sair daqui! Eu quero minha família. -A medida que gritava podia sentir as lagrimas queimando seu rosto, a dor e o arrependimento crescendo dentro de si, e para sua tortura a risada era cada vez mais alta.
Quando tomou coragem de levantar sua cabeça e abrir os olhos, pode ver a imagem de um homem na sua frente, embora não tivesse uma boa visão naquele lugar, percebeu que era uma imagem de um homem alto, forte, bem vestido com seu paletó preto, seu rosto que não conseguia visualizar com clareza, como uma imagem embaçada, ao vê lo seu medo diminuiu um pouco.
-por que choras? -Aquela criatura lhe pergunta com sua voz firme e grave, diferente da risada assustadora de minutos antes.
-Onde estou? Quem é você?
Aquele homem misterioso se aproxima e diz;
-Tenho vários nomes, o mais conhecido é Lúcifer. E onde você esta? Bom, chamam de inferno.
-Então quer dizer que eu morri?
-Não exatamente. Você teve um acidente a poucas horas antes, sua matéria, ou melhor dizendo seu corpo esta agonizando em dor, perdendo sangue, sua vida esta por um fio.
-Então não entendo por que estou aqui, se ainda estou vivo.
-Sua morte é questão de minutos, então, já pode contemplar o seu novo lar.
-E minha família?
-Creio que ficaram bem, e talvez no futuro possa vir pra cá assim como você, e ai a família toda estará reunida. - Novamente aquele misterioso homem começa a dar risada ficando em pé.
-Mas se realmente isso tudo é real por que eu vim para um lugar como esse? Nunca matei, roubei, sempre fui um bom cidadão...
-Mas sempre teve inveja das pessoas a sua volta, magoa pelo seu pai, e nunca foi capaz de libera perdão para quem lhe fez mal.
As lembranças de Eduardo vieram, de quando seu pai chegava bêbado em casa e por razão alguma lhe batia, e muitas das vezes ele batia ainda mais, quando ele implorava para parar. Após anos, quando seu pai estava no leito de morte, Eduardo não foi capaz de perdoa lo, e quando seu pai faleceu, sentiu uma raiva ainda maior por nunca ter vingado a sua infância, e acreditava que o câncer que seu pai teve foi pouco. Devido ao trauma de infância, Eduardo nunca conseguiu ter um bom desenvolvimento profissional, diferente dos seus dois irmãos que se formaram e cresceram profissionalmente, e Eduardo chegou ao pondo de receber ajuda de ambos, e ainda trabalhar para o irmão mais novo. A inveja dos irmãos era tão grande, que desejava que as empresas de seus irmãos fossem a falência, para que os 3 tivessem a mesma qualidade de vida. Essas coisas nunca apareceram ser errada, pelo histórico de família que Eduardo teve, sempre se sentiu vitima, sempre se menosprezou se achando menos do que todos, e agora, ouvindo aquelas palavras daquele homem e suas memorias ressurgindo, percebeu o grande mal, que fez não só pela sua vida, mas, pelas pessoas que estavam a sua volta.
Novamente voltou a chorar compulsivamente, e agora além do cheiro, Eduardo começava a ouvir vozes gritando, vozes de dor, pedindo por misericórdia, pedindo por socorro, implorando para morrer, e outros gritos sem palavras, mas, que transmitiam tremenda agonia e dor. Eduardo então olha para Lúcifer e pergunta;
-Qual é o tipo de tortura que vocês praticam aqui?
Lúcifer com sorriso no rosto responde;
-Ao contrario de que muitos dizem, aqui no inferno sua maior tortura são suas lembranças, você ficara com remorso de tudo que fez, e de tudo que o fez para chegar aqui, isso será eterno, seus sentidos, memorias, sentimentos continuaram o mesmo. E claro, aqui existem regras e quando desobedecidas temos varias maneiras para disciplinar, temos a eternidade inteira para isso.
-E quando isso acaba?
-você não entendeu, ficando aqui, você nunca poderá sair.
-Mas se ainda estou vivo, ainda a esperança.
-De certa forma, mas, se voltar, não se lembrará desse lugar, então continuara com sua vida, cheia amarguras no que trará você a mim novamente, e quando voltar terei um imenso prazer de tortura lo pessoalmente, a escolha é sua!
-Então existe escolha?
-Sim, se você esta aqui, é por que se entregou a morte, e não quer lutar pela sua vida.
Essas palavras foram suficientes para Eduardo fechar os olhos e lutar pela sua vida, queria poder voltar e consertar tudo, "Só mais uma chance, por favor." Uma nova chance ele queria, sabia que a cada manhã é um novo começo para escrever uma nova historia, todos podemos começar a mudança a qualquer momento, cabe a cada um escolher querer que os erros nos acompanhe ou os deixemos para trás.
Eduardo abriu os olhos e viu que estava num quarto de hospital, sua esposa e filha estavam ao seu lado. Ao vê-las sorrindo percebeu o quanto era amado, embora não se lembra se de como foi parar ali.
-Você sofreu um acidente, mas os médicos disseram que vai ficar bem, e pelo estado que chegou ao hospital foi um milagre, mas deve ficar em repolso absoluto e descansar.
A voz emocionada de Susan, cheias de amor e ternura o fizeram ficar com os olhos cheios de lagrimas, com dificuldade se levantou sua mão e passou pelo rosto de sua esposa e filha.
-Eu amo tanto vocês.-Ele disse com voz rouca e fraca.
Mas Susan mostrava se preocupa, e então Eduardo tentou acalma la;
-Eu estou bem meu amor, não tem com que se preocupar.
Susan olha para baixo e disse;
-No acidente você teve varias lesões, e uma delas foi que você esta paralitico e nunca mais voltara a andar...
Eduardo não podia acreditar naquilo, além do seu pai lhe destruir um futuro, ser empregado do próprio irmão mais novo, agora, seria um invalido, o ódio cresceu dentro de si, e amaldiçoou o mundo por ter deixado sobreviver, naquelas circunstancias seria melhor a morte.
A noticia o impactou de tal forma que começou a ter dificuldades para respirar e iniciou uma parada cardio-respiratória, logo médicos e enfermeiras entraram no quarto fazendo de tudo para anima-lo. Eduardo pode se ver fora do corpo, vendo o deitado na cama e os médicos lutando para traze lo a vida, viu sua esposa e filha desesperadas sendo levadas para o corredor. Logo se lembrou e viu Lúcifer ao seu lado e percebeu que uma nova chance lhe teria sido dada, talvez para viver, ou então se arrepender dos seus feitos e do seu egoísmo, e desperdiçou mais uma, entre tantas, logo Eduardo não se viu mais no hospital, e já podia ouvir aqueles gritos novamente, aquela risada sinistra voltou, porém agora, estava amarrado em uma cama, e demônios rasgavam seu corpo com alegria, e logo depois seu corpo regenerava,a dor era insuportável, e novamente lembrou se da chance que perdeu, e que aquilo era apenas o começo da sua eternidade.