Amor, obsessivo amor
Já fazia um pouco mais de um mês que Pedro viajava a negócios ao exterior e já me parecia uma eternidade, o que seria então dez meses longe dele? Nem conseguia imaginar.
Só de pensar que um dia ignorei aquele colegial franzino que persistente tentava loucamente me conquistar. E conseguiu, passei a reparar melhor naquele jeitinho meigo e hoje me pego surpresa como ele me conquistou até demais. Quinze anos depois, o raquítico moleque se transformou em um belo homem, cujos braços me envolvia em seu peito de uma maneira que eu poderia ficar ali por horas a fio. Hoje sou eu que ainda o desejo, aliás, amor verdadeiro é assim, pode se passar cem anos e ainda há de se desejar o parceiro como se fossem os primeiros encontros entre os dois.
Os dias se passavam lentos, e três meses sem Pedro já estava me angustiando. Todo dia como de costume, não via a hora do cair da noite para que eu pudesse desfrutar da sua voz rouca ora roçando no meu ouvido, ora roçando em outro lugar, onde com golpe baixo Pedro me vencia. Era uma tortura maravilhosa.
Minha vontade de ter Pedro de volta era tanta que de vez em quando me obrigava a ir até a casa da minha sogra somente pra ficar observando Bernardinho, o irmão mais novo e também o mais parecido com ele. Meu cunhado coitadinho, de tanta vergonha nem sabia onde se enfiava. Dona Adelaide me olhava estranha, talvez pensasse que eu queria algo com o menino. Às vezes era constrangedor. Muitas vezes engraçado.
Quase cinco meses e as conversas e o sexo pelo telefone já não me convencia mais. Sei que a viagem à Alemanha poderia trazê-lo ainda mais bem-sucedido, porém, por mais que eu torcesse para que conseguisse, minha vontade de querer ele de volta era maior. Se ao menos pudesse dar filhos a Pedro, talvez minha carência e solidão se convertessem em amor de mãe.
Faltava menos de uma semana para completar nove meses sem Pedro quando o inesperado aconteceu, Dona Adelaide veio a falecer. Os médicos ainda não sabiam ao certo o motivo da morte, aparentemente seria parada cardíaca, e mesmo assim passei a delicada noticia e o suposto motivo a Pedro. Naturalmente ele ficou arrasado e não teve escolha, voltaria para o Brasil e perderia a chance da sua vida.
Confesso que estava feliz e não podia por esperar pra tê-lo em meus braços novamente. No aeroporto cheguei duas horas antecipada, e a cada avião que chegava, meu coração já disparava achando ser João Pedro, mas nunca era. No entanto, assim que o sexto pousou e desembarcou, quando menos esperava notei aquele homem elegante vestido com seu terno francês Pierre Cardin vindo em minha direção. Não resisti e fui correndo ao seu encontro, mas antes que eu enchesse Pedro de beijos, percebi que estava cabisbaixo. O calor da emoção me fez esquecer que Dona Adelaide tinha falecido, e era aquele o motivo dele estar de volta. Apenas dei minhas condolências e fomos direto para o funeral.
Após três semanas, Pedro ainda se encontrava triste e devastado, tanta pela súbita morte de sua mãe, quanto por não ter alcançado o que ia concluir a ele um cargo maior. Não se conformou que passou quase um ano no exterior para que no fim não fosse dar em nada, que perdeu a grande oportunidade de se tornar um homem de mais sucesso.
Não imaginava que um período de luto fosse durar tanto, eu estava começando a me sentir mal por ele estar pior ainda. Amava loucamente aquele homem, mas depois dos trágicos fatos ocorridos, não tive mais sua atenção. Nem sequer me queria como conforto! Se eu, Natália Brombini, soubesse que seria daquela maneira, não teria matado minha sogra só pra tê-lo o quanto antes em meus braços. Estraguei tudo entre nós. Agora amarei Pedro somente em pensamentos, pois tenho que arrumar as malas e fugir antes do laudo comprovar que Dona Adelaide fora envenenada. Não tenho estruturas para mentir nas investigações, e muito menos disposta a me entregar.
Leiam "O Colecionador De Flores"
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