O Olho Gordo - I

Ele chegou desanimado, claro que ter que passar todas suas férias em um retiro reformatório não era o que ele tinha em seus planos. Desceu do carro, pegou sua mala de mão e a mochila das costas, disse tchau para os pais, a mãe quase chorando lhe acenou, já o pai com indiferença só mexeu a cabeça.

Foi em direção ao portão, era de uma madeira bem antiga. O porteiro puxou uma conversa.

- Puxa filho, você é tão novinho pra ter vindo pra cá. Vou rezar por você.

- Por quê?

- Filho, todos vão querer botar medo em você, mas isso não é nada comparado ao que aparece por aqui.

- O que é?

- É melhor você não saber, e espero que não encontre com um. Fique em uma cama longe da janela, nem olhe pra ela pela noite.

- Mas por quê?

- Só faça isso filho.

O porteiro foi abrir o portão para um carro que estava saindo de lá, enquanto o carro passou e ele pode ver a figura de um homem totalmente pálido, com os olhos fixos em uma direção e boca aberta. Ele olhou para o porteiro como se estivesse lhe perguntando o que teria acontecido, que só balançou a cabeça como forma de não. Paulo então foi andando rumo aos quartos. Dormitório, uma placa enorme indicava o local. Ele entrou, era um galpão imenso cheio de camas e redes. Em frente, ao lado esquerdo da porta tinha uma janela enorme. Ele ficou parado observando a janela. Dois caras vinham conversando de dentro do quarto.

- Ele foi encontrado do lado de fora daquele mesmo jeito.

- Ele deve ter visto o “Olho”.

- E ele foi o segundo desde que estou aqui. O outro foi encontrado do mesmo jeito.

- Opa, olhe aí.

- Bom dia. – Para Paulo.

- Bom dia, vocês estavam falando daquele cara que saiu no carro? O que aconteceu?

- Bem, não foi nada, temos que ir, tchau.

Eles foram embora e as dúvidas ficaram. Ele procurou uma cama longe da janela, porém as únicas desocupadas estavam perto, ele ficou uns três metros depois da janela. Na cama encontrou um bilhete que dizia “tenha sempre uma pimenta consigo para afastar o Olho Gordo”. Ainda com dúvidas sobre o que acontecia naquele lugar foi procurar onde tinha pimenta. Ele viu uma senhora com óculos escuros e lhe perguntou onde tinha pimenta e ela lhe deu algumas:

- Deixe embaixo do seu travesseiro, se você o ver deve esmagar uma e passar nos olhos.

- O quê? Passar pimenta no meu olho?

- Ou se você preferir ficará como o rapaz que foi embora hoje.

- Mas o que realmente acontece aqui? Que mistério é esse? Ninguém fala!

- Quando chega a noite um ser estranho aparece por essas regiões. Às vezes aqui também. Ele aparece pra observar os humanos, acho que ele tem inveja por não ter corpo como nós. Ele sempre aparece nas janelas, se alguém olhar pra ele ficam paralisados, é a pior sensação pela qual passei.

- Você viu a criatura?

- Sim, mas passei a pimenta há tempo do pior. – Ela tirou os óculos e seu olho esquerdo era totalmente branco, isso o assustou.

Depois nem ela nem ele disseram mais nada. Ele foi embora para o quarto. O dia passou e a noite chegou. Todos já estavam dormindo, ou fingindo dormir, embrulhados até a cabeça. Paulo não resistia e olhava a janela. Nada acontecia, de repente ele viu uma luz vinda de fora, ficou com medo, se cobriu, mas a curiosidade de saber o que era foi maior, ele olhou pra janela, nada de incomum. Levantou e foi até a porta, quando abriu se depara com a luz.