Mundo Paralelo – A Bem ou Mal
 


Nuvens carregadas aparentavam deslizar a poucos metros do chão.  A paisagem campesina, naquela longa e retilínea estrada, entre campos de trigo que se estendiam ao infinito, era algo que se tornava cansativo. Ted dirigia o enorme sedã acelerando ao máximo e um jingle típico do meio-oeste tocava na rádio. O companheiro Mateus tirava uma soneca esticada, pouco se incomodando com o barulho do rádio.
Em pouco, o que era um presságio, confirmou-se. Ao que parecia apenas alguns quilômetros, formou-se um poderoso tornado:
- Mateus, acorda!
O rapaz, pouco afeito a momentos de lucidez, teve um enorme susto ao abrir os olhos e ver a enorme coluna de vento e água diante dos olhos:
- Meu Deus, cara! Sai daqui!
Dando um giro de 360º no veículo, começaram a acelerar na direção oposta.
- Vai! Vai! – Gritava Mateus olhando para trás e estimulando o amigo que, de repente, dá uma brusca freada no veículo lançando-o de costas contra o painel.
- Diabos, cara! Que foi isso?
Boquiaberto, Ted aponta para outro enorme tornado que acabara de se formar adiante. Encurralados entre aquelas duas massas críticas, não tiveram outra alternativa a não ser saltar do automóvel e buscar abrigo em algum ponto dos extensos milharais que circundavam a rodovia.
- Precisamos de um abrigo! – Gritava Ted enquanto pedaços de madeira, de pedras e vários objetos caíam dos céus.
- Não tem nada aqui para abrigar a gente. Vamos morrer! – Jogaram-se ambos ao chão quando um dos tornados se aproximava, tendo o outro devorado o automóvel lançando-o ao alto e além...
Quando Ted acordou, no leito de hospital, todo remendado, perguntou pelo amigo.
Uma enfermeira idosa e negra, com um olhar manso e uma voz pacífica, acalmou-o:
- Não trouxeram mais ninguém. Somente você.
- Mas o meu amigo, Mateus, ele também estava no milharal e o tornado deve tê-lo levado para longe. Precisamos avisar a polícia! Começou a agitar-se, no entanto, estava preso à cama por algemas nos braços e pernas.
- Por que estou assim?
A enfermeira, sem responder, retirou-se rapidamente enquanto dois homens vestindo ternos negros entraram:
- Finalmente, disse um deles, você vai pagar por todos os crimes que cometeu.
Apavorado, Ted não sabia o que dizer.
- Crimes, que crimes?
- Que tal assassinato, sequestro e assalto a banco, para começar?
- Isso é uma loucura, eu nunca fiz mal a ninguém.
Os dois policiais começaram a rir. Um deles ligou o aparelho de TV que exibia um telejornal. Em pouco, Ted viu sua imagem exibida enquanto o jornalista dizia:
- Encontra-se hospitalizado, Ted Cohn, o perigoso maníaco que, finalmente, após uma longa cassada policial, poderá responder por seus crimes. – O policial desliga o vídeo enquanto o rapaz, boquiaberto, não conseguia explicação lógica para o que estava acontecendo...
Longe dali, em um milharal, o verdadeiro Ted Cohn acorda com Mateus dando-lhe tapas no rosto:
- Acorde, cara! Acorde!
Quando abre os olhos, Mateus sorri:
- Nossa, foi incrível o tornado o pegou e o lançou para o alto e muito longe. Felizmente você caiu nesse monte de feno. Que sorte, cara, que sorte...
Nisso, sem entender direito o que ocorrera, apenas que fora sugado por um tornado ao fugir da polícia, o assassino Ted Cohn se vê naquele corpo de um rapaz igual a ele, mas que habitava um Mundo Paralelo inocente que agora, a bem ou mal, seria todo seu...