A Vingança de Brianne

Primeiro dia de aula, a quadra da escola estava lotada: amigos se reencontrando, professores conversando com os pais dos alunos e, isolados, encontravam-se também os novatos. O diretor iria começar o discurso tedioso que repetia todo início de ano, contudo, sua atenção e a dos presentes na quadra se voltaram para uma garota que se aproximava lentamente, adentrando o local com receio.

Seu nome era Brianne, uma adolescente de 15 anos que parecia uma aberração ou uma anomalia genética. Ela era alta, bem magra, vestia trapos, o cabelo era desarrumado, fios negros cobriam-lhe o rosto, deixando de fora apenas um olho profundo que passava a sensação de tristeza. Brianne localizou um espaço vazio nas arquibancadas, sentando-se ao lado de duas garotas com ar de superioridade que não faziam questão de disfarçar a repulsa e o rosto de nojo quando olhavam para ela.

O diretor pôs-se a falar:

-Sejam bem vindos, antes de qualquer coisa eu quero informar a vocês que nós continuaremos este ano, apesar dos problemas que ocorreram nos anos anteriores, com todos aqueles eventos que fazem parte da história da escola e que, no início do mês que vem, faremos um desfile de moda feminino, cujos requisitos de beleza para o ato da inscrição serão divulgados amanhã. –Disse o diretor sendo interrompido por Rebeca, uma das meninas que estava sentada ao lado de Brianne.

-Professor, cuidado para não pegar pesado nesses requisitos, senão a colega aqui não vai poder participar. –Disse Rebeca apontando para Brianne.

Todos começaram a rir, até mesmo o diretor e os professores.

Brianne saiu da quadra correndo e refugiou-se no banheiro, onde caiu em lágrimas. Isso acontecia com frequência, ela saíra de várias escolas pelo mesmo motivo: humilhação.

Os dias se passaram e as coisas só pioravam cada vez mais, por todo lugar que Brianne andava, ela ouvia sorrisinhos abafados e cochichos. Ninguém sequer se importava com ela. Pobre Brianne.

Num dia de aula normal, Brianne adormeceu na sala e alguns garotos, entre eles o filho do diretor, tiraram fotos e fizeram cartazes que foram espalhados por toda a escola no dia seguinte, com os dizeres: “Dragão adormecido, se você não é São Jorge, mantenha distância”. Assim que chegou à escola, ela avistou os cartazes e as pessoas a rodearam, rindo dela mais uma vez.

Brianne já não suportava aquilo: ser o “patinho feio” e a garota humilhada que servia de piada para os outros. Voltou para casa com ódio e prometeu se vingar de todos aqueles que haviam rido dela.

É chegado o dia do desfile.

Brianne chegou à escola um pouco antes de todo mundo, com uma mochila enorme nas costas, que continha uma navalha e algumas garrafas cheias de gasolina. Ela entrou na quadra e tirou da mochila o que havia trazido, derramando, rapidamente, o líquido daquelas garrafas por todo o local. Ouviu um barulho. Vendo que alguém se aproximava, Brianne se apressou em guardar aquelas coisas, deixando em sua mão apenas a navalha. Era o filho do diretor. Ao entrar na quadra, ele viu o piso de madeira todo molhado.

-Nossa, vou correndo chamar a servente para enxugar isso aqui, antes que o pessoal comece a chegar. –Disse ele, suspirando. Ao se virar para sair da quadra, deparou-se com Brianne que, num movimento rápido, cortou a garganta do garoto com a navalha. E que se inicie a vingança.

Passado um tempo, as pessoas começaram a chegar e se acomodaram, aos poucos, nas arquibancadas. Estava muito escuro para verem o chão molhado. Brianne saiu do banheiro –onde tinha estado desde que assassinou o filho do diretor -, ela estava fantástica, com um vestido preto que contrastava bastante com o seu tom de pele. Ela se direcionou até a quadra. Todos a observaram surpresos.

-Rebeca. –Chamou Brianne. –O diretor quer te ver na sala dele agora.

Todos estavam tão perplexos que sequer perceberam que ela estava mentindo, pois o diretor estava na quadra, acabando de ajustar o microfone. Rebeca saiu em direção à sala do diretor, sendo seguida silenciosamente por Brianne. A porta da sala já estava aberta, Rebeca entrou e logo desconfiou das luzes apagadas.

-Ora, não tem ninguém nessa sa... –Foi atingida por um golpe, caindo no chão.

Ao acordar, Rebeca percebeu que estava amarrada numa mesa e que Brianne, a responsável pelo seu desmaio, olhava para ela com um alicate na mão, sorrindo sarcasticamente.

-Até que enfim você acordou, pena que já vai voltar a dormir em breve. –Disse Brianne.

-O que? Do que você está falando, sua vaca? Me tira daqui, não estou achando isso engraçado.

Brianne se jogou em cima de Rebeca, tentando abrir a boca de sua rival, que resistia firme. Após muita luta, Brianne conseguiu imobilizar a garota e arrancou todos os seus dentes com o alicate que tinha em mãos, de um por um. Ela saciava sua sede de vingança cada vez que via Rebeca sofrer e, enquanto esta gritava de dor e se engasgava com seu próprio sangue, Brianne voltava para a quadra. Tinha que terminar o que começara.

O diretor estava falando ao microfone, as pessoas prestavam bastante atenção, todos se encontravam dentro da quadra, concentrados na parte do meio da mesma, quando de repente o diretor falou:

-Filho? Venha até aqui para apresentar a nossa primeira modelo.

As pessoas aplaudiram, mas logo em seguida olharam para os lados procurando o garoto, quando se viraram para trás, viram Brianne, que estava na porta da quadra, segurando, em uma mão, um isqueiro e, na outra, a cabeça do filho do diretor.

-Está procurando seu filho, diretor? –Ela disse jogando a cabeça do garoto para o meio da quadra. –Olha ele aí.

As pessoas gritaram horrorizadas e antes que pudessem fazer alguma coisa, Brianne jogou o isqueiro aceso no chão, espalhando fogo pela trilha de gasolina que havia deixado minutos antes. Apressou-se e trancou a quadra por fora. Começaram a bater na porta tentando sair, enquanto Brianne se divertia ouvindo os gritos desesperados, observando o fogo se alastrar e rindo freneticamente. Ela foi transformada naquele ser frio e vingativo, buscando nada além do que a desgraça de todos aqueles que a fizeram se sentir um lixo. Perdera sua alma pondo fogo na dos outros. Doce vingança.

Lianderson Ferreira
Enviado por Lianderson Ferreira em 17/09/2012
Reeditado em 09/01/2014
Código do texto: T3886362
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