Vermelho

Da janela do meu quarto eu podia ver as primeiras luzes da cidade se acendendo. A luz do dia dava lugar ao escuro da noite. O frio do inverno estava cada vez mais intenso, e a neve cobria as ruas, deixando-as completamente brancas.

A casa onde moro fica em cima da colina. Lugar de pouco acesso, pois na região não se fala de outra coisa a não ser da colina assombrada. Diz-se que em noites de lua crescente espíritos malignos visitam a colina e acabam com a vida de quem estiver por ali.

Mudei-me a pouco mais de duas semanas. Sou uma pessoa um pouco cética e não costumo acreditar em coisas do tipo. Por isso não me assustei ao saber que era a única moradora, da única casa na colina. Muito menos quando soube que ela era assombrada.

A casa era antiga. Fora construída por volta de 1890 e sua decoração era bem rústica. Sentia-me bem em meu novo lar. Era a primeira vez que morava sozinha, e sentia-me orgulhosa por ter um bom emprego para me manter já aos 23 anos.

Nunca tive um namorado ou um relacionamento duradouro, mas esperava que agora que estava bem e morava em uma cidade pacata pudesse encontrar alguém e me apaixonar.

Subi as escadas e fui em direção ao meu quarto. Precisava dar uma reformada na casa, pois tudo rangia ali. Deitei-me na cama e adormeci.

Estava muito frio e meu corpo parecia estar ficando dormente. Já quase não sentia meus pés. Quando abri os olhos deparei-me com a janela aberta e a imensidão branca da neve engolia meu quarto.

Levantei-me e fechei a janela e fiquei pensando como ela foi abrir, já que ela estava trancada desde ontem quando começou a nevar. Virei para ir até o depósito, onde pegaria um pano para secar toda a neve que já derretia no chão do meu quarto. Foi quando percebi as pegadas...

As pegadas iam da janela em direção ao corredor principal. Tinham a forma de pés descalços, com um tamanho delicado, provavelmente 35 ou 36, devia ser uma mulher ou alguém pequeno, não tinha certeza. A única coisa que tinha certeza era de que não estava sozinha em casa.

Talvez alguém estivesse com muito frio, e entrou para se esquentar, pensei, tentando afastar idéias ruins da cabeça. Mas o único problema é que estávamos no segundo andar e não havia possibilidades de alguém escalar até minha janela.

Escutei um barulho quase ensurdecedor vindo do quarto ao lado que fez com que meu coração congelasse. Aos poucos percebi que os móveis estavam sendo arrastados. Mas pareciam ser arrastados com muita força. Coisa que uma pessoa pequena não conseguiria fazer.

Esforcei-me para conseguir movimentar meus pés e fazer com que minhas pernas andassem. O medo havia me paralizado. Lentamente consegui chegar até a porta e olhei no corredor para ver se encontrava alguém. Nada.

O barulho recomeçou. Dessa vez andei rapidamente até o outro cômodo e abri a porta com toda minha força, para assustar quem estivesse ali. Não havia ninguém.

Meu coração batia muito forte e rápido dentro do meu peito, e eu estava amedrontada como nunca na vida. Senti algo quente no meu pescoço, e logo ouvi uma respiração.

Virei-me rapidamente, quando senti algo arrancar meu coração. A última coisa que vi foram aqueles horríveis olhos negros, de onde escorriam lágrimas vermelhas.