NOBRE SENHOR!
A lua brilha na penumbra da noite, envolta entre nuvens nebulosas, frias.
A sombra de uma bengala é refletida na água que burila na correnteza calma do rio.
Quem a segura é um nobre Senhor, que permite seu pensamento seguir o curso do rio que deságua no oceano.
Pigarreia, quebrando o silêncio que o envolve sorrateiramente.
Levanta o chapéu, olha para a lua, puxa uma tragada do charuto que o acompanha desde tenra idade.
Bafeja a fumaça entre mosquitos que vagueiam sobre sua cabeça embranquecida pelo tempo.
Senta numa pedra, e respira profundamente, como a lembrar do seu passado juvenil naquelas paragens.
Envolto em seus pensamentos traga mais uma vez o charuto, que ilumina os seus olhos avermelhados, doentios.
O câncer na garganta faz com que os mesmos saltam das órbitas oculares em progressões severas.
A respiração ofegante denuncia que os órgãos respiratórios já estão afetados.
Respira profundamente, mais uma vez, sentindo seu coração bater descompensado.
Levanta com dificuldade, sentindo as pernas bambas.
Retira o chapéu, com as mãos trêmulas.
Olha mais uma vez para a lua e traga intensamente.
Tossi, pigarreia, estremece!
Leva a mão no peito, e tomba de joelhos em agonia, com o veneno na mão, que ainda em brasa sorri do moribundo.
Naquela noite só a lua testemunha a morte do Nobre Senhor.