Notícias Ruins
Dali de cima a chuva parecia estar mais perto, o vento frio e cortante batia em sua pele e deixava-o arrepiado até por dentro. A cidade por baixo de seus pés não ligava nem um pouco para seus problemas. Ninguém ligava. Ali no alto ele estava sozinho, até mesmo seus pensamentos estavam distantes, ele só conseguia relembrar os acontecimentos das duas últimas semanas. Primeiro foi seu irmão. Envolvido com drogas ele acabou sendo morto por quem alimentava seu vício. Alguns meses de dívida foram o suficiente para 2 tiros a queima roupa em seu rosto. Ele ficou irreconhecível. Foi duro fazer o reconhecimento do corpo, mas ele não poderia deixar sua mãe já idosa passar por isso. A tatuagem de um palhaço macabro em um dos braços foi a prova de que aquele era mesmo seu irmão. Tatuagem que ia e vinha em seus pensamentos, atormentando-o com risadas macabras. Qual seria a graça? Ele não tinha resposta. A vida então pregou mais um peça, 4 dias depois a confirmação do que já esperava, estava com câncer no cérebro, seu estado era terminal, não teria mais do que 1 ano de vida. Preferiu não contar para sua mãe. Ela já estava sofrendo o suficiente, talvez não aguentasse uma notícia daquelas. Ele tentou ser forte e não chorar, mas era impossível. Desabou completamente nessa última semana. Não foi trabalhar e nem atendeu aos vários telefonemas. Queria ficar só. Mas nada naquela cidade permitia que ele ficasse realmente sozinho. Nessa segunda chuvosa resolveu por em ação o que vinha enchendo sua mente desde a última notícia. Iria subir até o terraço de seu prédio de 12 andares. De pés descalços o concreto enrugado gelava suas pernas. O parapeito era relativamente baixo, não fora complicado subir. Centímetros o separavam da queda. Não hesitou. A gravidade fez o seu papel. Foram segundos até seu corpo encontrar o piso da calçada. A morte foi rápida. Décimos de segundos. Nada invadiria seu corpo, nada invadiria sua mente. Agora seus problemas estavam resolvidos.