O senhor da discórdia: Capítulo 5 e 6
Como o prometido, aqui está mais uma, ou melhor, duas partes da minha história. Resolvi postar dois capítulos, já que o 5 é pequeno.
Tenho uma observação a fazer: No capítulo 6, vocês entenderão melhor o título da história. Por que ''O senhor da discórdia''? Leiam e prestem atenção.
Comentem. Obrigado!
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CAPÍTULO 5
Aquela pequena casa cheirava a incenso. E há não ser pelo brilho que entrava da tímida janela aberta, quase não dava pra ver nada no meio de tanta fumaça. Havia um charuto aceso também, o que embaralhava mais as vistas. E o cheiro também era insuportável. Ficar ali por dez minutos era uma árdua tarefa.
Mas o velho que permanecia sentado no meio daquele show de aromas impossíveis de respirar já estava acostumado. E também era um velho quase aleijado. Devia ter mais de noventa anos, e o que se dava pra ver em sua feição era de alguém que durante a juventude fora forte e bonito. Agora era um pedaço de trapo que a vida fazia questão de deixar.
O que ele estava prestes a fazer poderia mudar o rumo de seus planos, e talvez ele não conseguisse realizar sua tão desejada última viagem. Quando aceitara aquela proposta, tinha selado a sua vida. Certamente teria um fim mais do que trágico.
Passara os últimos dias rezando em diversos idiomas e dialetos diferentes. Era só isso o que tinha sobrado de bom de uma vida repleta de grandes viagens e descobertas. Além de ter adquirido uma sabedoria extrema.
Havia conhecido monges sábios durante passagens por países fanaticamente religiosos. Não usara em sua vida o que aprendera, mas sabia que a fonte de ter vivido tanto tempo na mais profunda sombra, era saber tanta coisa a respeito da vida.
Conversara com diversos tipos de deuses em diversas ocasiões e lugares. E mesmo isso sendo nada para muita gente, para ele era a satisfação. O desejo de todo jovem que quer saber os segredos dessa difícil caminhada que é a vida.
Fora uma difícil caminhada até ali, onde estava. Mas agora sabia que estava há poucos momentos de chegar em seu longo destino. Era tarde demais pra reverter agora.
Chinês de origem, nunca havia conhecido a China, até conhecer uma certa pessoa, que grata pelos seus ensinamentos pagou uma viagem de um mês para ele. E agora era hora de recompensar essa pessoa. Mesmo que fosse com um erro.
Foi até o fogão velho e tirou um bule de chá fervendo. Antes de derramar o liquido quente em sua xícara de porcelana, a única que tinha, o telefone tocou. Aquele mesmo telefone que haviam deixado há poucos dias atrás. Disseram que ele ia precisar.
Tremendo, ele foi até o aparelho muito lentamente. Quando atendeu, deixou que a pessoa que ligava desse sua sentença final.
- Já sabe o que fazer?
- Sim. – respondeu o velho.
- Então se prepare. – e desligou.
E ainda tremendo, o velho se ajoelhou e começou rezar.
CAPÍTULO 6
Lá estavam eles novamente na grande biblioteca. Só que agora as luzes estavam acesas e não eram tão fortes, o que deixava o local um pouco sombrio. Sombrio devido pela áurea que aquela casa tinha. Não era um local mal assombrado como muitos filmes e livros de terror por aí. Mas mesmo assim era assustadora.
A forma como o advogado havia entrado espalhafatoso e a forma como dissera estar o aparente testamento, despertou curiosidade em todos. Menos em Artur que permanecia radiante, e até de certo modo surpreso, pelo velho ter deixado um testamento. ‘’O desgraçado sempre me surpreendendo’’, pensara enquanto iam até a biblioteca.
Gabriel se perguntava o porque só poderia ser lido na frente deles. Aí tinha alguma coisa. Como Adriana havia dito mais cedo, digno de Manoel Bastos.
E enquanto esperavam Oliver mexer em alguns papéis na sua maleta, os três pensavam simultaneamente o que poderia ser. ‘’É a coisa mais estranha que eu já vi na minha vida’’, dissera Oliver. ‘’Bem, ele é jovem, não pode ter visto tanta coisa assim’’, pensara Adriana. Mesmo assim era curioso. ‘’Meu Deus, o que poderia ser?’’.
Oliver enfim sacou um envelope da maleta e o depositou sobre a mesa, enquanto os irmãos se entreolhavam curiosos. Artur sempre com aquele sorriso esboçado. O advogado mexeu nos bolsos e tirou um cigarro.
- Você não vai fumar aqui, vai? – perguntou Adriana.
Oliver olhou pra ela, mas Artur interveio.
- Ah, o que tem de mal? Vamos lá amigo, me dê um.
O advogado pegou um cigarro e entregou para Artur. Em seguida emprestou o isqueiro.
Gabriel estava babando.
- Também quero um. – enfim disse se rendendo.
- Deus. – murmurou Adriana se afastando dos três.
- Você é a única que estraga tudo. – disse Artur soltando uma baforada de fumaça. – Qual é minha irmã? Pita um.
Ela o xingou com o olhar.
- Não fala assim, Artur. – interveio Gabriel.
- Deixem o Oliver falar, pelo amor de Deus?
Os dois assentiram. Foi uma deixa para Oliver começar.
- Bem, antes de revelar, eu tenho uma coisa pra dizer. – disse depois de soltar uma grande quantidade de fumaça. Aquele lugar tava parecendo um ritual de macumba com tanta fumaça. Adriana estava quase engasgando. – Eu não sou o advogado oficial de Manoel Bastos. O advogado real dele está viajando e não pode vir a tempo.
- Mesmo assim. Testamentos não saem tão rápido assim. – indagou Adriana quase sufocando.
- Não interrompa. Quero ver quanto ele deixou de dinheiro pra mim. – disse Artur.
Oliver olhou bem para os três antes de continuar.
- O que é mais interessante é que esse não é um testamento comum. Na verdade não é um testamento.
Os três fecharam suas expressões.
- O que é então? – perguntou Gabriel. Em seguida deu mais uma tragada no seu cigarro.
O advogado pensou bem antes de falar.
- É uma caça ao tesouro.
Almir e Ézio estavam na sala tomando mais um drink e nervosos por terem ficado de fora do testamento.
- Eu não acredito que o desgraçado do Manoel vai deixar seus bens só para os filhos. – resmungava Almir sempre com sua voz arrogante.
- Você é o que tem menos direito aqui. Eles são filhos, claro que sua riqueza vai toda para eles.
Almir ficou quieto e deu um pequeno gole em seu uísque.
- Sabe Ézio, aquele rapaz me dá arrepios. – disse abaixando a voz e olhando para o vazio.
- O mordomo? Ele é um escravo, isso sim.
Almir olhou para Ézio.
- Você o conhece?
- Pelas poucas vezes que eu vim até aqui deu pra perceber que ele fazia tudo o que Manoel mandava.
Almir riu.
- Mas eu digo, porque ele anda por aí, silencioso. Quando você menos espera se depara com ele.
- Ele é uma sombra.
Almir gostou da afirmação e os dois gargalharam durante um bom tempo.
Até se darem conta que Silva estava parado ali o tempo todo.
- Uma caça ao tesouro? – Adriana estava abismada.
- Desgraçado. – sussurrou Gabriel. Ele precisa daquele dinheiro mais do que ninguém. E precisa desesperadamente. Se demorasse talvez mais dois dias certamente estaria morto. Morto de verdade, digno a velório e enterro.
O silêncio tomou conta da sala. A voz de Oliver saiu grave em seguida.
- Pelo que eu disse, na minha tenra carreira de advogado, nunca vi algo assim.
- Mas ele não pode. Pode? – perguntou Adriana.
- Claro que pode, o dinheiro é dele. – interrompeu Artur. – Diga aí o que a gente tem que fazer.
- Você não está pensando em cair no joguinho dele, está? – Adriana odiava as atitudes de Artur.
Ele riu.
- Que isso irmã? O velho é assim mesmo, ele gosta de brincar.
- Eu iria atrás do dinheiro. – murmurou Gabriel.
Ela o fulminou com o olhar e ele balançou os ombros.
- Eu preciso do dinheiro. – se defendeu com um certo tom infantil.
O advogado queria falar.
- Como Adriana disse, ele não poderia. Mas se trata de Manoel Bastos. – disse o advogado nervoso.
- Ele pode tudo. Até...
- Não fica lembrando disso agora Adriana. – interrompeu Gabriel.
- E aí? Como vai ser? – perguntou Artur batendo as mãos.
Oliver pensou um pouco antes de falar.
- Segundo diz, ele vendeu todos os seus hospitais e aparentemente os comprovantes de venda vão estar nesse lugar. Além de uma maleta com milhões de reais e mais coisas que ele não detalhou.
Todos estavam perplexos.
- Não acredito que ele possa ter sido capaz de maquinar uma coisa dessas. – murmurou Adriana abismada.
- Meu amigo, eu não quero saber quanto tem. Isso a gente vê depois. Me diga como eu chego a esse tesouro. – disse Artur.
Oliver deu mais uma tragada no seu cigarro e soltou a fumaça antes de falar.
- Bem, pelas normas...
- Não queremos saber de normas. Queremos? – interrompeu Artur.
- Pelas normas, - continuou Oliver aumentando a voz – ele não poderia fazer uma coisa dessas. Mas como eu disse, estamos falando de Manoel Bastos. Então, não sei como, ele driblou a lei. Vai ter que ser do jeito dele.
Artur sorria radiante, enquanto Gabriel silencioso só prestava atenção no que o advogado falava. Ele precisava muito do dinheiro. Teria sido melhor se ele viesse de forma mais fácil.
Oliver pegou o envelope e tirou uma espécie de carta de lá. O papel estava dobrado e um tanto quanto amassado. Ou dava a impressão naquele leve escuro.
Abriu o papel e mostrou para os três.
- É a letra dele. – afirmou Gabriel firmando os olhos pra enxergar melhor.
- Deixa eu ver. – Artur arrancou o papel das mãos de Oliver e também firmou a vista para ler. Oliver não estava gostando nada dele.
Puxou o papel de suas mãos.
- Então como bem veem, é a letra dele. – disse guardando o papel no envelope novamente.
- E a assinatura também. – murmurou Adriana.
- Sim. E segundo ele diz, vai dar uma pista. Se chegarem a essa pista, vão descobrindo as outras.
- Quantas são? – perguntou Gabriel.
- Isso vocês descobrem. – respondeu Oliver secamente.
- Vocês não vão fazer isso! – exclamou Adriana enfim se engasgando com a fumaça, mesmo tendo menos agora.
- E qual é a primeira pista? – perguntou Artur ignorando sua irmã.
Oliver analisou cada rosto estudando suas feições, ora surpresas, ora assustadas. Bem sabia que eles iriam atrás do dinheiro. Poderiam relutar no começo mas era uma quantidade incrível. Certamente não deixariam escapar assim. Tinha que ser cuidadoso com as palavras para que não desconfiassem dele.
- Façam uma visita a um velho. – enfim disse.
Sua frase ficou pulsando na atmosfera pesada da biblioteca enquanto rostos pensavam em quem poderia ser. Só a moça que permanecia impaciente pela proeza do pai mesmo morto.
- Um velho? Que velho? Tem tantos velhos por aí. – se perguntou Artur pensativo.
- Bem, é só isso. No final ele diz que quem encontrar resolve o que faz. Se quiser dividir o dinheiro é seu. Mas ele aconselha a não dividir. – foi a última frase de Oliver, que pegou sua maleta e se encaminhou para a porta.
Antes de sair ele deu uma última olhada nos rostos curiosos ali naquele breve escuro. ‘’Caíram direitinho’’, pensou saindo pela porta e sorrindo.
Atravessando o labirinto que era aquela mansão, ele se sentia satisfeito por tudo ter saído perfeitamente. A desculpa de que se tratava de Manoel Bastos, e ele pode tudo, caíra como uma luva. E o melhor é que eles acreditaram.
Agora estavam lá pensando quem poderia ser o velho. Certamente que descobririam, era uma pista fácil. Se olhassem melhor pela casa achariam uma coisa que os levariam até ele. Contudo que não estivesse bem escondida, tudo correria bem.
Adriana parecia a mais abismada com o falso testamento. Ela parecia ser forte e ter a cabeça boa. Mas ela acabaria por ir, as consequências pediam assim. É só uma questão de tempo.
‘’E aquele verme do Artur com certeza vai ser o primeiro’’, pensou já descendo a enorme escada em espiral que terminava na sala. ‘’Ele é um interesseiro. Já o outro parece precisar do dinheiro.’’
Não. Adriana não escaparia.
Almir e Ézio estavam na sala conversando quando o advogado apareceu. Se viraram imediatamente para ele.
- E então meu caro advogado, do que se trata o testamento? – perguntou Almir com a voz esperançosa.
Oliver deu de ombros e se encaminhou para a porta.
- Ei, não me deixe falando sozinho. Aonde vai?
- Vou embora. Tenho algumas coisas pra resolver. – agora ele era totalmente frio, diferente do homem que entrara alguns minutos atrás.
- Vamos lá, diga pra gente. Só pra gente. – agora era Ézio que implorava.
- Não vou dizer. É a vontade de Manoel Bastos. Tem que ser feita do jeito que ele pediu.
Almir se levantou e foi até o advogado. Ézio foi em seguida.
- Escute. – disse Almir segurando no ombro de Oliver. – Eu tenho muito dinheiro. Se você me contar, vai levar uma bolada considerável.
- Eu não quero bolada. – se defendeu com a voz áspera. – Trabalho honestamente e faço a vontade dos meus clientes. Se quiser saber do que se trata, tente chantagear um dos filhos dele. Eles sabem muita coisa.
- Sabem? – perguntou Ézio. – O que eles sabem?
‘’Droga! Que bola fora’’, pensou se livrando da mão de Almir.
- Eles sabem que Manoel tem muito dinheiro. E mais algumas coisas. – tentou consertar não sendo convincente.
Ézio assumiu uma expressão de dúvida.
- Me parece que você deixou escapar uma coisa que não poderia advogado. – disse Ézio estudando o rosto do homem.
- Eu não tenho nada o que conversar com vocês. – enfim disse abrindo a porta e saindo.
Quando atravessava o jardim para ir embora não se incomodou com a petulância dos velhos. Eles logo seriam tirados do jogo.
Almir conversava com Ézio.
- E então?
Ézio sorriu satisfatório.
- Artur vai nos contar.
E deu mais uma bebericada no seu uísque.
Os três ainda estavam na biblioteca conversando atônitos. Artur era o mais pensativo, por incrível que pareça. O testamento ainda repercutia na cabeça de Adriana, e ela sabia que não cairia no joguinho do seu pai. Sempre soubera que ele jamais deixaria de aprontar, mesmo estando morto.
Artur falava consigo mesmo.
- Velho...velho...que velho pode ser?
- Você não está pensando em fazer a vontade dele, está? – explodiu Adriana que até agora permanecera calada.
- Qual o problema? – perguntou Gabriel. – Eu vou. Preciso de dinheiro.
Ela abanou a cabeça não acreditando nos seus irmãos.
- Se quer dinheiro, eu te empresto, Gabriel. De quanto precisa?
- Você não está entendo irmã, se trata de muito dinheiro. – argumentou Gabriel.
- E se trata de Manoel Bastos. – completou Artur. – Sabe quanto dinheiro ele possui. Vou sair e pensar um pouco. Talvez eu descubra.
Adriana se pôs a frente dele, e Artur a tirou com um empurrão que quase a derrubou. Gabriel quis partir pra cima dele mas se conteve. Não era hora de brigas.
- Se você não quiser brincar um pouco, eu quero. – disse Artur se encaminhando para a porta.
- Não vê que mesmo morto ele quer provocar a discórdia entre a gente? – Adriana estava quase a beira das lágrimas.
Artur riu.
- Ótimo então, vamos chama-lo de... – fez uma breve pausa para dar ênfase em sua frase. – O senhor da discórdia. É um bom nome para o desgraçado. O que acham?
- Acho que você é um completo idiota. – murmurou Gabriel.
Artur foi até a porta e antes de sair disse mais uma coisa.
- Então venham ser idiotas comigo. E sairão milionários.
Em seguida saiu deixando Adriana e Gabriel sozinhos. Ela estava choramingando.
- Me prometa que você não vai ser idiota igual ao Artur?
- Eu não posso te prometer isso. Já disse que preciso do dinheiro.
- E você não vai me contar porque precisa tanto assim? – implorou Adriana.
Gabriel deu de ombros e suspirou.
- Acho que posso chegar até lá.
- Vocês são uns inconsequentes. – esbravejou Adriana. – Não medem a dignidade de vocês. Ele quer que a gente entre nessa e assim ele espera gerar uma briga.
- Ele espera? Ele está morto.
Adriana suspirou e se rendeu. Não convenceria seu irmão mais novo a não cair no joguinho de seu pai. ‘’Manoel Bastos, eu te odeio’’, pensou enquanto Gabriel também se encaminhava para a porta.
- Se você vier comigo poderemos descobrir antes de Artur. – ofertou Gabriel.
- Vai se ferrar. Espero que se arrependem do que estão fazendo.
Gabriel a ignorou e saiu. ‘’Por que ele tinha que dificultar tudo?’’, pensava enquanto descia a escada.
Ele fora embora daquela casa junto com Adriana, depois de terem presenciado uma coisa horrível. E numa dessas vezes evitou sua irmã de matar o seu pai. Ela o odiava mais do que ninguém. Talvez por isso não ia se render a sua vontade.
Ainda se lembrava de como sua irmã o defendia nas ruas e sempre o livrara de brigas. Gabriel crescera franzino e encrenqueiro. Sempre conseguia arranjar alguma briga. E sempre apanhava, até sua irmã chegar e acabar com tudo. Ela sempre fora sua defensora ao invés de ser aquela irmã mais velha e chata.
Numa dessas brigas, ela batera tanto em um moleque a ponto de faze-lo desmaiar. Mesmo ela sempre limpando sua barra, Gabriel não gostava de suas atitudes. Tinha a fama de fracote, que precisava da irmãzinha para se defender.
- Ela faz porque quer. – dizia enquanto zombavam dele.
- Então a mande parar.
Não podia. Se mandasse ela parar de o defender, ele morreria de tanto apanhar.
Gabriel queria fazer a vontade dela e não ir atrás daquele dinheiro. Mas a necessidade falava mais alto.
Só que ele não sabia que jamais precisaria do dinheiro.
Adriana estava sozinha na escuridão da biblioteca, afundada na cadeira e pensativa. Pensava não só nos últimos acontecimentos. A morte repentina de seu pai, de forma assustadora. O retorno á aquela casa maldita. O reencontro com Gabriel, e os problemas que ele não quis revelar. O reencontro com Artur. As perguntas do detetive. O testamento, a atitude dos irmãos em seguida. Tudo era um borrão em sua cabeça que passava mil vezes deixando-a amuada e sem reação.
Queria voltar logo pra casa. Voltar a escalar montanhas, desvendar a vida selvagem do planeta como sempre fizera. Sentia saudade de acampar no meio do mato, ouvindo barulhos de onças, tigres, passarinhos das mais estranhas espécies. Os grilos insistentes e os pernilongos com sede de sangue. Queria sair dali e viver tudo isso novamente.
Sua cabeça pesava uma tonelada de preocupações e lembranças negativas. Tinha que desenterrar esse fantasma do seu passado, para enfim viver tranquila. Por que seu pai tinha que fazer uma coisa dessas? Não seria mais fácil não deixar nada para eles? Uma caça ao tesouro? ‘’Muito criativo Dr. Bastos’’, pensou se levantando.
Sentiu saudades dos seus amigos. De Ana, a ruiva destemida e extrovertida, que sempre aparecia com homens diferentes. A Ana daquele sorriso branquinho e cheio de dentes. A Ana que sempre dava bons conselhos, que sempre quisera saber do seu passado. Sentiu saudades de Marcela. A morena de corpo escultural, que adorava sair toda noite e misturar bebidas. Isso sempre acabava mal. Sentiu saudades de Otávio, Matheus, Jana. E finalmente sentiu saudades de Fabrício, o seu marido, o qual tinham uma filha de três anos chamada Alice. O nome de sua mãe. Queria se jogar nos braços de Fabrício e contar todas suas preocupações, tristezas e alegrias. Queria abraçar sua filha e beija-la na testa como sempre fazia. Depois queria acariciar seus cabelos loiros e lisos, cheirosos e brilhantes. Resolver parar de pensar.
Começou andar pela imensa e escura biblioteca. Era uma formiga no meio daquelas estantes que se erguiam imponentes cheias de livros dos mais diferentes tipos. Ela tirou o primeiro que chamou sua atenção. Era um livro de capa dura e extremamente grande. Tinha a capa vermelha e o seu título era ‘’Como jogar os mais diversos jogos’’. Um livro que seu pai certamente adorava ler. Talvez tivesse tirado dali a má ideia que tivera ao escrever o testamento. Não dava pra ler muito bem devido a escuridão do local. Ela devolveu o livro em seu lugar e continuou caminhando. Livros grandes, pequenos, finos, grossos, verdes, azuis, passavam a sua vista.
Foi então que sentiu um arrepio tremendo e resolveu sair dali logo.
Quando chegou a sala, Almir e Ézio estavam atrás de Artur, implorando para que ele dissesse o que era o testamento. Mas ele com sua velha arrogância os ignorava e soltava sonoras gargalhadas.
Silva estava parado sempre no seu canto, ao lado da entrada que dava na cozinha. Ele observava tudo silenciosamente, e Adriana pensou ter visto ele dar um leve sorriso.
Em seguida Artur saiu da casa e os dois velhos foram no seu encalce, ainda curiosos em saber sobre o testamento.
Adriana ficou sozinha ali na sala e se lembrou que tinha mais uma coisa pra falar com Gabriel. Saiu procurando por ele em todos os cantos daquele labirinto. Abriu portas, chamou, e enfim ficou ofegante.
Gabriel havia sumido.
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Bem, aí está. Se estão gostando, postarei a continuação, se tudo der certo, quinta(30/08).
E também quero falar que a história está planejada em 20 capítulos, ou seja, tem muita água pra rolar. Não parem de acompanhar.
Agradeço pela força que vocês vem me dando.
Obrigado e até quinta!