O senhor da discórdia: Capítulo 2

Aqui está uma breve continuação da minha história. Aqui aparecerão os personagens que ''farão a história acontecer''. E quem ler, sempre criticas sinceras. É para o meu bem. Então vamos lá, chega de enrolar.

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CAPÍTULO 2

A manhã estava completamente cinza e sombria. Parecia que o clima também contribua para deixar aquele dia mais estranho do que de costume. As pessoas saiam as ruas e choravam, clamando por justiça. Repórteres saiam a caçada de noticias e se davam ao luxo de inventar algumas.

Garoava e fazia um leve frio. E lá fora da grande mansão, uma figura totalmente estranha estava estática. Com as mãos cruzadas para frente como sinal de cortesia. Ele era totalmente pálido e seus olhos eram roxos e fundos, envoltos por olheiras gigantes. Quem o via nas ruas não conseguia evitar um sobressalto ao ver tal pessoa. Ele era silencioso e se esgueirava pelos cantos sem ninguém perceber a sua presença. Sua estatura era totalmente torta, corcunda e magricelo. A pessoa perfeita para um filme de terror.

Ele esperava a última pessoa a entrar na mansão. Todos já estavam lá dentro, conversando euforicamente. Mal sabiam o que estava pra acontecer.

Despertou do seu pensamento quando um carro estacionou frente a mansão. De lá, desceu a pessoa mais graciosa que ele já vira em sua vida. Ela era esbelta e seus cabelos loiros escorriam por sua costa. O seu corpo era perfeitamente esculpido e sarado, seu rosto angelical. Ela mostrava uma expressão determinada e nada triste.

Adriana, a filha do meio de Manoel, desceu do carro e encarou a mansão que se erguia a sua frente. Ali ela tinha presenciado as coisas mais terríveis que uma criança poderia ver. E pior do que ver, ela viveu e sentiu ao mesmo tempo. Depois de vários anos vivendo em paz, ela estava de volta. Foi então que percebeu a figura estática que a estava esperando.

- Adriana Bastos? – raspou Silva, o mordomo de Manoel Bastos.

- Sim, eu mesma. – Adriana sentiu um arrepio quando Silva falou. Sua voz era totalmente sombria e ele parecia articular alguma coisa.

- A mansão está aberta. – abriu os braços em direção a casa em menção de cortesia.

- Obrigada. – agradeceu Adriana passando por ele e em seguida pelo imenso portão de metal que cercava a mansão. – Aliás, quem é você?

Silva olhou pra ela e esboçou um sorriso completamente amarelo e assustador.

- Sou alguém que você não precisa conhecer.

Ainda assustada com a figura que a recebeu, Adriana cruzou o imenso jardim descuidado e sem cor. Desde que acontecera a tragédia, aquela casa havia perdido a cor e a harmonia. Ela sentiu que suas pernas iriam travar e não conseguiria chegar até a porta. Um vendaval de imagens começou rondar sua cabeça e achou que ia desmaiar. Veio a imagem do escritório do seu pai e do porão. Talvez a lembrança mais forte que ela tivesse, e sem perceber ela gritou no meio do jardim. Não foi um grito alto, se alguém tivesse ouvido diriam que foi mais um gemido.

Foi então que ela se arrependeu de ter voltado á aquela casa. Ela sabia que não lhe traria boas memórias, mas se sentiu forçada, como se seu corpo tivesse vida própria. Ela perdera o controle de si mesma.

Chegou até a porta e pensou antes de entrar. Sabia que ali dentro as lembranças seriam mais fortes, talvez nem conseguisse ficar de pé. Ela não estava se reconhecendo, aquela não era a Adriana destemida e aventureira. Ela estava deixando o seu passado aflorar e isso a enfraquecia. Resolveu entrar.

Foi a pior escolha da sua vida.

Ao avistar a casa por dentro, chorou descontrolavelmente. A começar pela gigantesca sala, repleta de iguarias aparentemente raras e sofás de couro, a casa era um labirinto. No extremo esquerdo da sala havia uma escada em espiral. E ao redor da sala, diversas entradas que levavam a diversos lugares. Mas ali, debaixo da escada, havia uma pequena porta que atraiu o olhar fixo de Adriana.

Controlando o choro, ela se encaminhou para a cozinha.

Ele estava de costas, mas pelo seu cabelo igual ao de um anjo, era impossível não reconhecer.

- Gabriel!

Ele se virou e encarou a sua irmã antes de se unirem num forte abraço fraternal. Unidos pela dor do passado, eles remoeram suas lembranças enquanto se abraçavam. Assim ficaram durante um bom tempo, e Adriana até arriscou deixar cair umas lágrimas.

Gabriel era o seu irmão mais novo e estava perto dos trinta anos. Era muito parecido com a irmã, e quem não os conhecesse poderia jurar que eram gêmeos. Mas a expressão de Gabriel estava desgastada e ele estava aparentemente muito abaixo do peso. Além de estar vestindo calças rasgadas e sujas. E sua camisa larga também despertou a atenção de Adriana.

- Por onde tem andado, Gabriel? – perguntou Adriana com aparente preocupação de mãe.

- Sabe, andando por aí, trabalhando, fazendo bicos. Eu não paro em nenhum lugar. – Gabriel tinha a voz suave mas ao mesmo tempo firme. Mas ela sabia que ali tinha um pouco de mentira.

- Eu não sei se você está trabalhando. Deixei de acreditar em você desde a última vez que nos vimos.

Ele deu de ombros e se virou para evitar que Adriana lesse a mentira em seus olhos.

- Você não parou de usar drogas, não é Gabriel? – ele permaneceu silencioso enquanto Adriana observava o estado de suas roupas. – Olha só pra você. Está totalmente rasgado e sujo...

- Tá, eu sei. – interrompeu Gabriel se virando e demonstrando uma expressão de culpa. – Eu já tentei minha irmã. Mas acho que sou fraco, sabe? Não sou como você...

- Não precisa ser como eu. – Ela confiava que poderia convencer seu irmão ali, naquele momento. Então não poderia deixar a oportunidade escapar. – Você tem que confiar em você e pôr na cabeça que não vai usar mais.

A voz de Adriana havia assumido um tom totalmente preocupado. Gabriel tinha mais coisas pra dizer, mas não tinha coragem. Essa qualidade havia fugido dele quando ainda era criança, enquanto morava naquela mansão.

- Você tem que prometer que vai parar.

- Tem mais coisa Adriana. – começou com o tom de voz baixo. – Eu não só uso, eu...vendo também. Eu...

- Você tá louco? Entrando no mundo do tráfico assim, tão jovem e bonito. Você tem um futuro pela frente, um futuro lindo...

- Adriana...

- Me ouça. – sua voz havia se alterado e ela achou melhor baixar o tom, antes que alguém ouvisse. Aquela tinha que ser uma conversa particular. – Depois que nós formos embora daqui, você vai comigo. Você tem que prometer que vai comigo.

Claro que era uma oferta irrecusável, mas Gabriel tinha alguns detalhes pendentes pra resolver. Não poderia abandonar a vida que levava assim, de uma vez. Ele queria contar tudo para Adriana, mas talvez não tivesse coragem o suficiente. Sua irmã era uma pessoa totalmente generosa e o amava, não deixaria que ele continuasse naquela vida. ‘’Ah, se ela soubesse o que se passa comigo’’, pensou Gabriel esquivando o olhar, tentando disfarçar a angústia que o invadia.

Se Fred estivesse ali certamente já teria contado tudo pra ela. Ele era uma pessoa burra e não media consequências. Gabriel sentiu-se aliviado por ele não estar. Ele havia ficado na Bolívia, tentando segurar a barra, enquanto Gabriel esperava o testamento do pai, se é que houvesse um testamento. Se dependesse do velho, morreria de fome.

Sentiu-se culpado por ter deixado o amigo sozinho. Se alguma coisa acontecesse ele não se perdoaria. Queria pegar o dinheiro logo e partir. Resolver aquele problema era o seu principal objetivo, por isso não podia aceitar a proposta da irmã, que permanecia impaciente pela sua situação.

- Eu não posso Adriana.

Ela soltou um suspiro de desaprovação, percebeu que não o convenceria.

- Por que não? É uma ajuda.

- Eu tenho algumas coisas pra resolver na Bolívia, e isso envolve muito dinheiro. Não posso sumir assim, estaria cavando a minha própria cova.

- Então a coisa é grave? – ela estava quase explodindo. – No que você foi se meter, Gabriel?

Ele não saberia como explicar. Essa era uma pergunta que ficaria pendente pra sempre, pois ele nunca iria conseguir responder.

- Eu não quero falar mais disso. – indagou tentando mudar o rumo da conversa. – Nosso pai morreu. Até agora eu estou sem entender.

Adriana assentiu.

- Eu também. Foi tudo tão de repente. Digno de Manoel Bastos. – disse com certo constrangimento na voz. – Chego a ter pena ás vezes.

- Pena? Mesmo com tudo o que você viu aquele dia...

- Aquele dia está no passado. – interrompeu Adriana bruscamente. – Não gosto de me lembrar. Mas admito que tenho pesadelos com isso até hoje.

‘’E não era pra ter?’’, pensou Adriana relembrando cada detalhe do que tinha visto. Foi então que se lembrou do que tinha passado ao cruzar o jardim da mansão. Estava pensando na mesma coisa.

- Quase que eu não consigo entrar nessa casa hoje. – murmurou Adriana impaciente com o novo rumo da conversa. Talvez fosse o poder negativo que aquele lugar exercia sobre ela. Até a temperatura era mais fria, além das cores serem inexistentes.

- Viu quem está aí? – perguntou Gabriel vendo que sua irmã estava a ponto de chorar novamente.

Ela balançou a cabeça em sinal de não.

- Almir Bastos. Se lembra dele?

Claro que se lembrava. Ele era o irmão mais velho de seu pai. Tinha o visto poucas vezes enquanto ainda morava ali, mas nunca teve o contato necessário para descobrir o tipo de pessoa que era. Talvez nem soubesse como era a sua voz. Desejou que ele não fosse como seu pai.

- E você acha que eles vieram só porque gostavam do papai? – perguntou Adriana desconfiada.

Gabriel riu.

- Isso eu não sei dizer. Mas talvez o outro que está ali sim. O cheiro de dinheiro o atrai.

- De quem está falando?

- Ézio Rodolfo, o ordinário, como já ouvi chamarem ele.

Adriana não o conhecia, mas aquele nome não era tão estranho. Se fosse da mesma laia de seu pai, ela queria passar longe. Até da sombra dele. Começou articular uma pergunta mas foi interrompida por uma voz grave, que entrava na cozinha.

- Ora, ora, vejam só, meus dois irmãozinhos lindos. – olhou para Gabriel e reformulou sua frase. – Minha irmãzinha linda.

- E claro, ele também veio. – disse Gabriel em tom desanimado.

Ele era Artur Bastos, o irmão mais velho. Já beirava os quarenta anos, mas não aparentava ter metade da sua idade. A única coisa que podia entregar eram os raros fios grisalhos, que ele não fazia questão de esconder. A não ser por isso, seu corpo era malhado e fazia inveja ao mais dedicado atleta.

A sua personalidade muitas vezes era escondida, perante algumas pessoas, mas quem o conhecia bem sabia da sua forma de ser. ‘’A arrogância vem em primeiro lugar’’, pensava enquanto se olhava no espelho e refletia na sorte que tivera. Ele era rico, ou melhor, milionário. Sem se dar ao luxo de derramar uma gota de suor.

Casara-se com uma mulher vinte anos mais velha, filha de um turco, dono de uma empresa de carros de luxo. Da noite pro dia estava com a vida ganha. E não se incomodava pela mulher ser velha e não poder o satisfazer na cama. ‘’Pra que existe traição?’’, pensava enquanto transava com meninas que tinham a metade da sua idade. ‘’Simplesmente para trair’’.

E infelizmente, Adriana e Gabriel tinham ele como irmão.

- Sobre o que estão conversando? Em como vão gastar o dinheiro do velho? – seu tom era arrogante e sua fala articulada.

- Seu covarde! – explodiu Adriana indo pra cima dele e o enchendo de tapas em todos os lugares do seu corpo. – Você é um covarde. Um..

- Ei, ei, calma. – disse Artur segurando os braços da irmã, que já tinha os olhos vermelhos de lágrimas. – Que recepção é essa? Pensei que gostariam de me ver.

- Você é um idiota, Artur. – murmurou Gabriel com os dentes cerrados.

A raiva que invadia Adriana e Gabriel era a mesma. Os dois tinham vontade de matar o seu irmão.

- Por que você fez aquilo com a gente, Artur? – Adriana estava chorando e aparentemente tinha desistido de bater no irmão.

- Porque ele é um covarde, como você já disse.

Artur encarou Gabriel mas deu de ombros. Ele tinha um showzinho pra fazer perante os irmãos.

- Eu não tenho culpa se quis ir embora. Pra falar a verdade, eu não aguentava mais presenciar aquelas coisas. – foi então que assumiu um tom triste pela primeira vez. – Eu sonho com isso até hoje. Mesmo que com o tempo eu consegui diminuir a dor aproveitando a vida.

- Como assim? – perguntou Adriana totalmente sem entender do que ele estava falando.

Artur riu.

- Eu olho as coisas pelo lado bom, maninhos. Olhem bem, se eu não tivesse saído de casa, não seria milionário hoje. – o seu show tinha começado. – Porque simplesmente, eu não conheceria minha mulher e consequentemente não conheceria meu querido e rico sogro. Ou seja, eu passei todo esse tempo como rei. E o melhor, sem me levantar na minha confortável poltrona. Ganhada, claro.

A expressão de Adriana e Gabriel era de incredualidade. A forma como Artur parecia com o seu pai era incrível. Foi então que Adriana percebeu que o pior tinha acontecido.

- Você é igual a ele. – sussurrou querendo explodir novamente.

- Não, eu não sou igual. Sou melhor.

Gabriel tentou tirar um pouco a tensão soltando uma sonora gargalhada, que surpreendeu até sua irmã.

- Melhor? Tá bom.

- O que foi Gabriel. – perguntou Adriana querendo deixar aquele lugar e pensar um pouco.

- Não precisa fazer muita coisa pra ser melhor que o papai.

Artur gostou da afirmação do irmão.

- Sou obrigado a concordar com você esfarrapado. – a expressão de Gabriel se fechou depois de Artur o ter chamado assim. – Mas digo que sou melhor do que ele simplesmente por uma coisa.

Adriana estava em dúvida.

- O que é?

- Eu não sou um assassino.

Silva passou pela sala da mesma forma como sempre passara. Nas sombras. Mas não evitou que Almir Bastos, um velho aparentemente arrogante e acabado o visse.

- Ei, garçom. Vem aqui. – sua voz era de descaso e quase não dava pra ouvir, pois era completamente rouca.

Do seu lado estava Ézio, um homem baixo e rabujento que suava facilmente. Além de ter o cabelo branco e desgrenhado, parecendo ser um louco que fugiu do hospício. Ele era amigo intimo de Manoel, e esse era o único que gostava dele. Ézio era totalmente insociável.

- Garçom? – a voz de Silva era um sussurro. Almir sentiu arrepios.

- É...deixa pra lá. Eu vou até a cozinha buscar uma bebida. Estou com muita sede.

Silva virou as costas e saiu dali sem olhar pra trás novamente. Foi até o seu quarto, que ficava fora da casa, e sentou-se na cama. Estava pensando nas pessoas que faltaram para o grande show e sentiu-se triste pelo time estar incompleto. Ainda faltava a irmã de Manoel, além de seu marido e filha.

Pensou em Adriana. A imagem do seu pescoço branco veio em sua mente e o encheu de tesão. Seu cabelo brilhante descendo por sua costa frágil e seus olhos azuis e penetrantes, cheios de vida. Sua boca atraente e sem batom, além de seu belo corpo esculpido delicadamente.

Correu até o banheiro e sem tirar ela da cabeça se masturbou duas vezes. Viver com ela por esse tempo seria uma tortura.

Tomou um banho quente e quando saia do banheiro seu celular tocou. Ele já estava esperando aquela ligação.

- Sim. Morderam a isca.

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Esta aí. Postarei a continuação em breve.

Leiam o Prólogo e o Cap.1.

Obrigado!

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 22/08/2012
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