• JOKER: DAMIEN DARKHOLME ²

Naquela tarde, fiquei inquieto, e ao cair da noite, sentia um calor avassalador, e não recordo quantos banhos havia sido tomados, o calor não cessava, foi quando Emy sentindo minha impaciencia e inquietude, disse:

- Porque não vai descansar.

- Toda essa agitação é algo inexplicável.

Emy sorriu, desde meu retorno, surpreendente e sombrio, apenas naquela noite conversamos sobre o ocorrido, e confesso, não queria saber, embora estivesse tendo pesadelos recorrentes com a mulher que surgia em meus sonhos, ou pesadelos, e acordava completamente suado, debatendo, tentando desvencilhar do ataque brutal que sofria em meus pesadelos.

Despedi de Emy, e fui para o quarto, como estava sozinho, preferi ficar seminu, e deitei sobre a cama, pela posição, pude ver a lua surgir no horizonte, ficando cada vez mais brilhante e luminosa, iluminando o firmamento e ocultando o brilho das estrelas.

Fui ficando sonolento, acometido de uma letargia, e quando fui acordado estava em meio a floresta, cercado por inumeros lobos negros, e um lobo branco, maior e mais agressivo, que rodeava meu corpo, deitado sob a graminea coberta pelo orvalho da noite, assustado, tentei alcançar qualquer coisa que serviria como um instrumento de defesa, foi quando percebendo isso, uma das criaturas, começou a uivar cada vez mais alto, um uivo que parecia um clamor sombrio, e pude perceber a inquietude daquelas criaturas, que fazia menção de atacar, mas permanecia apenas rosnando em uma atitude ameaçadora.

Mas fiquei atônito, quando em meio a vegetação surgiu um lobo ainda maior, um lobo cinzento, que pelo porte, poderia ser facilmente confundido com um urso, embora não houvesse registro de atividades de uma especie desse tipo na região. Surgiu rosnando, um rosnado ainda mais ameaçador, que fez com que as criaturas, fossem afastando, uivando e ganindo, como estivesse comunicando algo para aquela criatura que surgira como uma ilusão em meio as sombras da floresta.

Senti ameaçado, realmente, diante daqueles olhos vermelhos, e do halito quente que sentia cada vez que aquela criatura aproximava, rosnando, como quisesse dizer alguma coisa, foi quando em um ato impensado, tentei correr, na direção oposto, embrenhando em meio a floresta, sentia minha pele ser rasgada por espinhos, e o coração descompassado, em um ritmo frenetico, todo temor e medo parecia atrair as criaturas, que uivando e ganindo parecia cada vez mais próximas, e quando não aguentava mais fugir, tentando escapar de meus algozes ferozes, o lobo cinzento surgiu, acompanhado de uma dúzia de lobos famintos e menores, que certamente esperava pelo momento de atacar, e terminar com aquele jogo de caça e caçador, mas para minha surpresa e temor verdadeiro, a criatura lider, começou a transformar diante de meus olhos, a silhueta feminina formando em meio as pelos cinzentos, que ocultava uma beleza clara e cálida, e um olhar cor de esmeralda e cintilante, e ainda com os dentes caninos transformados, disse:

- Estavamos atrás de você há muitas luas, meu irmão.

- Irmão?

- Que loucura é essa?

- Sim, meu irmão! Estavamos em seu encalço.

- Desde que sentimos seu cheiro.

- Seguimos até o local onde reside.

- Mas não podiamos entrar até hoje.

- Quando a lua cheia permite que sejamos vistos como somos.

- Que loucura é essa, moça?

- Loucura? Não.

- É uma dádiva ancestral.

- E assim como eu, você é da familia?

- Cale sua maldita! Quem é você?

- Ainda não lembra, meu irmão.

- Encontrei você algumas semanas atrás...

- E tenho acompanhado seus sonhos.

- Sonhos? Não, são pesadelos.

- Não são pesadelos, é apenas vossa transformação.

- Que loucura, é essa?

- Devo estar imaginando coisas, ou tendo um pesadelo.

Senti o ataque feroz de um dos lobos que acompanhava a jovem, e comecei a debater, senti o sangue esguichar sobre minha pele, desvencilhando do ataque brutal e feroz daquela criatura,, as outras uivando, parecia entoar um cãntico sombrio, enquanto meu sangue era derramado, com as agressões sucessivas e contudentes da criatura. Podia vislumbrar a expressão de prazer no rosto da jovem, que sorrindo disse:

- Pare, não precisa mais...

- Não iremos a lugar algum assim.

A jovem começou a transformar diante de meus olhos novamente, as mudanças grotescas ocorrendo pelo corpo, em uma mutação e simbiose entre dois universos distintos, de um lado a beleza intocavel da jovem, do outro a aparência agressiva de um lobo, grande e cinzento, que avançando sobre mim, uivando começou um novo ataque, feroz e sanguinário, comecei a desfalecer, talvez pela perda de sangue, ou por estar mais próximo da morte novamente, e cerrei os olhos, acreditando que seria o fim de uma vida.

Recobrei os sentidos, em meio a quarto do velho casarão, estava tudo revirado, como houvesse tido uma batalha, um confronto feroz, e de minha surpresa, fui resgatado, ouvindo o uivo que parecia um chamado ou clamor, ao chegar na janela, pude ver o enorme lobo branco, que olhava em direção ao casarão, acompanhado de outros lobos menores, mas em um número consideravel, que certamente poderia dizimar um rebanho de novilhos. Estremeci, quando em meio a escuridão o lobo cinzento surgiu, uivando em um clamor suplicante, e fechei as janelas, ainda ouvindo aquele uivo ecoar em meu ouvido.

Adormeci, envolto no misterioso pesadelo, em meu corpo apenas marcas e arranhoes profundos, como houvesse realmente sido atacado naquela noite, mas estava abrigado no casarão, e tudo poderia ter sido apenas e somente um pesadelo, como tantos que estivera tendo nos últimos dias, mas iria descobrir que minha aliança e comunhão com a noite, mais longa e intensa começaria realmente quando fosse visitado pelo lobo cinzento, que iria mostrar, que minha sina, era matar e caçar, como uma fera, e não caminhar entre os humanos. Esse era meu destino, e entre meu destino e minha nova vida, havia segredos de uma relação intima com a noite, as sombras e a escuridão.

* Damien Darkholme

DAMIEN DARKHOLME
Enviado por DAMIEN DARKHOLME em 21/08/2012
Reeditado em 12/04/2015
Código do texto: T3842209
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