A VINGANÇA DE UM EX-PRESIDIÁRIO

O grande portão foi aberto e Charles saiu, levando uma bolsa com alguns pertences. O sol já estava alto, fazia um calor infernal, mas ele parou para uma observação do local. Estava deixando a penitenciária depois de onze anos de reclusão em regime fechado. Respirava agora aquele ar puro, diferente do ar da fétida cela em que se encontrava. Tinha motivos para se tornar um novo homem, seguir um novo rumo e esquecer tudo o que passou ao longo desses anos.

Sua cabeça fervilhou quando lembrou aquele trágico dia. Jamais imaginaria que o desfecho seria aquele. Camilo era o capataz de uma fazenda e lhe devia uma certa quantia. Acertara com ele para receber o dinheiro em determinado local, em terras da fazenda. Chegando ao local se deparou com Camilo e outro elemento, notando que ambos estavam armados. Charles achou que não receberia o valor que lhe cabia e a aproximação mal intencionada do devedor o fez recuar. De súbito Camilo puxou o revólver e disparou na sua direção, não acertando por ele ter se esquivado, momento em que conseguiu agarrar o desafeto e segurar sua arma. Nesse momento a arma disparou atingindo o capataz no peito, que foi a óbito, quase que imediatamente. O outro elemento, vendo o parceiro estirado com o sangue jorrando, apontou sua arma para Charles e apanhou a outra que estava no chão. Detido, teve que se ver com a polícia.

Charles passou a mão na cabeça e olhou para o portão da penitenciária. Não desejava mis voltar para esse inferno que roubou parte de sua vida. O tiro havia sido acidental, porém ele foi considerado culpado tendo em vista a testemunha ocular do fato ter acusado Charles de criminoso, ocultando a verdade.

Caminhou calmamente pela rua até chegar num vilarejo muito conhecido por ele. A sua velha casa estava ali, a sua frente, como esperando o seu retorno. A porta estava aberta e uma velha senhora estava sentada na sala. Ao vê-lo, admirou-se, não esperava que ele chegasse naquele momento. Chorou copiosamente ao ver seu filho na sua frente, abraçando-o com carinho. Charles verteu algumas lágrimas também, mal conseguindo ficar de pé. Sentou-se e respirou profundamente. Precisava agora de um bom banho e uma cama macia para descansar o corpo maltratado.

Charles abriu os olhos e bocejou, espreguiçando-se ainda debaixo do lençol. Levantou-se, tomou banho e foi para a mesa tomar café. Já passava das oito horas, havia dormido o suficiente para deixar o corpo em forma. Sua mãe sempre acordava cedo mas deixou ele dormir até mais tarde.

Da janela Charles observou a paisagem, acendendo um cigarro e dando boas baforadas. Além de um morro ficava a fazenda onde sua ruína teve início. Perturbou-se com a lembrança da morte de Camilo e um pensamento ruim aflorou em sua mente. Será que o homem que o delatou ainda estaria lá? Fez essa pergunta para si próprio. Teve vontade de ir até lá mas conteve o desejo, poderia complicar-se.

Na cidade a notícia de sua soltura já era conhecida. Charles ficou sabendo porque algumas pessoas comentaram com sua mãe. Mas ele precisava retomar suas atividades de comerciante e abrir a loja fechada durante o tempo de sua reclusão. O estabelecimento carecia de limpeza e sortimento de mercadorias. Tinha que ir até a cidade.

Depois de tudo organizado, Charles sentou-se na frente da loja para aguardar os primeiros clientes. Um velho amigo seu que passava pelo local, ao vê-lo, dirigiu-se para a loja. Cumprimentou-o e começaram a conversar, relembrando os velhos tempos. Justo era seu nome e ele estava a par de toda a situação passada por Charles, confiava demais nele e ficara indignado com a prisão do amigo. Conhecia os passos do hoimem que incriminou Charles, já teve vontade de fazer justiça com as próprias mãos, mas se conteve. Agora toca no assunto e planejam uma vingança para punir o desafeto.

Dois dias depois Charles não abriu a loja. Um cartaz avisava que tinha ido fazer compras para repor o estoque. Acompanhado de Justo, pararam em um trecho da estrada deserta, debaixo de uma árvore. Aguardaram a passagem do homem que delatara um inocente e o fizera cumprir uma pena injustamente, quando se tratando de legítima defesa não seria necessária a sua condenação.

O homem aproximava-se sem de nada desconfiar. Quando passou pelo local onde Charles e Justo estavam escondidos, foi abordado pelos mesmos. Tentou reagir mas foi ferido com um tiro na coxa. No chão, sangrando, reconheceu aquele que testemunhou contra, colocando-o na cadeia. Mesmo ferido tentou reagir novamente mas foi surrado, vindo a desfalecer. Como o sangramento era grande, tiveram certeza que o mesmo não escaparia com vida. Deixaram o corpo ali e seguiram para a cidade.

Charles abriu a loja normalmente e atendeu alguns clientes. Em pouco tempo a notícia correu de boca em boca, o boato era geral. O corpo do capataz da fazenda fora encontrado por caçadores, que comunicaram o fato à polícia. A princípio o caso foi notificado como assalto seguido de morte, mas como o morto foi testemunha de acusação de um crime, a polícia convocou Charles para prestar depoimento como suspeito. Ele negou o crime e a polícia, sem provas, não teve como prendê-lo.

Não foi uma medida correta, mas Charles vingou-se da acusação injusta eliminando aquele que destruiu sua vida, agora sendo retomada com o seu trabalho.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 09/08/2012
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