A CAIXA

Jânio olhou o relógio e se apressou para sair, indo até a janela para ver o tempo. A tarde estava quase indo embora, caiam alguns pingos de chuva de uma nuvem escura, como que anunciando a chegada da noite, a dona do silêncio. Ele olhou mais uma vez o relógio, abriu a porta do apartamento, antes se benzendo, fechando-a e descendo dois vãos de escadas, ganhando a rua em seguida. Aparentemente ele parecia nervoso e nem percebeu que um carro buzinava para chamar a sua atenção, atendendo somente com a insistência do motorista. Atravessou a rua rapidamente, após um aceno, passando a conversar com o mesmo. Entrou no carro e partiram, ganhando uma estrada deserta.

Dias antes ele havia discutido com a esposa, uma senhora bem mais velha com quem resolvera casar apenas interessado em seus bens, já que era uma mulher só e sem parentes conhecidos. No auge da discussão Jânio a empurrou da escada, indo seu corpo se projetar no andar de baixo. Julgando que estivesse morta, colocou o seu corpo em uma caixa e depositou a mesma no porão da velha casa onde moravam, aguardando que a noite chegasse para dar sumiço ao mesmo. Dirigiu-se para o apartamento de sua propriedade levando alguns pertences, só retornando à noite para a tarefa macabra. Foi até o porão, com a ajuda de um amigo, pegando a caixa e colocando em uma caminhonete, seguindo para um local ermo onde a enterrou.

Seguindo agora pela estrada com o amigo que o ajudou a enterrar a caixa, Jânio imaginava um monte de coisas. Lembrou do momento quando pegou aquela caixa desconfiando do seu peso, achando que estava um pouco mais pesada, mas não quis abrir para conferir. Lembrou também de uma voz misteriosa que lhe telefonou, afirmando que na caixa enterrada havia muito dinheiro e joias, o que o deixou impressionado e curioso, fazendo com que a sua ganância o levasse a desenterrar a caixa, cerca de três dias depois. Imaginou que o corpo da esposa poderia não estar na caixa, que ela tenha escapado, mas a cobiça o fez conferir, indo ao local ermo com a ajuda do amigo. Estacionaram o veículo, deixando os faróis acesos para verem melhor e com a ajuda de pás iniciaram a escavação. Terminado o serviço, abriram a caixa e verificaram que na mesma existiam apenas pedras enroladas em trapos velhos. Jânio sentiu-se traído e humilhado. Já se dirigiam para o carro os dois homens quando alguns tiros foram ouvidos na calada da noite e dois corpos tombaram ao chão. Um vulto de mulher surgiu da escuridão, entrou no veículo e partiu.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 07/08/2012
Reeditado em 07/08/2012
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