DO OUTRO LADO DA RUA (14) – COLAR DE DENTES DE ONÇA
Hoje estou um pouco desanimada, o frio me incomoda um bocado e tenho pouca disposição para sair. Mesmo assim decidi visitar a boa velhinha dona Chiquinha, vou ver se ela está bem protegida com esse frio. Encontro-a fazendo ainda suas meias de crochê, como havia me prometido e que estão em fase de acabamento. Se encontra sentada em sua cadeira de balanço, com seu chalé de crochê sobre os ombros e a manta nas pernas, o que me deixa sossegada, sabendo que está se protegendo.
Não a deixo se levantar, vou até o fogão e faço um chá de cidreira que ela possui no quintal, erva excelente para esquentar e também um tranquilizante natural.
Sorvendo aquele chá quentinho e saboroso iniciamos um papo animado, aproveito para lhe perguntar o que sempre me deixou curiosa, sobre o colar de dentes que a boa velhinha possui no pescoço.
Assim, minha doce velhinha inicia um episódio acontecido na fazenda Engenho Novo, que assombrou a todos, patrão, capataz, feitor e escravos...
Certo dia, o capataz deu por falta de um bezerro que havia nascido há poucos dias, estava ainda amamentando e se encontrava no curral berçário quando desapareceu, saíram à procura, vasculharam tudo e nada de encontrá-lo. Aquilo foi um episódio que deixou a todos em suspense pois onde afinal foi parar o bezerro? Passaram-se alguns dias e sumiu um cabrito que também havia nascido há poucas semanas, a procura foi intensa e nada de encontrar. Deram por encerrado o assunto até que certo dia um escravo sumiu, a procura foi mais intensa que as anteriores e acabaram encontrando na mata os ossos do escravo.
Vasculharam o local e avistaram as roupas do mesmo na entrada de uma gruta e ali também encontraram aquela que causara todas as mortes macabras, uma onça enorme descansava de suas façanhas, saciada pelo alimento obtido na fazenda. Montaram uma equipe de escravos, juntamente com o capataz e foram à caça da predadora, foi grande a espera até que caísse na armadilha preparada. Levaram-na para a fazenda e ali a assaram em uma grande fogueira no quintal, saboreando aquela que havia surrupiado um bezerro, um cabrito e um escravo. Seu couro foi conservado por seu Porfírio, que fez um tapete para a sala de visitas e seus dentes foram parar no pescoço de Chiquinha, como colar.
O tempo passou, mas o colar jamais saiu dali onde seu Porfírio colocara, no pescoço de sua afilhada Chiquinha, que nasceu, morreu, ressuscitou e tornou sua protegida, pelo resto de seus dias. A mesma dona Chiquinha, minha doce velhinha da “casa de fundos, do outro lado da rua”!
Hoje estou um pouco desanimada, o frio me incomoda um bocado e tenho pouca disposição para sair. Mesmo assim decidi visitar a boa velhinha dona Chiquinha, vou ver se ela está bem protegida com esse frio. Encontro-a fazendo ainda suas meias de crochê, como havia me prometido e que estão em fase de acabamento. Se encontra sentada em sua cadeira de balanço, com seu chalé de crochê sobre os ombros e a manta nas pernas, o que me deixa sossegada, sabendo que está se protegendo.
Não a deixo se levantar, vou até o fogão e faço um chá de cidreira que ela possui no quintal, erva excelente para esquentar e também um tranquilizante natural.
Sorvendo aquele chá quentinho e saboroso iniciamos um papo animado, aproveito para lhe perguntar o que sempre me deixou curiosa, sobre o colar de dentes que a boa velhinha possui no pescoço.
Assim, minha doce velhinha inicia um episódio acontecido na fazenda Engenho Novo, que assombrou a todos, patrão, capataz, feitor e escravos...
Certo dia, o capataz deu por falta de um bezerro que havia nascido há poucos dias, estava ainda amamentando e se encontrava no curral berçário quando desapareceu, saíram à procura, vasculharam tudo e nada de encontrá-lo. Aquilo foi um episódio que deixou a todos em suspense pois onde afinal foi parar o bezerro? Passaram-se alguns dias e sumiu um cabrito que também havia nascido há poucas semanas, a procura foi intensa e nada de encontrar. Deram por encerrado o assunto até que certo dia um escravo sumiu, a procura foi mais intensa que as anteriores e acabaram encontrando na mata os ossos do escravo.
Vasculharam o local e avistaram as roupas do mesmo na entrada de uma gruta e ali também encontraram aquela que causara todas as mortes macabras, uma onça enorme descansava de suas façanhas, saciada pelo alimento obtido na fazenda. Montaram uma equipe de escravos, juntamente com o capataz e foram à caça da predadora, foi grande a espera até que caísse na armadilha preparada. Levaram-na para a fazenda e ali a assaram em uma grande fogueira no quintal, saboreando aquela que havia surrupiado um bezerro, um cabrito e um escravo. Seu couro foi conservado por seu Porfírio, que fez um tapete para a sala de visitas e seus dentes foram parar no pescoço de Chiquinha, como colar.
O tempo passou, mas o colar jamais saiu dali onde seu Porfírio colocara, no pescoço de sua afilhada Chiquinha, que nasceu, morreu, ressuscitou e tornou sua protegida, pelo resto de seus dias. A mesma dona Chiquinha, minha doce velhinha da “casa de fundos, do outro lado da rua”!