O Dia Em Que Eu Morri

Durante um longo tempo, caminhei sem seguir um rumo certo, pisei num chão que não era firme, que me fazia afundar, assim como areia movediça o faz. Fiquei esperando que algo me surpreendesse: uma voz, uma imagem, um ser, ou até mesmo uma tragédia. Qualquer coisa que me fizesse sentir vivo, que me mostrasse um caminho. Porém, nada veio.

Os dias se passaram, o sol nascera inúmeras vezes, cumprindo o seu ciclo de nascer, brilhar e sumir, enquanto eu permanecia ali, convivendo com o conformismo, com a realidade de estar só. Maldita vida, maldito destino. Até que, certo dia, eu dei de cara com o demônio, mas eu não percebi de início, ele estava camuflado por uma capa brilhante, parecia mais um anjo. Um anjo que veio para me arruinar.

Aquele ser me atraía, como o sangue atrai um morcego, como o dinheiro atrai um avarento, como a morte atrai os acabados. O seu cheiro, os seus olhos, o seu sorriso. Tudo me encantava. Eu sabia, assim que eu encontrei aquele ser, que essa seria a primeira vez em que eu me aproximaria realmente de alguém.

Um mês! Esse foi o tempo necessário para que eu mudasse completamente, saindo de um mundo sombrio em direção a um mundo aparentemente iluminado, um mundo feliz. Eu nunca tinha me sentido daquela maneira antes, tudo parecia mágico. Pura ilusão.

O demônio começou a agir. O ser que costumava parecer fantástico, iluminado, perdeu todo o seu brilho, sugando minha alma lentamente. Eu estava enlouquecendo e, o pior, não tinha como fugir! Pensei em acabar com a tortura, mas ele não deixava. Ele tinha tudo planejado, até mesmo a minha morte.

–Onde estou? –Eu perguntava. –O que você quer? Por que está fazendo isso?

E ele ria, achando engraçado o meu desespero.

–Alguém me ajude, por favor! –Eu rogava aos céus, respirando com muita dificuldade. –Me tira daqui.

Não havia resposta. Eu estava sozinho, totalmente sozinho. Tranquei-me no quarto. E enquanto tremia de frio, chorei até que a última lágrima molhasse o meu rosto gélido. Meu coração doía. Os monstros gritavam em meus ouvidos. Eu olhava ao redor e não via ninguém.

–Não me deixe sozinho, não, por favor, onde você está? Diga-me que isso não está acontecendo... segura a minha mão, não me deixe cair, por favor, por favor, por fav...Nããããããããão!

Meu coração parou...

E agora vivo assim: morrendo aos poucos. Enquanto a minha alma, bem, nem lembro mais em que esquina se perdeu ou em que mundo ela foi se refugiar. Mas, acho que posso dizer: desde o dia em que você se foi, não tenho mais nada a perder.

Eu morri!

Lianderson Ferreira
Enviado por Lianderson Ferreira em 31/07/2012
Reeditado em 16/02/2018
Código do texto: T3806429
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