Saboreando o próprio medo

Era tarde da noite, uma noite sombria em que não havia estrelas à mostra no céu e até a lua parecia ter sumido. Lewi caminhava numa rua deserta, sozinho sob aquela escuridão. Ele dava passos rápidos, na tentativa de chegar à casa do seu amigo Carlinhos, mas também queria fugir do escuro que tanto o amedrontava.

De repente, houve um apagão na cidade. Lewi entrou em pânico, não conseguia enxergar sequer um palmo a sua frente. E o medo crescia dentro dele.

Lewi tirou o celular do bolso, rapidamente, tentando clarear parte do caminho, ou pelo menos o suficiente para saber onde pisava. Então, ele tropeçou numa pedra e rolou ladeira abaixo, caindo dentro de um buraco bastante profundo. Quando conseguiu ficar de pé, guardou o celular e notou que tinha caído em um túnel subterrâneo e que era impossível sair por onde havia entrado.

De imediato, olhou para os lados à procura de uma saída. Avistou, ao longe, uma luz fraca, parecia uma lanterna. Ele agiu por impulso e correu em direção a ela. Subitamente, escutou um barulho ensurdecedor que sempre costumava ouvir quando estava assustado. Olhou para trás e soltou um grito alto, faltando-lhe o ar. Eram as sombras que o perseguiam desde a infância. Tentou correr em direção à luz novamente, mas havia uma grade que o impedia de continuar. Não sabia o que fazer, de um lado encontrava-se a grade, do outro, as sombras.

Ele precisava se acalmar e usar a inteligência para sair daquela situação, foi nesse momento que notou uma placa no topo da grade dizendo: “Enfrente os seus medos”. Pôs-se a pensar. Após alguns segundos surgiu uma pergunta dentro da sua cabeça: “O que repele sombras?”. Pensou mais um pouco e a resposta veio à tona: “Luz! É isso!”. Pegou o celular e acendeu a luz, enquanto as sombras fugiram imediatamente. Lewi sorriu e viu a grade se abrir, sem ninguém tocá-la.

E a luz misteriosa brilhou mais forte lá no fundo do túnel.

Continuou a andar e ao passar pela primeira grade, ela se fechou atrás dele.

Mais a frente, outra grade impedia o seu caminho e no topo da mesma liam-se os seguintes questionamentos: “Qual é o seu objetivo? O que você é capaz de fazer para alcançá-lo?” Lewi não entendeu o que significava aquilo. Então, apareceram algumas pessoas no túnel, entre eles, um homem alto e forte que parecia bastante perigoso. Todavia, foi uma mulher, vestida de preto, que começou a falar:

-Não há como voltar atrás, cada grade só abre uma vez, ou seja, enfrente para seguir em frente e conseguir sair daqui, garoto! –A mulher entregou um machado a Lewi e continuou falando. –Esse homem não pretende lhe deixar passar. Mate-o!

-Mas, eu não posso fazer isso! Eles vão me chamar de assassino! –Lewi falou, apontando para as outras pessoas do túnel.

Ele sempre se importou demais com os comentários das pessoas e costumava abrir mão de muita coisa por causa dos julgamentos.

-Essa é a única maneira! –Retrucou a mulher.

Após um longo e exaustivo silêncio, Lewi resolveu fazer o que lhe disse aquela mulher. Segurou com força o machado e levantou-o, o homem reagiu e socou o rosto de Lewi, fazendo-o tombar para trás. Ao ver que o homem se aproximava novamente, Lewi ergueu o machado mais uma vez, cravando-o no pescoço daquele ser que caiu ensanguentado. A grade se abriu e Lewi correu através dela. Olhou para trás, com remorso, mas as pessoas tinham sumido, não havia nada ali, nem mesmo uma gota de sangue. E a luz misteriosa estava mais próxima.

A última grade estava lá, impedindo, como todas as outras, que Lewi continuasse, contudo essa era diferente, não era feita de metal, mas de madeira. A mulher reapareceu acompanhada por algumas pessoas e começou a falar mais uma vez.

-Você tem um machado em suas mãos e eu tenho aqui cerca de trinta crianças que poderiam ajudar-lhe, você só pode optar por um dos dois, então, qual você escolhe: o machado ou as crianças?

Lewi sempre foi muito individualista, olhou para as crianças e julgou serem incapazes de ajudá-lo ou fazer melhor do que ele poderia fazer sozinho. Optou pelo machado, como era de se esperar. Com o passar do tempo, percebeu que não obteve muito sucesso. A madeira era muito resistente.

-Você pode até conseguir sair desse lugar usando esse machado, mas até lá, muito tempo será perdido. Tem certeza que não quer a ajuda que lhe ofereci?

O garoto não podia recusar, já estava cansado, com fome e bastante sonolento. Ele se rendeu à proposta e deixou de lado o orgulho.

-Eu aceito. Por favor, ajudem-me! –Lewi implorou.

Para a sua surpresa, cada criança também possuía um machado e puseram-se a quebrar a grade. Não durou muito tempo, até que a mesma foi derrubada. Lewi agradeceu àquelas crianças e pediu desculpas por ter subestimado a capacidade das mesmas. Elas sumiram em seguida. Ele correu em direção à luz. Não era uma lanterna, como havia pensado, mas outra mulher com um vestido branco e iluminado. Lewi olhou-a fixamente, maravilhado com aquela imagem.

-Quem é você? –Perguntou.

-Eu sou a sua esperança e aqui está a sua saída. –A mulher respondeu mostrando uma escada.

Lewi direcionou-se até a mesma, subindo lentamente. Antes de chegar ao topo e sair de vez daquele túnel, virou-se para trás e falou:

-Por que você ainda não sumiu como aquelas pessoas de preto?

A mulher sorriu.

-A esperança nunca some, ela só fica ofuscada pela falta de brilho do pessimismo e, principalmente, pelos medos de cada pessoa. Contudo, a cada conquista, eu fico mais forte e o meu brilho guia as pessoas nas suas jornadas.

Lewi retribuiu o sorriso e finalmente saiu do subsolo. Sentou-se numa calçada e analisou tudo o que havia acontecido nas últimas horas, percebendo que ao usar a inteligência, a coragem, e ao deixar de lado o orgulho, foi capaz de derrubar três grades em uma só noite. Ele prometeu a si mesmo se livrar de todos aqueles medos que possuía, para se tornar alguém mais corajoso e alcançar o sucesso, pois o pior fracasso ocorre quando você se torna escravo dos seus próprios medos.

Lianderson Ferreira
Enviado por Lianderson Ferreira em 24/07/2012
Reeditado em 09/01/2014
Código do texto: T3794864
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