(SUSPENSE) A casa dos Davis - Parte I

Três adolescentes fascinados por histórias de terror, estavam sempre procurando por lugares “mal-assombrados”, onde pudessem contar ou até mesmo inventar suas próprias histórias. Eddie, o mais velho da turma, conhecia uma casa, que era famosa por ser mal-assombrada, porém, a mesma ficava longe de Denver (cidade onde os mesmos moravam), então, Eddie conseguiu o carro de seus pais emprestado, e pra tal casa eles foram. Chegando lá, se depararam com uma enorme casa, onde antigas lendas adormeciam, o que prejudicava o local, pois o mesmo não havia sido habitado há 30 anos por conta dessas histórias.

A casa estava velha, mas os móveis continuavam lá, cheios de teias, e pelo chão, vez ou outra um inseto corria, o que dava um ar mais assustador à mesma.

Montaram uma barraca no andar de cima da casa, no quarto que aparentava estar mais limpo. Assim que estavam todos assentados, Eddie disse:

– Começarei a contar a lenda que torna desta casa, um lugar que não deveria ser habitado, imploro para que não me interrompam, odeio perder o foco.

Todos concordaram, então ele começou...

“Nos jantares da casa Davis, tudo era extravagante: talheres impecáveis, pratos formidáveis, a casa era invejável e os Davis sempre patentearam a berros silenciosos sua riqueza. Era tudo corriqueiramente perfeito, a não ser o garoto de sete anos. Todos que frequentavam a casa sentiam algo que os incomodava na criança.

Em um dos jantares habituais que a família disponibilizava para a vizinhança, o menino Miller em um súbito desinteresse respondeu mal à sua avó, seu pai sem pensar duas vezes, pediu licença e subiu com o garoto para o andar de cima. Tudo que se escutava eram gritos, gritos que a cada segundo que passava se tornavam mais intensos e melancólicos. Até que cessou. O menino desceu, sem nenhum arranhão aparente e com um sorriso falso no rosto, pediu perdão à avó e se sentou. Seu pai desceu logo após, envergonhado, pois perceberá que todos haviam escutado o escândalo que ocorreu no segundo andar da casa.

A cada garfada que o menino Miller dava, mais a tristeza do mesmo transparecia aos olhos de seus pais e convidados. Ninguém criava coragem para se arriscar e perguntar ao indiferente menino, o que havia acontecido lá em cima.

Miller encarava tudo com desprezo, não via vida, não via valor e não sentia interesse algum em nenhum tipo de ser vivo que se sentará àquela mesa. Considerava-se já, vazio. Sem fundamentos ou metas. Cômodo à sua normal insatisfação integral.

O jantar acaba e cada um volta para suas respectivas residências. A mãe de Miller, preocupada com o garoto, levou-o para a cama, e começou a contar uma história, para que o menino pudesse dormir:

– ‘Era uma vez, em uma casa pequena na vila dos sonhos, um garoto que se sentia perdido, frustrado com a falta de amigos e com a ausência de seus pais...’

O menino interrompe:

– Mamãe, se a ideia é fazer com que eu me identifique com a história, quero pedir que você pare por aí. Essas são as diretrizes de minha vida, e não quero me iludir com o resto de sua história fajuta. Não tente justificar a negligência e a impaciência do papai para comigo, com histórias faz-de-conta.

– Seu pai te ama, não tenha dúvidas. Ele só está... Cansado.

– Também estou cansado, a propósito, quero dormir agora. Amanhã o Charles vem cedo para me ajudar com geografia.

– Quem é Charles?

– Papai não te contou? Ele contratou um professor para me dar aulas particulares.

– Mas só de geografia?

– Você conhece o papai, ele tem fascínio por essa matéria.

– Conversarei com ele, tudo bem? Agora descanse, já são 21h00 e seu pai se embravece quando você acorda depois das 06h00. Eu te amo. Durma com Deus.

– Boa noite.

Amanhece e Eleonora, a serviçal da casa, chega e vai direto para o quarto do menino, leva o chá que o mesmo adora e se sente feliz por saber que apesar de ser apenas um chá, o menino muda de humor por tomar algo que ele goste.

Tenta puxar conversa:

– Como foi o jantar de ontem?

– Chato. Papai me deu uma surra porque fui grosso com a vovó.

– Estás muito machucado?

– Aparentemente não, mas...

O menino coloca a caneca com chá em cima do criado-mudo e começa a tirar a camiseta. A empregada abraça o menino e diz para que ele aguente firme, horrorizada com os vergões que o pai havia deixado no filho de apenas sete anos.

– Eu estou bem, já me acostumei. Estou feliz porque desta vez, os machucados ficaram bem guardados, por debaixo de minha roupa.

O garoto dá um sorriso e sai do quarto.

Após se empanturrar com o café da manhã, sai para brincar no jardim, antes que o professor chegue. Assim que sai pela porta, avista Charles, e de longe, o mesmo vê a insatisfação no rosto do garoto. Ele se aproxima educadamente, abre um sorriso simpático e diz:

– Pronto para se divertir?

– Claro, – o garoto responde em um tom irônico – é um prazer recebê-lo aqui.

Ao longo dos ensinamentos, o menino vai se interessando e se abrindo mais para o professor. Quando o mesmo percebe que conseguiu a aprovação e confiança do menino, pede que ele o acompanhe ao porão. O menino, por não ver problema, acompanha o mesmo, apesar de sentir receio.

Quando Charles fecha a porta do porão e acende as luzes, o semblante do mesmo cai, e o menino se aterroriza. Ele apanha o menino e o leva para uma mesa velha que lá havia. O menino grita pelo pai, grita por sua mãe, mas vai perdendo as forças. Começa a chorar:

– Por favor, me deixe ir, não faça nada comigo. Meus pais são ricos, podemos dar-lhe o que quiser.

– Garoto imbecil, quero algo mais valioso para mim do que seu dinheiro.

– PAI, PAI. AJUDA-ME.

O pai adentra o cômodo aparentemente preocupado e começa a reclamar:

– Cala-te criança.

O menino empalidece.

O pai continua.

– Charles, conseguistes o que te pedi?

– Está aqui.

Charles apresenta um líquido rançoso ao pai do garoto que abre um sorriso de orelha a orelha.

– Me pagarás por toda vergonha que me fizestes passar, garoto. Sua ingratidão será cobrada já, tudo que faço por ti, nunca está de bom grado.

Charles arregala os olhos.

– Matarás seu próprio filho, só porque o mesmo não é grato ao que faz? Que insanidade.

– Eu nunca suportei este garoto, desde o dia que nasceu não tenho tempo para nada. Vive emburrado pelos cantos, faz tudo para me contrariar. Chame-me de insano se quiser, eu até concordo, a insanidade que este garoto me trouxe, o levará à morte.

O menino grita, chora, mas nada tira o sorriso diabólico do rosto de seu pai.

O professor abre a boca do garoto, e o pai começa a introduzir o líquido na mesma. Em poucos minutos o menino se entrega à morte.

Charles se prontifica:

– Terei o combinado, certo?

– Ele é todo seu.

Então o suposto professor de geografia, leva o menino em um saco para sua casa.

Dois meses se passam, e na casa dos Davis só restou lugar para a tristeza, sofrimento e desespero para a mãe de Miller. Ela gritava aos quatro quantos da terra:

– ‘Por que meu senhor? Por que deixaste meu filhinho tão amado fugir? Onde ele está agora? Vivo? Morto? Perdido? Aos tratos e maus-tratos de outra família?’

Em um dos seus habituais sonhos com Miller, ela o vê sendo estraçalhado por seu próprio pai, o menino indaga-a no decorrer do sonho: “Onde você estava enquanto eu gritava, mamãe?”

Larissa Stein
Enviado por Larissa Stein em 11/07/2012
Reeditado em 11/07/2012
Código do texto: T3771525
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