A Desordeira

Ela tem algo misterioso consigo, não sei ao certo o que é. Ela está feliz agora e num piscar de olhos não a reconheço mais.

Não sei nada de seu passado. Acho que isso a fere. Como ela mesma diz: “Vamos viver o hoje”. Bem que eu queria viver o hoje sossegado sem pensar todas as noites que estou dormindo com uma estranha.

Estamos a quatro anos casados e eu não a conheço. Acho que seus pais já faleceram ou a abandonaram não sei. Quando toco seu rosto, me parece tão segura em meus braços. Do nada se vira, chora. Peço para que ela me conte seus problemas. Não quero ser apenas um amante para ela. Quero que façamos parte da vida um do outro. Estou com 32 anos de idade, Elizabeth tem 26. Ela é linda! As vezes sinto que me ama. Mas não conversa comigo acho que ela não gosta muito de morar em Arizona.

Certa vez ela me disse que prefere Oklahoma. Pretendo comprar uma casa lá até o final do ano para que eu consiga realizar mais uma de suas vontades. Sim, eu me importo com suas vontades. Quero com ela construir uma família. Beth prometeu-me um filho quando formos morar em Oklahoma, por isso tenho tanta pressa. Quero muito um filho.

Elizabeth faz o que quer de mim. Isso me mata. Levamos 4 meses desde que nos conhecemos para nos casarmos e eu tinha jurado a mim mesmo que não me casaria com ela enquanto ela não me falasse de onde veio, onde está sua família, enfim ela sempre consegue o que quer.

Lembro como nos conhecemos. Já não foi em uma boa ocasião. Eu estava em uma cafeteria ao lado do banco quando escutei tiros. Mais um assalto, pessoas feridas, pessoas correndo. Não sou covarde, mas também não sou um idiota juntei minha maleta mais que depressa, sai correndo trombei com ela na calçada, quase a derrubei. Caiu sua bolsa fui ajudá-la ela tomou a bolsa de mim e me chamou de idiota. Perguntou-me se não tinha melhor ocasião para eu fazer isso. Ela estava com o rosto muito vermelho os olhos cheios de lágrimas estava despenteada, muito nervosa chorando não podia deixá-la ir naquele estado.

Pedi para que me acompanhasse até meu apartamento que era próximo a avenida que estávamos para que ela pudesse se acalmar. Segurei em seu braço. Levei um tapa na cara, talvez ela se sentiu ofendida. Quando os bandidos saíram correndo do banco atirando em todo mundo. Ela olhava para todos os lados não tinha para onde ir. Estendi minha mão, ela a segurou e juntos corremos para meu apartamento.

Chegando no apartamento pedi para que ela ficasse a vontade. Ela se sentou no sofá e então eu pude falar meu nome. “Sou David. Por favor, sinta-se em casa” ela olhou em meus olhos só então pude ver a beleza de seu rosto. Acho que desde então minha vida estava em suas mãos. Apaixonei-me naquele instante. Servi a ela um café e sentei-me ao seu lado. Ela tomou o café não falou comigo sequer uma palavra. Acho que estava desconfortável. Perguntei seu nome ela foi seca e ríspida “Elizabeth. Obrigada David tenho que ir”. Nesse momento não sei da onde tirei tanta coragem para fazer o que fiz. Como estava sentado próximo a ela não resisti a beijei. Pensei que ela resistiria, mas não. Ela me beijava com mais sede. Levei-a para o meu quarto e dormimos juntos. Quando acordei, um susto! Ela já havia saído. Deixara seu telefone e se fora antes mesmo que eu acordasse. Eu precisava encontra-la liguei imediatamente para o número que ela havia deixado. Ela não atendia. Deixei um recado em sua caixa postal desesperado: “Elizabeth me ligue quando puder preciso de você abraços David”.

Eu estava perdidamente apaixonado. O pior de tudo é que mesmo pensando que ela não voltaria a me ligar eu surtei. Qualquer toque no meu celular era uma esperança que fosse ela.

Três semanas passaram-se e Elizabeth não me procurara.

Minha mãe tinha uma amiga que viera para cá passar as férias e trouxe com ela uma linda mulher. A alegria da minha mãe era me ver casado com a filha de sua amiga. Sem sucesso.

A mulher era realmente linda, mas eu não parava de pensar em Elizabeth. Eu achava que ela jamais apareceria então a gosto de minha mãe pedi a filha de sua amiga em casamento.

Estávamos juntos a dois meses e o casamento já estava para acontecer. Alice era a mulher ideal para se casar e construir uma família. Eu tinha consciência disso. Eu não a amava, mas vivíamos bem. Acho que Alice aceitou se casar comigo mais por gosto de sua mãe, mas com o passar do tempo acho que ela estava apaixonada por mim. Era até bastante ciumenta.

Na véspera de meu casamento um telefonema inesperado. Estava com Alice meu celular não parava de tocar. Alice odiava que eu tratasse dos assuntos do escritório quando estava com ela. Pedi para que ela atendesse e dissesse que eu havia esquecido o celular em casa.

Sempre fazíamos isso para termos sossego do trabalho. Ela atendeu “Quem gostaria? Ah sinto muito Elizabeth David acabara de sair e esquecera o celular em casa” tomei o celular de sua mão “Elizabeth é David Elizabeth cadê você?” Ela havia desligado. Alice e eu brigamos por conta desse telefonema. Alice não se conformava de eu ter tomado o telefone de suas mãos e me perguntava quem era Elizabeth mesmo eu mentindo falando que era uma cliente. Brigamos feio. Acho que não sei mentir. Fui embora mais cedo.

Cheguei em casa e o telefone estava tocando, atendi era da portaria, alguém me esperava La embaixo e não queria falar quem era. Pedi para o porteiro deixar que subisse Alice era cheia de graças certamente estava com um vinho para fazermos as pazes.

Quando atendi a porta me surpreendi. Não era Alice. Era Elizabeth. Ela estava quieta. Eu pedi que entrasse. Perguntei por que havia sumido por três meses. Os três meses mais longos de minha vida. Antes que ela me respondesse pedi para que ela se retirasse que eu me casaria no dia seguinte. “Eu sei.” Disse ela. “Vi no Jornal o casamento de David Goulart Com Alice Albuquerque” “Então o que faz aqui?” perguntei. Ela me olhou nos olhos se aproximou deixando-me indefeso a qualquer uma de suas atitudes. Me beijou e disse sussurrando ao meu ouvido que não poderia deixar o homem da vida dela casar-se com uma mulher que não fosse ela. Não pensei duas vezes: “Vamos também não quero ficar sem você” “Vamos onde?” disse ela. ““Vamos para o México” meu casamento é amanhã preciso sair daqui”. Arrumamos as malas e pegamos o primeiro voo para Cancun. Parecia que eu estava vivendo um sonho.

Ficamos no México apenas um mês. Voltamos para Arizona e nos casamos imediatamente.

Minha mãe não olhava na minha cara devido a decepção que causei a ela deixando Alice no altar. Ela não foi no meu casamento com Beth e nem falava comigo. Vivi essa situação de não ter mãe por dois anos e meio até que ela me perdoou. A trouxe para minha casa para conhecer Beth mas ela não ficou em casa nem cinco minutos.

Mamãe olhava Beth da cabeça aos pés e Beth fazia o mesmo. Até que minha doce Beth falou “David saia daqui com essa velha louca imediatamente”. Mamãe saiu de casa desorientada e desde então não voltou mais em minha casa. Esses dias nos falamos por telefone e eu contei a ela que em breve vamos ter um bebê. Mamãe disse que o filho de Elizabeth não pode chamá-la de vó. Pediu para que eu procurasse Alice, enfim mamãe não se conforma.

Mas eu entendo Beth uma vez ela me disse que não tem família. Ai eu perguntei detalhes: “Não tem família? Como assim?” “Não tendo David, não da para falar com você. Você faz muitas perguntas.” Eu morro de dó de pensar que talvez minha esposa tenha crescido sem família, enfim não merecia isso. Minha adorável e amada Beth.

Ela tem seus segredos. Talvez por isso a amo tanto, mas também me preocupo. Eu respeito suas vontades. Quando ela quiser falar comigo sobre isso estarei aqui. Mas ultimamente ela esta muito estranha. Parece não conseguir lhe dar com esse segredo. Já vi ela saindo do porão diversas vezes. Não resisti. Mesmo respeitando suas vontades eu precisava saber alguma coisa sobre ela que não fosse apenas seu nome. Nas sextas-feiras Beth gosta de caminhar cedo. Ouvi ela se levantando eram 05:10 da manhã me deu um beijo, levantou-se, tomou um banho rápido e saiu sem fazer barulho para que eu não acordasse. Ouvi o barulho dos portões fechando, já me levantei corri para o porão, procurei por tudo quando estava prestes a desistir achei uma caixa de madeira que nunca tinha visto antes. Na caixa continha fotos , ela com duas crianças uma de colo e outra aparentando dois anos, um homem abraçando-a por trás, beijando seu pescoço. A foto não era tão antiga a foto era de no Máximo 5 anos atrás. Agora as perguntas são: quem é aquele cara? E aquelas crianças? Será que ela foi casada com ele ou coisa parecida? E as crianças seriam seus filhos? Beth estava na foto de cabelos grandes e claros. E desde quando ela me procurou só usa cabelo curto, preto. Levei a foto para um grande amigo verificar para mim. Ele detetive deveria saber me ajudar com isso. Passado alguns meses Kevin, o detetive me ligou com extrema urgência. Fui para sua casa as 4 horas da manhã porque Kevin estava muito nervoso. Segundo ele o rapaz da foto é Nolan. Nolan era casado e tinha dois filhos. Segundo familiares de Nolan a mulher da foto era esposa de Nolan. Nolan e as crianças morreram em casa e a mulher se matou. Kevin sabia que a mulher não havia se matado como acreditavam os familiares de Nolan. A mulher era Elizabeth e estava comigo. Kevin segurou- me pelos braços e gritou comigo “David é claro que você nunca soube nada sobre o passado de sua esposa. Ela é uma assassina! Pelo amor de Deus David vamos agora entrega-la aos federais” eu ri. “Kevin você esta levando essa história de detetive secreto a sério demais. Você está ficando louco. Você conhece minha esposa, sabe o quanto ela é doce isso é impossível cara. Muito obrigado, mas eu vou embora dormir do lado da minha linda mulher. Você ta pirando.” “David pelo amor de Deus me escuta. Essa mulher matou Nolan e os filhos com gás de cozinha e fingiu estar morta se safou dessa, ela tem conta no exterior ela tem dinheiro por isso nunca quis nada de você. Nolan era um grande jogador de basquete”. “Kevin nem mais uma palavra. Cale essa boca se não eu mesmo calo para você” eu disse isso ao meu amigo com muita dor no coração, saindo de sua casa e pedindo para que ele nunca mais me procurasse. Quando cheguei em casa. Lá estava minha esposa desesperada. “Querido onde você estava?” dei um beijo nela deitei na cama e pedi que ela me abraçasse. Chorei. Ela não entendia nada, mas me acalmava com seus carinhos. “Querido o que houve?”perguntou. “Nada meu amor. É que eu não posso viver sem você” respondi. “E não vai meu amor. Estarei sempre ao seu lado”. Fingi que estava dormindo até que ela dormisse novamente. Quando ela caiu no sono virei para o outro lado e algumas imagens me vieram a cabeça. Como ela tinha pavor a cheiro de gás, como ela fugia quando eu falava em ter filhos, em como ela seria uma maravilhosa mãe. Quando ela acordou eu não resisti eu tinha que falar com ela sobre aquilo.

“Elizabeth venha aqui por favor.” Ela me seguiu até o porão eu peguei a caixa de madeira ela tremia. Ver sua reação me irritou. “não se preocupe. Já sei de tudo. Você, Nolan as crianças”. Elizabeth entrou em desespero. “Para de chorar sua vagabunda. Tem poucos milhões na sua conta no exterior e por isso você está comigo? Ou você quer me matar com gás de cozinha assim como você fez com seu marido e seus filhos?” Elizabeth gritou “Cale a boca David você já me machucou demais”. Sai do porão fui para o quarto juntei suas coisas joguei pela janela “Não quero mais você do meu lado sua assassina. Vou denunciar você para a polícia. Sempre fui um homem maravilhoso para você, nunca te faltou nada, carinho, desejo, dinheiro e você nunca me falou nada do seu passado imundo eu poderia estar casado com Alice e ter os filhos que você não quis me dar. Eu insisti em uma paixão avassaladora que afastou de mim a mulher que me merecia, minha mãe, meus amigos. Vivi somente para ti desordeira. Você somente bagunçou minha vida”. Elizabeth já não chorava mais ela tirou debaixo da blusa um revolver calibre 38. Vi seus olhos vermelhos de ódio. Não era mais a minha doce Beth era a assassina de Nolan querendo calar minha boca. “Beth abaixa isso. Vamos abaixa esse revolver”. Ela chegou mais perto e mandou que eu me encostasse na parede. “Você não quer a verdade? Você terá a verdade. Nolan foi meu marido por dois anos, mas eu saia com ele desde quando tinha 16 anos. As crianças eram sim meus filhos. Nolan era um cretino David. Saia com as mulheres na rua e me deixava sozinha com as crianças. Em casa faltava comida. Quando eu pedia para que ele comprasse o leite das crianças ele me agredia fisicamente. Dinheiro não faltava para ele. Famoso jogador de basquete. Ele não comprava o leite das crianças porque era um cretino. Ele batia no Nick de um ano e meio e até na katy recém nascida. Ele não suportava choro de criança. Certa vez ele ia assistir a um jogo e pegou no sono. Eu deixei o gás invadir a casa inteira tentei retirar as crianças, mas ele acordou com falta de ar segurou as crianças e disse que todo mundo morreria junto. Me segurou tirou minha máscara. As crianças não resistiram ao cheiro do gás por muito tempo. Se foram antes de mim e do Nolan eu chorava muito arrependida. Eu havia matado meus dois filhos. Nolan não me soltava ele queria q eu engolisse o ar até morrer. Peguei um vaso na estante da sala e consegui quebrá-lo na cabeça de Nolan. Quase que eu não consigo fugir. Não conseguia respirar, Nolan não teve como fugir depois que caiu devido a pancada na cabeça”. Elizabeth tirou o revolver da minha cabeça. “vamos Elizabeth termine logo o que você começou me mate de uma vez. Não fique prolongando, isso ta ruim pra mim. É sério não estou a fim de me ajoelhar e implorar pela minha vida” ela virou o revolver para ela. Ai senti medo. Nunca tive medo do que ela pudesse fazer comigo. Sempre me preocupei mais com ela. “para Beth o que você quer fazer com isso?” Ela olha para mim chorando muito. “ Eu sei que você jamais irá me perdoar por isso David você não merece viver ao lado de uma mulher que matou os próprios filhos” eu estava chorando abaixei a cabeça, ouvi um barulho ensurdecedor um tiro perfurara sua cabeça. Eu a vi caindo no chão o sangue que escorria de sua cabeça formou uma poça enorme eu não acreditei no que meus olhos viam. Como pude julgar de tal forma a única mulher que amei na vida? Eu fui um imbecil. Ajoelhei-me diante seu corpo e desejava morrer também naquele instante. Abracei seu corpo ensanguentado. Queria trazê-la de volta para meu mundo. Nada funcionava. Minutos depois de Elizabeth disparar o tiro contra si. Kevin entra com os federais para prendê-la. “Tarde demais Kevin” Kevin me abraçou forte e acredite. Vi as lágrimas escorrendo de seu rosto. “David estarei aqui para tudo cara. Conte comigo sei o quanto você a amava”. Olhei para Kevin “Kevin eu não tenho ninguém”. Kevin deu a ordem para que os federais retirassem o corpo de Elizabeth. “David eu sinto muito cara, sei que é pouco, mas você pode contar comigo”. Passaram-se os seis meses que necessitava para comprar a casa em Oklahoma eu estava morando em Arizona na casa de minha mãe quando o corretor me ligou para falar que a casa que eu estava a procura estava disponível.

Minha mãe disse que sou um castigo para ela porque ela não consegue mesmo entender o que se passa na minha cabeça.

Mas eu assinei o contrato. Finalizei a compra. Quero viver em Oklahoma na casa dos nossos sonhos. Vivendo a lembrança do nosso amor e a lembrança de um futuro que não tivemos.

A menina e o guarda chuva
Enviado por A menina e o guarda chuva em 04/07/2012
Código do texto: T3759271
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