"JUSTINO E AS CABRAS"

JUSTINO E AS CABRAS

Seu Antônio Severino da Cruz (Seu Tonho), tem um pequeno sítio, onde cria cabras. É daí que tira a maior parte do seu lucro, criando-as para o abate. Além disso, cultiva frutas, legumes e verduras, que vende, aos domingos, na feira da cidade...

Vivia sozinho até dois anos atrás, quando conheceu dona Mariinha, uma viúva, pessoa simpática, sem eira nem beira, que se engraçou com ele, visando ter uma vidinha melhor.

Começando por ajudá-lo nos serviços da casa, lavando a sua roupa e fazendo a sua comida, acabou fisgando o velho solteirão e assim, os dois casaram-se.

Daí pra frente, a vida financeira do sítio melhorou, porque tendo sua mulher em casa para fazer o serviço, podia dedicar-se mais às suas cabras e à sua plantação... Entretanto, quando tudo parecia caminhar bem, seu Tonho recebeu um telefonema da Toninha, filha que tivera com uma prostituta, no lugar onde morou, antes de comprar o sítio... Na verdade, seu Tonho nem tinha muita certeza se a Toninha era mesmo sua filha. Deu-lhe o nome, mas pouco a visitava, esporadicamente, dava-lhe algum dinheiro e isso bastava para que não passasse como pai ausente. Amor, nem tanto. Sentia por ela, somente, um pouco de pena. Depois que Toninha arranjou um homem , amancebou-se com ele e o pai, então, eximiu-se de ajudá-la...

Mas, quando o telefone tocou, não foi para lhe dar boas notícias: a filha, chorando, pedia-lhe que a ajudasse porque o safado do marido dera no pé, deixando-a embuchada.

Seu Tonho, revendo o seu passado, sentiu que tinha obrigação de ajudá-la, mesmo porque ela ia lhe dar um neto e esse neto era o sonho da sua vida. Precisava dar continuidade à sua família, um herdeiro para tocar o seu sítio quando ele se fosse... Antes de dar a notícia à mulher, pensou no que seria a sua vida, depois do nascimento do guri. Imaginou mil coisas, inclusive trazer a filha e o neto para morarem no sítio... Assim ficaria mais tranquilo para cuidar e educá-lo para sua sucessão... Depois de tomar algumas providências com relação ao sítio, chamou a mulher:

- Mariinha: vou ter que ver minha filha mais a miúde... O marido abandonou-a com um filho na barriga. Ela tem esperança que ele volte mas, caso isso não ocorra, terei que visitá-la todos os dias para dar um suporte no que for preciso. Quero que esse neto nasça com muita saúde!!! Se possível, gostaria de trazê-lo para criá-lo aqui comigo... Mulher, o quê que você acha?

- E a mãe de sua filha, por onde anda? Perguntou-lhe a mulher...

- Ah, morreu, faz anos... A órfã, menina ainda, foi morar com a avó materna que, também, já faleceu. Depois se perdeu com o pai dessa criança e foi morar com ele. Já que tinha marido, parei de ajudá-la... O resto, você já sabe...

- Mas Tonho, o que vai ser do sítio?...

- Fique tranquila, Mariinha. Já contratei um peão para tratar das cabras e do cultivo, mas estarei aqui sempre à tardinha...

- Mas vai deixar o sítio na mão de um estranho?...

- Escute Mariinha... Tive ótimas referências dele. Chama-se Justino, é um peão forte, trabalhador e muito responsável. Já reservei, para ele ocupar, o quartinho lá nos fundos, próximo ao pasto, onde passa o córrego de água limpa. Soube, também, que é pau pra toda obra... Se tiver algum problema aqui dentro do sítio, como trocar uma lâmpada, consertar o chuveiro, sabe como é, coisas que as mulheres nunca sabem fazer, pode chamá-lo que ele faz.

- Tá bem, Tonho. Já entendi...

- Sabia que você ia entender... Enquanto isso, nas horas vagas, vá tricotando uns sapatinhos de bebê para o meu neto...

Nos dias subsequentes, quando chegava à casa, ia olhar as cabras e ficava satisfeito por vê-las bem tratadas e bem alimentadas, com as tetas abundantemente cheias. Com o cultivo, nem tanto, mas... nem sempre pode-se ter tudo perfeito, né?... _ pensava com seus botões_ admitia, até, em dar ao peão, um aumento no seu salário...

Dona Mariinha não tivera, ainda, a oportunidade de conhecer o tal peão. Curiosa, foi até o pasto e ficou escondida, atrás de uma árvore, observando-o, de longe... Pode ver que tinha músculos fortes, com várias tatuagens... Sentado na grama, de costas para ela, não podia ver seu rosto. Ademais, as cabras sentadas à sua volta, desfrutavam do solzinho da tarde e da carícia que Justino lhes distribuía. As adultas, chegavam-se mais perto, como a pedir carinho ou aconchego. De repente, Justino levantou-se e ela pode ver-lhe o rosto... Era jovem, podia ter, no máximo trinta anos...

Mas o que ela viu, jamais esperaria ver... Justino, já de pé, pegou por trás, a cabra Marieta, justamente a queridinha do marido, a que nunca seria vendida. Era a maior das cabras, branca e preta, mais branca do que preta e, acariciando-a, satisfez ali, mesmo, o seu instinto lascivo...

Sem ser vista, Mariinha voltou para casa, mas aquela cena, não lhe saía da cabeça. Estava excitada. Na cama, ao lado do marido, não conseguia dormir. Percebendo a insônia da mulher, Seu Tonho perguntou:

- Que é que você tem, mulher? Está com dor ou estressada...?

- Não, Tonho, meu mal é carência afetiva... Percebo que, depois que soube da perspectiva de ter seu neto, não liga mais pra mim... Nâo me procura mais, acho que não represento nada pra você...

- Nada disso, Mariinha... Entenda que essa viagem todo dia, deixa-me cansado e louco pra dormir. Minha filha está com gravidez de risco, não pode fazer esforço e tudo recai sobre mim. Já pensou se ela perde essa criança e o meu sonho? Vai pro brejo!...Credo em cruz!!

Mariinha teve que se conformar... Ultimamente, Tonho já não se interessava muito por sexo ; só fazia planos de como criar e educar o netinho. Sim... porque era, mesmo, um menininho que iria nascer e ele estava feliz...

Enquanto relegada pelo marido, Justino satisfazia-se com as cabras. Era realmente uma situação esdrúxula... Seus pensamentos envolviam-na como se estivesse naqueles braços, sorvendo a deliciosa ventura de tê-lo só pra si... Sentia ciúmes daquelas cabras, passara a odiá-las , não tinha cabimento, com um marido frouxo que não dava mais no couro e ela ali, morrendo de paixão pelo Justino, o Peão. Um vazamento na pia do seu banheiro foi a oportunidade que surgiu para atraí-lo. Chamou-o e ele, prontamente se propôs a resolver o problema para ela...

Justino, como sempre prestativo, logo que chegou ao sítio perguntou onde era o vazamento:

- É aqui no banheiro do meu quarto. Venha... Por favor...

Compenetrado no seu trabalho, nem percebeu que ela o rodeava, vestida com uma camisola transparente. Mas, ao terminar o trabalho, pelo olhar malicioso de Mariinha e pelo , andar cadenciado, captou que ela o estava tentando... Então falou:

- Patroa, a senhora aí, com essa camisola... Por que? O seu marido está para chegar?

- Não Justino, coloquei-a para você... Não gosta?

- Gosto né, dona... mas não posso fazer isso... A senhora é mulher do meu patrão e eu não posso fazer uma traição dessas... Além do mais, não quero perder meu emprego. Logo agora que arrumei esse trabalho, com carteira assinada e tudo. Ainda tenho o meu quartinho que o Patrão me deu para morar e assim poder ficar perto das cabras, minhas amigas...

- Não seja bobo! Meu marido só chega à noite... Temos a tarde toda para nós dois... Antes que Justino fugisse, ela o agarrou, jogou-o sobre a cama e lançou-se sobre ele como se fosse uma onça esfomeada... Sem forças para resistir e, não tendo alternativa , tomou-a e, abruptamente, satisfez o desejo daquela louca desvairada... Arrependeu-se logo:

- Não devia ter feito isso... Estou traindo o meu Patrão e estou arrependido...

- Pois eu, não me arrependo... Meu marido não liga mais pra mim, só pensa no netinho que vai nascer... Então, não se culpe... Mas, da próxima vez, tome um banho e não venha fedendo a bode...

- Não haverá próxima vez. A senhora pegou-me desprevenido e isso, não vai se repetir...

Mariinha preferiu não argumentar. Sabia que teria outras oportunidades, nem que tivesse que procurá-lo no quartinho...

Nessa noite, seu Tonho trouxe uma novidade, não muito alvissareira: seu genro voltou para a filha , pediu milhões de perdões e os dois se acertaram.

Seu Tonho, agora, mais presente, ficou mais difícil para Mariinha ter, de novo, o Justino. Mas não titubiou, no domingo, assim que o marido saiu para a feira, foi ao quartinho do Justino, tentá-lo novamente. Desta vez, ele reagiu severamente e a expulsou, chamando-a de adúltera, traíra e etc...

Mariinha não esperava essa reação do Justino..._ Ora essa, trocar-me pelas cabras mas, vai ter troco, vou me vingar...

Assim que o marido chegou da feira, no domingo, Mariinha foi logo dedurando:

- Sabe Tonho, o que eu descobri ? Que o seu empregado usa as cabras para fazer saliência?...

- kkkkkkkkkk... Ah, é isso? Que novidade! Todo peão, na roça tem esses costumes. Não liga não, mulher, finge que não vê

- Mas é um indecente...

- Não, aqui é comum, você viu como as cabras estão bem tratadas e felizes? Agora, vou avisar uma coisa: se eu souber que ele faz isso com a minha Marieta, ponho-o no olho da rua!!!...

Mariinha vibrou! Já possuía a arma que precisava para chantageá-lo. Daí em diante, ela o teria na mão, desculpe, na cama. Justino, para não perder o emprego, não teve escolha: tornou-se o amante da patroa... Forçado, é claro, porque ele não gostava mais dela do que das cabras e, por vingança, também, nunca tomava banho, vinha sempre fedendo a bode...

Vez por outra, Mariinha pensava no ciúme que o marido tinha da sua querida cabra Marieta e ficava a dúvida: _ Será que ele, também, mantinha um romance com ela, antes de me conhecer?_ Nunca soube...

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 30/06/2012
Reeditado em 01/07/2012
Código do texto: T3753363