O Clube da Morte - Cap. I, segundo ato.
Capítulo I, segundo ato – As sombras podem matar
Jaziel estava suando, seus olhos cerrados e expressão de angústia indicavam um torturante pesadelo sonhado para quem o visse ali, deitado, se contorcendo. Subitamente o rapaz num pulo abriu os olhos gritando; “Vortex Scarlate!”. Alguns segundos de reconhecimento de ambiente, e Jaziel se identificou com o seu quarto, sua cama encharcada de suor encarava-o tranquilizante, como quem diz; calma, tudo não passou de uma realidade fabricada, um pesadelo. Coçou a cabeça e tentou reorganizar as imagens na sua mente, se tudo não passava de um pesadelo como raios havia voltada da biblioteca para casa? Após alguns esfregões nos olhos e bocejos, olhou para o relógio na cabeceira da cama que gritava: atrasado! Deveria ter acordado há pelo menos uns vinte minutos, pulou da cama, correu até o banheiro, jogou uma água na cara e com a roupa do corpo - a mesma que havia passado a noite na biblioteca e dormindo - correu para o andar de baixo, e dali para fora a caminho da escola.
No caminho encontrou seus dois melhores amigos; Yasmin e Yago, um casal de irmãos com o qual havia crescido junto. Yasmin era uma simples menina caseira, de um fácil sorriso lindo, cabelos castanhos claros e olhos verdes, por quem Jaziel nutria uma paixão escondida. Yago costumava ser um menino simpático e cortês com todos, e especialmente carinhoso com a irmã, mas Jaziel havia percebido que há algum tempo estava cada vez mais calado, sisudo e sombrio. Seu cabelo era lizo e absurdamente negro, seus olhos outrora vívidos, igualmente negros, estavam cada vez mais distantes e fúnebres:
- Jaziel!!! Que prazer em vê-lo, bom dia! :D – disse em alta voz Yasmin, martelando a doída cabeça mal dormida de Jaziel.
- Bom dia Yasmin, oi Yago.
- Oi. - Respondeu o rapaz sem olhá-lo, nem esboçar qualquer reação.
- Estudou para a prova de história? Parece que será dificílima, apesar de achar que não será um desafio a sua altura! - Desfazia-se em euforia Yasmin.
- Claro que estudei, passei a noite em claro ontem estudando. Quer dizer, parte da noite. - nesse momento, Jaziel notou um olhar de canto de olho perverso de Yago.
- Ah, você diz isso para eu não me sentir mal com as minhas evidentes limitações. Enfim, você é muito modesto.
- Gente – interrompeu Yago – vão caminhando na frente, esqueci de fazer uma coisa.
- Nós te esperamos. - Fitou-o sério, Jaziel.
- Não, podem ir, estamos atrasados e não quero atrasar ninguém ainda mais.
- Mas a prova é só no segundo horário! - completou Yasmin.
- Mas eu não quero me sentir responsável em atrasar ainda mais vocês. - os dois amigos ficaram observando Yago por alguns minutos, até Yasmin se antecipar:
- Tudo bem então, nos vemos na escola.
- Nos vemos. - Afastou-se Yago andando para a direção contrária.
- O seu irmão tá cada vez mais estranho Yasmin.
- Cada vez mais, semana passada eu o flagrei conversando sozinho algumas vezes.
- Sua mãe não percebe essa mudança repentina de comportamento?
- Percebe mas, ela acha que pode ser culpa dos hormônios, ele pode estar enfrentando uma fase de mudanças e não está sabendo lidar bem com isso.
- É provável mesmo.
Enquanto Yasmin contava sobre o seu final de semana em uma festa de família, perdido em pensamentos, Jaziel preocupava-se apenas em parecer interessado nos casos contados pela amiga, quando na verdade, estava lembrando dos detalhes do pesadelo que havia tido - as imagens absurdamente reais o perturbavam. Ainda bem que foi apenas um pesadelo, concluiu precipitadamente enfiando as mãos no bolso. Seu coração pareceu parar de bater por alguns segundos, sua respiração sim, parou completamente, quando sentiu na mão direita, em seu bolso, o formato e consistência de uma carta.
- Eu não posso fazer isso com o meu melhor amigo!
- O seu melhor amigo agora sou eu. - disse a criatura negra, corcunda, de chifres enormes.
- Mas Jaziel é uma boa pessoa.
- Obedeça Yago.
- Que foi menino? Parece que você tá passando mal! - Encarava-o, preocupada, Yasmin.
- Não, eu estou bem, só vou ao banheiro rapidinho, daqui a pouco eu subo para a sala, pode ir na frente.
- Ah, banheiro, entendi. XD
- Não! Argh. Eu só preciso jogar uma água na cara.
- Fica tranquilo, eu também faço essas coisas, é normal. Vai lá usar o seu banheiro. - Aff, esbaforiu Jaziel enquanto virava o corredor, agora eu sou um cagão pra menina que amo. No banheiro, trêmulo, Jaziel pegou a carta, com o desenho da menina de corpete preto, subtitulada Scarlate; como eu temia, disse consigo, sem conseguir desviar os olhos da carta. Lembrou-se das orientações do homem misterioso da noite anterior, apontando a carta para cima, e depois jogando-a no chão. Nada aconteceu.
- Não é assim miserável, vai sujar Scarlate jogando-a no chão do banheiro. - Disse a mesma voz delicada que Jaziel já conhecia. Olhou para trás, e lá estava o homem de venda nos olhos, sobretudo marrom e faixas brancas nos punhos, sentado na pia do banheiro, mordendo uma maçã.
- De onde você é para aparecer do nada? Como você enxerga com essa venda nos olhos? E o que raios aconteceu ontem?
- Não há tempo para perguntas agora, pegue a carta no chão.
- Por que?
- Um demônio está vindo buscar a sua alma.
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