A morte usa calcinha

Baton vemelho, mini saia de couro, blusa decotada, salto 15 lá estava ela novamente na avenida, vestida para guerra. Pelo menos uma vez por mês ela dava as caras por lá sempre perfumada era daquelas garotas que podiam escolher o cliente,faziam fila pra comprar o “produto” sabe? Causava inveja das outras meninas, só não dava confusão porque ela dispensava a maioria dos caras até proposta de casamento dizem que recebeu, gostava mesmo era dos casados, dizem que não dispensava uma aliança aliás era o requisito para adquirir o produto, fazer o que? Preferências são preferencias eu sei de preferências muito piores, ninguém sabia seu nome a chamavam de “a mulata do baton vermelho” é só isso que eu sei. Fiquei sabendo da sujeirada pelo jornal também pudera seus rosto é capa de tudo quanto é jornal, agora além de disputada ela tá famosa aliás acho que não mais disputada. disse o velho soltando uma gargalhada tão alta que deixara os presentes surdos.

- Se é tudo isso que sabe, pode se retirar por favor. Disse a delegada Silvia com a cara de enojada

- Esses depoimentos não fazem nenhum sentido. Por qual motivo uma mulher de 25 anos formada em dois cursos superiores gerente de uma multinacional com um salário de 8 mil reais, toda gostosona sairia por ai de avenida em avenida fazendo programa pra ganhar alguns trocados? Questionou o policial Esteves.

- Tá na cara que ela não rodava bolsinha pelo dinheiro, imbecil. Ela estava atrás de outra coisa precisamos fazer uma investigação mais a fundo, está faltando alguma coisa nessa estória precisamos descobrir por que este. Respondeu a delegada no seu tom arrogante habitual

- Quem é o próximo a ser interrogado Dra. Silvia? Perguntou o policial mostrando curiosidade com o caso.

- Hummm deixa eu ver ... Patrícia Viana, uma colega de trabalho, pode chamar.

Logo entrou na sala uma mulher de mais ou menos trinta anos vestida formalmente meia calça preta, salto alto, cabelos loiros preso em um coque, saias de linho na altura do joelho.

- Boa tarde, sente-se por favor – pediu Silvia

- Olha não entendo por que me chamaram, só sei o que vi nos jornais não posso ajuda-los em nada – disse a mulher um pouco assustada.

- Calma, estamos fazendo um procedimento de práxe precisamos saber sobre rotina da suspeita e a senhora poderá nos ajudar. Falou Esteves tentando acalma-la

- O que querem saber? perguntou secamente.

- Tudo! – respondeu a delegada

- Tudo? Como assim tudo? Peguntou ainda mais confusa.

- A quanto tempo trabalham juntas, como era o comportamento na empresa, o que acha dessa estória toda?

- Trabalhamos juntas a mais ou menos 2 anos,nunca imaginei que ela poderia se meter numa coisa dessas, ela sempre foi uma pessoa séria e fechada, de poucos amigos para ser mais exata posso dizer com certeza que ela era uma pessoa de extrema confiança e acima de qualquer suspeita, ninguém tem dúvidas da sua capacidade profissional, ela era uma das gerentes de maior prestígio na filial, todos nós funcionários estamos em choque com que está saindo nos jornais, eu particularmente acredito que deva haver algum engano, não acredito que ela seria capaz de fazer tudo isso que estão falando.

- Profissional ... irônico não? – disse Esteves dando uma risada

- O que sabe sobre a vida pessoal da suspeita? – perguntou a delegada ignorando completamente o policial.

- Bom como já, disse ela é uma pessoa fechada não falava muito da sua vida pessoal, mas lembro muito bem que quando fui contratada como sua assistente a dois anos atrás que ela era casada, lembro-me muito bem que várias vezes recebia flores e bilhetes mas é só isso que sei.

- Ok, obrigada se precisarmos de mais alguma coisa a chamamos novamente. – disse a delegada

- Eu não sei de mais nada – disse Patrícia dando as costas.

- Hummm.. esse caso tá ficando cada vez mais interessante uma mulher jovem, rica, bem sucedida metida nessa sujeirada .... – Disse a delegada pensativa

- Verifique se já conseguiram a gravação do motel, traga-me também as fotos o laudo do legista. E uma pergunta o que a suspeita disse até agora?

- Dra desde terça feira quando a prendemos ela não abre a boca nem pra se defender, se mantém totalmente calada. Respondeu Esteves.

- Ahh, já ia me esquecendo encontraram alguma prova no local do crime?

- Sim Dra Silvia, um fio de cabelo e várias impressões digitais por toda parte, as digitais foram levadas para uma análise até o final da tarde recebemos o resultado o cabelo ainda não foi possível levar pois a suspeita se recusa a fornecer material biólogico para fazermos a comparação.

- Traga-me o fio de cabelo e busque imediatamente a atendente do motel quero falar com ela. Ordenava a delegada em um tom autoritário.

- Ok – respondeu Esteves anotando tudo em uma agenda.

A tarde correu tranqüila na delegacia, Silvia ficara trancada o dia todo em sua sala pensativa, era realmente um caso curioso apesar de já ter visto coisas muito piores alguma coisa não se encaixava , temos a suspeita, a vítima mas não temos nenhum motivo que levaria a suspeita a fazer tudo aquilo, já se passava das quatro da tarde quando Esteves retornou trazendo consigo tudo que tinha sido pedido.

- Está tudo aqui o que me pediu delegada, a atendente do motel aguarda lá fora as fotos estão nessa pasta preta, irei preparar a sala de video para assistirmos a gravação.

- Chame a atendente quero falar com ela ... disse Silvia surpresa com a eficiência do policial.

- Pode entrar Fernanda a delegada te aguarda.. falou o policial saindo rapidamente.

- Oi boa tarde, sente-se por favor. Pediu a delegada olhando nos olhos de Fernanda

- Por que eu estou aqui? Eu to presa? Perguntou a atendente assustada.

- Não, não. Está aqui para esclarecer algumas dúvidas.

- Vamos lá então, o que quer saber?

- A quanto tempo trabalha no motel Afrodite Privê? No dia do crime como estava o movimento? Lembra-se de ter atendido a vítima naquele dia?

- Olha dona, não quero me compremeter quem quer que tenha feito aquilo com homem era uma pessoa muito cruel e eu não quero que aconteça nada comigo.

- A não ser que queira ficar presa vai falar tudinho que sabe. Tudinho... respondeu a delegada em um tom ameaçador.

- Eu trabalho a sete meses no motel. Naquele dia o movimento estava normal pra uma sexta feira muitos carros entrando muitos saindo ... lembro sim daquele cara era impossível não me lembrar, aquele “carraço” chama a atenção eu nunca tinha visto um tão grã-fino, lembro-me muito bem quando ele me pediu a suíte mais cara e entrou ... encontrei ele duas horas depois amarrado naquela cama todo ensanguentado.

- Você conseguiu quem era o carona? Já tinha visto a suspeita alguma vez na vida? Quanto tempo demorou da entrada até você encontrar o corpo? O que fez quando encontrou?

- Não, não conseguir ver ninguém além do moço, nunca vi aquela mulher na vida, demorou 3 horas, oras quando vi ele daquela forma eu liguei pra uma ambulância estava desesperada com aquela cena os dois olhos furados, seu pênis estava dentro da banheira, eu não quero mais me lembrar daquele dia, por favor me deixe ir ... – pedia Fernanda chorando.

- Tudo bem Fernanda, pode ir se precisarmos de mais alguma coisa entramos em contato.

- Aquela vagabunda só pode estar mentindo, não há nada que ligue nossa suspeita com a vitima ou o local do crime, só pode estar tentando tirar a suspeita da avenida, mulheres podem ser tão baixas quanto os homens... por mais que eu pense não consigo encontrar o que está faltando ... disse a Silvia a si mesmo.

Na sala de video a delegada e o policial assistiam a gravação repetidas vezes tentando encontrar alguma coisa que pudesse ajudar na solução do caso, mas em vão só era possível ver o horário da entrada e nada mais, nenhum rosto, nenhuma pista ....

Creio que fomos enganados por aquela biscate, só pode ter denunciado a suspeita por inveja.

“ o clientes faziam fila para adquirir o “produto” lembra? Mulheres desunidas ô raçaa! Se não encontrarmos nada que a ligue ao crime vamos ter que solta-la - falava a delegada nervosa.

- A não ser que tenhamos acesso ao material genético da suspeita para compararmos ao fio de cabelo ... disse o policial

- Genial, Esteves você está me surpreendendo ... traga-me a suspeita, já tá na hora dessa vaca abrir a boca, quero o fio de cabelo encontrado também, rápido!!

O policial ficava louco com as ordens da delegada, ela mandava, mandava, mandava já estava se acostumando em obedecer, logo ele que sempre disse que lugar de mulher é na cozinha obedecendo ordens de uma, era realmente constragedor pra ele, “VADIA, FEMINISTA DO CARALHO “ pensava ele toda vez que recebia uma ordem, mas no final colocava o rabinho entre as perna e a obedecia como um cachorrinho adestrado, alguns minutos voltando com que fora ordenado.

- Está aqui Dra Silvia o fio de cabelo que foi encontrado junto ao corpo e a suspeita te aguarda.

- Mande a entrar – mandou a delegada pegando o fio de cabelo em um saquinho plástico das mãos do policial.

- Sente-se Luana, precisamos ter uma conversa de mulher pra mulher ... nos deixe a sós Esteves.

Esteves concordou com a cabeça, deixando as duas a sós no local.

- Querida Luana, não entendo por qual motivo estar aqui hoje, uma executiva de sucesso rodando bolsinha na avenida Brasil? É no mínimo engraçado esse tipo de “hora extra”, o que você faz ou deixa de fazer com a sua “perseguida” eu não tenho nada haver com isso, desde que ninguém morra. Tá vendo essas fotos horriveis? São do homem que você matou na sexta dia 19 tá lembrada? Perguntou a delegada dando uma risada irônica

- Eu não fiz isso, não fui eu. Falou Luana abrindo a boca pela primeira vez.

- Não tente me enganar minha cara, sou uma mulher vivida posso ver que você é a culpada nos seus olhos e outra está vendo esse envelope na minha mão? Nele contém o resultado da comparação entre o fio de cabelo encontrado no corpo e um fio de cabelo encontrado ontem em seu travesseiro... fim da linha, não tem como você fugir, poupe seus esforços para parecer inocente para o jurados. Você mexeu com tubarão, você deve saber quem foi sua vitima né? Filho do governador do estado, casado, pai de duas crianças. Mate minha curiosidade porque ele?

Luana ficou pálida com as acusações da delegada,“estou sem saida pensava sem parar”.

- Eu confesso fui eu mesma que acabei com a vida daquele porco... respondeu sem mostrar nenhum remorso.

Silvia se mostrou em estado de euforia total, sua jogada tinha dado certo.. o que um envelope vazio e uma voz ameaçadora poder fazer pensava....

- Qual foi o motivo? Eu não entendo, ele não qui pagar seus pagar seus “50 real” disse Silvia debochando.

- Não foi isso. Nunca fiz programa não preciso, nunca transei com nenhum desses porcos... sou uma mulher rica, eu não fico na avenida atrás de dinheiro, a estória é muito longa ...

- Tempo é o que vc mais tem agora atrás das grades , vamos lá comece a falar.

- Eu já fui casada, amava muito o meu marido nossa vida era maravilhosa posso dizer que os primeiros anos de nosso casamento foram os melhores da minha vida, até que ... ele começou a chegar em casa cheirando esses puta barata, já não me tratava como antes, já não me mandava mais flores, chegava bebado em casa... foi então que comecei a desconfiar que ele me traía e resolvi segui-lo, no primeiro mês ele me traiu com 17 eu estava desolada não conseguia mais pensar em outra coisa, eu o amava tanto pra ele fazer isso... ele nem desconfiava mas toda vez que ele freqüentava o galinheiro eu ficava sabendo, até que um dia cheguei nele e falei que sabia de tudo já não aguentava mais sofrer calada, ele deu de ombros não tava nem ai pra mim só queria saber dessas vadias, eu o amava tanto que não conseguia pedir o divórcio e ficava aguentando suas corneadas calada, a exatamente um ano em um exame de rotina descobri que sou soro positivo, foi ele o homem que mais amei na minha vida que me passou isso... ele transava com essas cadelas sem camisinha, você não deve entender o que é isso... eu o amei tanto pra receber isso em troca, ao ficar sabendo pedi o divórcio e até onde eu sei ele morreu a oito meses em decorrência do virus... esse cara de sexta feira não foi o primeiro que matei, já foram vários que nem me lembro desde que descobri que estou doente eu saio na avenida procurando os casados. Não quero que aconteça o que aconteceu comigo a mais ninguém esse é o motivo de te-lo assassinado ele era casado e ciscava em outros galinheiros, eu fiz um bem a sociedade a matar todos esses cafajestes. Disse Luana chorando.

A delegada estava boquiaberta com tal revelação, nunca antes em sua carreira tinha presenciado um caso assim...

- Suponha que este envelope que te mostrei não tenha nenhuma exame, por um segundo imagine que eu joguei verde, imagine também que a única prova consistente que ligue você ao crime é esse fio de cabelo... e se misteriosamente esse fio desaparecesse, o que você acharia dessa estória?

- Mas a senhora faria isso por mim?

- Eu pedi para imaginar, querida.

- Seriamaravilhoso quero viver meus últimos dias de vida livre, apesar de tudo eu ainda tenho muito a fazer.

- Então eu tenho um trato a fazer com você. Nós nunca tivemos essa conversa, eu não sei de nada e esse fio de cabelo não existe mais. Disse a delegada queimando o fio de cabelo com um esqueiro.

- Mas o que vai dizer aos outros, quando perguntarem desse fio?

- Oras esquece que eu também sou mulher? Perguntou Silvia tirando um fio do seu próprio cabelo e colocando-o no lugar

- Mas...

- Mas nada querida, você vai sair dessa sala e vai nos liberar material biológico para que possamos fazer um exame, obviamente o resultado deste será negativo sendo assim não teremos motivo para mantê-la aqui...

Tudo saiu como o planejado, Luana foi liberada por falta de provas, nada ligava a suspeita ao local do crime, mesmo com toda pressão politica em cima do caso não foi possivel localizar um culpado para o crime, o caso foi arquivado e tudo voltou ao normal ...

Baton vemelho, mini saia de couro, blusa decotada, salto 15 lá estava ela novamente na avenida, vestida para guerra...

Leonardo Coutinho Silva
Enviado por Leonardo Coutinho Silva em 10/06/2012
Reeditado em 10/06/2012
Código do texto: T3716285
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.