A mulher do pijama listrado

Numa noite fria e chuvosa, próximo à rua das laranjeiras, vagava, sem rumo, uma mulher com pijama listrado. Sua fama se espalhou na pequena cidade de Mutuípe, interior da Bahia.

Há quem diga que a tal mulher gostava de assustar os moradores daquela região, por ter tido suas terras roubadas por grileiros e fazendeiros. Conta que ela, para não morrer queimada junto com sua família, fugiu trajando apenas um pijama listrado, embreando-se na mata e nunca mais foi vista por lá.

A mulher de pijama listrado retorna à cidade na qual foi criada, anos depois, em busca de fazer justiça por conta do ocorrido com a sua família.

Ela elabora um plano para botar os fazendeiros que roubaram suas terras para correr. Começa uma série de fenômenos estranhos para assombrar a todos que se apossaram de suas terras.

Nesta fazenda, tinha um enorme tanque que seu pai havia construído para armazenar água e se precaver para quando chegasse a seca: garantia de sobrevivência futura dos animais e das plantações.

Ela, sabendo a importância disso, mas conhecendo a forma de como esvaziar esse reservatório, põe seu plano em ação.

Os fazendeiros ficaram preocupados ao verem o tanque secar repentinamente. Como o tempo da estiagem estava próximo, aquela água era a única garantia que eles tinham para dar de beber ao gado.

Meses depois chegou a estiagem e os fazendeiros ficaram desesperados, pois não tinha água para dar de beber ao gado e molhar as plantações da lavoura. As terras, antes férteis, foram ficando desvalorizadas e os fazendeiros começaram a perder dinheiro.

A mulher de pijama, determinada a fazer justiça, põe em ação a sua outra parte do plano, começa a furtar as cabeças de gado uma por uma e esconder na mata fechada onde todos tinham medo de adentrar por conta dos boatos que ouviam dos mais velhos sobre a mulher de pijama listrado.

Os fazendeiros, ao verem o gado sumir repentinamente e não tendo ideia do que estava acontecendo, pede ao padre para rezar uma missa. O que eles não sabiam é que a finada, na verdade, estava viva e disposta e rever suas terras.

Em continuidade ao plano, a mulher de pijama listrado ainda furta pequenos animais: porcos, galinha, cabras e leva tudo para a mata fechada.

Até que em uma bela noite de lua cheia, com ventos que pareciam assobiar de tão fortes que estavam, ela resolve aparecer em pessoa, na hora da janta na qual estavam reunidos o fazendeiro e a sua família.

Foi um corre corre de louco! Chamando por Jesus, Maria e José, o fazendeiro dizia: ou mulher de pijama listrado, diga-me o que você quer?

- Que a Virgem, Nossa Senhora, dê descanso a essa mulher!

Então ela diz:

- Se você quer ter paz na vida, saia das minhas terras. Um dia você massacrou minha família, me botou para correr e hoje eu estou aqui e daqui não saio, quem sai é você!

O fazendeiro, tremendo de medo, diz a mulher:

- Mandei rezar uma missa para você, pensei que sua alma ia descansar, o que é que eu vou fazer para você desaparecer?

- Volto amanhã à meia noite, não queira nem saber o que vai acontecer, não me atraso para o encontro, amanhã você vai ver!

Ao ouvir o recado da mulher, o homem ficou branco igual a um algodão. Sua mulher com medo disse:

- Zé, vamos embora! Não quero ver essa mulher!

O fazendeiro, medroso como era, abandonou a fazenda junto com sua família e nuca mais voltou àquelas terras.

A mulher de pijama voltou para suas terras e tocou a fazenda, dizem até que se casou. É o que a cidade ficou sabendo: de fantasma ela não tinha nada. Era mais viva do que todos naquela cidade.

Quanto ao fazendeiro dizem que até hoje ele corre com medo da assombração da mulher de pijama listrado e provavelmente não retorne tão cedo à cidade de Mutuípe.

Fim

Autora: Elisete Soares Moreira

Elisete Soares Moreira
Enviado por Elisete Soares Moreira em 05/06/2012
Reeditado em 24/07/2022
Código do texto: T3707560
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