A Casa, o Diário e o Chaveiro

(Este conto será publicado pelas editoras Literata e Corujito, estando portanto, sob licença copyright, você não pode reproduzir esta obra ou parte dela para uso pessoal ou comercial sem a permissão do autor)

Sexta-feira, 09 de Dezembro de 2011

Estamos nos mudando. A casa é afastada, mas é grande e relativamente barata. Depois de meu pai ter tido sérios problemas com alcoolismo e perdido seu emprego como redator na Folha de São Paulo, teremos que diminuir o padrão de vida. Nos mudamos para o interior do estado e meu pai conseguiu um emprego como cronista e redator de meio expediente no jornal local, e está frequentando os Alcoólicos Anônimos.

Tenho dez anos, farei onze em Março. Apesar dos últimos problemas devido à bebida, não tenho memórias ruins do meu pai. Lembro-me de admirá-lo e especialmente admirar o seu trabalho. Tanto que aprendi a ler com jornais e, desde pequena, gosto de escrever sobre tudo o que vejo. Meu pai encorajou-me tanto quanto pôde, especialmente me dando esse diário para cobrir eventos do cotidiano, e volta e meia me sugeria “matérias” para ele.

A última coisa que ele pediu que eu cobrisse foi exatamente a já citada viagem e a fase de adaptação à nova casa. Agora são 9:30 da manhã e estamos partindo do centro de São Paulo em direção à cidade. Faz frio, está nublado e a chuva é fina. A viagem dura cerca de uma hora de 40 minutos.

Chegamos a casa. Faz um estilo de mansão antiga, um bocado assustadora. A casa é muito grande, com várias salas e passagens secretas talvez. Eu e meus irmãos ficamos encarregados de explorá-la. Há muita mobília e quadros antigos por ali. Tudo parece vir de outra época, de séculos atrás.

Cada um de nós escolhe o seu quarto, meus irmãos correram para pegar os quartos maiores, mais bem arejados, mais bem localizados, etc e etc. Eu não escolhi um quarto, fui escolhida. É estranho de se entender, parece que alguma coisa me chamava para o quarto minúsculo que ficava num canto esquecido da casa. Depois de meus pais tentarem me convencer de que aquilo se parecia mais um depósito que um quarto, acabaram me deixando dormir ali por aquela noite.

Sábado, 10 de Dezembro de 2011

Eu não sei o que havia de tão diferente naquele quarto desde que entrei nele. A atmosfera, sei lá. Parecia que o ambiente era mais colorido, mais iluminado, apesar de ser um quartinho escuro com apenas uma pobre lâmpada incandescente no teto. Dormir lá foi uma sensação muito agradável, sentia quase como se alguém me acariciasse enquanto estava inconsciente. Uma mão leve e gelada, porém terna.

Acordei um pouco arrepiada com a estranha sensação que tive. Não me lembrava de ter sonhado com nada, olhei em meu celular para ver que horas eram. Já eram pouco mais de nove horas, meus pais já deveriam estar acordados, resolvi descer. Passei pelo corredor. O piso de madeira rangia como se gemesse, e era de um sofrimento angustiante. Ele se envergava tanto ao ser pisado que fiquei com medo de que pudesse ser partido no meio e eu jogada ao primeiro andar.

Ao me aproximar da escada, ouvi vozes graves, risadas indistinguíveis. Meus pais deveriam já estar tomando café. Apressei-me para descer a escada, tropecei em um dos degraus. O segundo que se sucedeu foi como uma eternidade, segurei-me por reflexo ao corrimão, pus minha mão sobre o seio. Meu coração queria saltar do peito. Fiquei tonta, minha visão turva.

Depois de me recuperar, olhei para o chão. Uma queda dali teria sido fatal. Voltei a descer a escada, menos afobada desta vez. As vozes agora eram reconhecíveis, meus pais, estavam discutindo...

- Merda de porta! Tenho certeza que a concertei na semana passada! Porque ela não quer abrir de novo, porra! - E girando a maçaneta puxava a velha porta emperrada contra si.

- Eu disse pra você que essa casa velha ia nos dar problemas, mas você não me ouve!

- Você queria o quê? Sabe que não temos dinheiro para nada melhor!

- Em breve com o que estamos gastando para reparos não teremos dinheiro para nada! Você viu aquele piso do corredor dos quartos das crianças como range! Parece que está rindo da nossa cara, só pode ser! Se um filho meu cair do segundo andar eu juro que... - Minha mãe estava cortando legumes e ao pronunciar esta última frase, apontou a faca na direção do meu pai. Este movimento assustou a nós dois.

Ao se dar conta do que estava fazendo, voltou a apoiar a faca sobre a mesa e abaixou a cabeça.

- Desculpe, Carlos, tem sido muito difícil pra mim...

- Pra todos nós, querida! - Disse meu pai olhando profundamente para ela. Foi quando minha mãe voltou-se em minha direção, tomando um susto.

- Ó, querida! Você está aí! Não era para ter ouvido isso, eu e seu pai só estávamos é, conversando.

- Eu sei que estavam brigando. Mas eu não ligo, sério, a casa é ótima. Especialmente o meu quarto.

- Eu não sei o que você viu naquele quarto! Aliás, nessa casa!

Neste momento senti alguém atrás de mim, uma presença, poderia jurar que cheguei a ver um vulto, mas quando me virei não havia nada. Então ouvi o som de um objeto caindo no piso de madeira. E minha mãe deu um berro.

A faca havia caído diretamente no dedão de seu pé que agora esguichava um jorro de sangue. Meu pai correu para atendê-la, amarrando um pano de chão na ferida e a apoiando-a em seu ombro. Saiu pela porta dos fundos, pegou a caminhonete e foi levá-la ao hospital.

Eu ainda não conseguia entender como a faca que estava no meio da mesa havia caído diretamente no pé dela e especialmente não havia entendido aquela presença que sentira atrás de mim, estranhamente parecida a que me tocava durante a noite, mas agora não mais terna, e sim assustadora.

Minha mãe voltou do hospital no mesmo dia, apenas com alguns pontos no pé, o corte havia sido profundo. Meu pai trouxe um almoço pronto para nós da rua e ajudou nossa mãe a preparar o jantar.

Domingo, 11 de Dezembro de 2011

Foi difícil dormir aquela noite, senti-a me observada, não mais por olhares aconchegantes, mas por olhares intimidadores. Via formas, sombras e figuras humanas se formarem em minha visão periférica, mas ao fixá-la não havia nada ali. Cheguei à conclusão de que era minha imaginação. Só fui cair no sono às 5 horas da manhã.

Meu pai me acordou.

- Querida, acorde, já são quase meio-dia! Você não tomou café de novo. Mas tudo bem, acho que você merece um descanso. Venha, se arrume, nós vamos sair para almoçar. Como está sendo a adaptação à nova casa?

Meio relutante disse que estava sendo boa. Meu pai achou que minha relutância fosse apenas sono. Foi tomar banho.

O banheiro era pequeno e apertado, especialmente o Box. Tirei minha roupa. Entrei. Liguei o chuveiro. Ajustei para a água quente e relaxei, tentando esquecer os estranhos acontecimentos do dia anterior, que afinal de contas, não foram nada. Eu achei ter visto alguma coisa, a faca caiu no pé da minha mãe, e isso me assustou tanto que eu fiquei a noite inteira com medo e achando que havia algo querendo me pegar.

É, parecia uma boa explicação. Talvez a faca nem estivesse tão no meio da mesa, talvez minhas lembranças estivessem confusas e a faca estivesse na beirada, talvez, talvez eu só precisasse relaxar e me acostumar com a nova casa.

O fluxo da água estranhamente diminuiu enquanto a luz decaia levemente. Dei um pulo de susto, escorreguei, tentei me segurar a alguma coisa, mas acabei puxando a toalha que estava pendurada no vidro do Box e caindo com tudo no chão do banheiro. Bati com a lateral da perna no chão e a cabeça na parede, com bastante força. Minha perna estava vermelha e minha cabeça latejava como se prestes a explodir, mas não como uma dor de cabeça qualquer, como se fosse literalmente explodir. Passei a mão por entre os meus cabelos, alguma coisa escorria ali.

Era sangue.

Dei um berro. Tentei me levantar, escorreguei novamente. A água parecia não escorrer pelo ralo, o banheiro estava começando a se alagar e a água que saia daquele chuveiro estava estranhamente quente. Em pouco tempo o banheiro estava coberto por uma névoa de vapor.

Arrastei-me em meio à água fervente até alcançar o registro. Virei com força, para os dois lados, mas a água não parava de cair. Continuei a gritar desesperadamente enquanto sentia aquela água me queimando.

Um estrondo na porta. Outro. Mais um. Desta vez a porta cedeu e meu pai adentrou o banheiro, me enrolando na toalha e me tirando dali.

Eu tinha queimaduras muito feias pelas coxas costas e nádegas, a água havia praticamente começado a me cozinhar ali. Algo agora ficava claro para mim: aquela casa não era normal, algo estranho estava acontecendo e se não fôssemos embora, em breve todos morreríamos.

Meu pai me colocou um vestido leve e desceu a escada correndo comigo no colo, eu desfalecia de dor e ameaçava desmaiar. A porta dos fundos, por onde estávamos saindo, pois meu pai ainda não havia tido tempo de consertar a outra, estava trancada. Ele me depositou levemente em cima do sofá enquanto foi procurar a chave, meus irmãos e mãe se aglomeraram ao meu redor assustados, num falatório que eu não conseguia distinguir.

Meu pai voltou com um molho de chaves. Tentou uma por uma, até que encontrou a certa, a rodou, mas ela estava agarrada, forçou e ela quebrou na maçaneta. Xingou, esperneou, chutou algo que estava na reta. Correu para a porta emperrada da cozinha, tentou de tudo, nada. Estávamos trancados. E eu precisava ir para o hospital.

Desesperado meu pai pegou o telefone. Sem linha. Pegou a lista telefônica, passou páginas como um louco, quase as rasgando. Discou do celular. Chamou a emergência e um chaveiro.

A ambulância logo chegou, também tentaram arrobar a porta, sem sucesso. Um dos paramédicos resolveu me passar pela janela. Primeiro ele mesmo quis atravessar. A janela agarrou também. Após certo esforço, cedeu. O médico passou metade do corpo e então, a janela desceu, voltando com tudo em cima de seu dorso. O médico se debatia de dor e chamou outro para ajudá-lo, a cena era terrível, o outro não conseguiu tirá-lo de lá. Alguém apareceu com um antigo machado do meu pai e começou a quebrar a janela completamente para libertar o médico. Colocaram-no na ambulância. Um novo atravessou a janela, me pegou nos braços e após um momento de distração, enquanto os de dentro da casa se preocupavam em me socorrer e os de fora em socorrer o médico. O acontecimento mais estranho daquele dia ocorreu.

Quando olhamos de volta para a janela. Ela estava inteira. E fechada.

A ambulância arrancou mesmo sem ter ninguém na direção e saiu correndo desgovernada. Os paramédicos correram atrás dela para tentar salvar seu companheiro que estava lá.

Todos menos um, o que havia ficado conosco. Umas nuvens estranhas para o clima da cidade escureciam o dia, deixando o tempo nublado. A casa em si já era escura, o que nos fazia ter um gasto excessivo com luz elétrica. E naquele momento todas as luzes estavam ligadas. E digo estavam porque no momento seguinte, já não estariam mais.

E a partir daí só houve choro e desespero.

Nos sentamos ao redor da última fonte de luz que conseguimos encontrar: um pequeno pedaço de vela cuja chama trepidava e ameaçava apagar, desenhando formas no fogo, na fumaça e nas sombras ao seu redor.

Tentei falar sobre o que sentia desde que cheguei à casa, mas minha voz travou da primeira vez, e da segunda, gaguejando, consegui transmitir a mensagem.

- Você não é a única que sentiu algo estranho. - Disse minha mãe. - Enquanto você estava no banheiro, eu senti algo vindo da cozinha, como se me chamasse. Era assustador, mas eu não tinha como evitar, não tinha como não ir até lá. E quando eu entrei na cozinha, só tinha um objeto lá: a faca, aquela que cortou meu pé. Quer dizer, não é que só tivesse um objeto lá, é só que eu só conseguia olhar para a faca, só conseguia prestar atenção nela, e ela era linda. - Minha mãe olhava para a escuridão à nossa volta enquanto falava, seu rosto não esboçava mais nenhum sentimento, mas lágrimas escorriam dos cantos dos olhos. - Peguei ela pelo cabo e olhei o meu reflexo no cabo. Mas o eu que estava lá refletido não era eu, seus olhos eram diferentes. E eu passei lentamente meu dedo pelo fio da faca, enquanto ela dividia minha pele ao meio, e o sangue jorrava. E isso foi ótimo. E então eu voltei minha faca na direção do peito, segurei bem firme o cabo, fechei os olhos e... e... e...

- E eu cheguei e tirei a faca da mão dela. Se não fosse isso, acho que teria se matado. - Agora era o meu pai quem dizia.

- E eu ainda tentei me livrar dele, e ameacei cortá-lo com a faca. Só depois que ele a arremessou longe que eu percebi o que estava fazendo.

O paramédico e meus irmãos não diziam uma palavra, apenas olhavam assustados de um lado para o outro, pareciam tentar entender o que estava acontecendo ali, o que era real e se não era tudo um sonho, um pesadelo.

Neste momento as luzes voltaram. Todos deram um grito em uníssono. Não que o fato da luz ter voltado fosse ruim, apenas que no estado de tensão em que estávamos, qualquer mínima alteração no ambiente já seria motivo para um grande susto.

Nos levantamos vagarosamente, ainda assustados. Gritos de dor, gemidos e pedidos de socorro, vinham da cozinha. Todos se entreolharam. Meu pai se armou de uma vassoura que estava num canto e se aproximou vagarosamente. Minha mãe tentou impedi-lo, mas ele pediu que ela ficasse quieta. Colou na parede, se aproximou e virou o rosto cuidadosamente para espiar a cozinha. E então gelou. Eu que seguia logo atrás dele, olhei e me paralisei também com a cena.

Alguém estava pendurado pelo pé no portal da porta, com chaves fincadas em todo o seu corpo e ferimentos graves por onde o sangue vazava formando uma imensa poça no chão. Olhava em nossa direção e agora já não conseguia mais gritar, apenas sussurrar um fraco “Me ajuda”.

E a porta... Estava aberta.

Mas ao invés de nos aproximarmos nos afastamos, muito lentamente, de volta para a sala, tentando esquecer a visão que havíamos presenciado. As luzes voltaram a se apagar, como se a casa só as tivesse acendido para nos mostrar aquela cena, para nos mostrar o que ela era capaz de fazer. Ou talvez, estivesse nos testando.

Foi então que eu vi tudo claramente. O quarto. Minha mente se abriu e a maneira de pôr um fim àquilo tudo soou óbvia em minha mente, ecoando. Peguei o pequeno pedaço de vela e subi as escadas correndo, enquanto meus pais, irmãos e o paramédicos me olhavam tão assustados que não conseguiriam me impedir, nem ao menos processar o que eu estava fazendo.

Diminuí o passo ao chegar ao segundo andar. A madeira se reclinava ainda mais que o normal, e seu gemido parecia estranhamente humano. Aproximei-me vagarosamente da entrada do quarto. Algo pulsava lá dentro. Uma presença, como a que eu havia sentido desde que entrei ali, mas agora maligna, irritada e sedenta por sangue.

Respirei fundo, tomei coragem e estendi o braço para tocar a maçaneta. Ela rodou sozinha. A porta se abriu. A luz se acendeu. A janela estava aberta e uma brisa fria como a morte entrava. A chama da vela trepidou e quase se apagou, dei um passo para trás. E então, entrei no quarto.

Sentei na minha cama e me pus a escrever tudo o que havia me acontecido durante o dia. Sabia que não tinha mais muito tempo, mas queria terminar isto ao menos. Que pelo menos pudesse servir de aviso aos outros que chegassem à casa, que fugissem enquanto pudessem.

A presença pareceu estranhamente esperar que eu terminasse. Pacientemente esperou que eu estivesse pronta. Abri a porta do armário, ali havia muitos insetos e eu era alérgica, por isso mantinha um pequeno estoque de repelentes e inseticidas no armário. Derrubei o que pude sobre o lençol, encharcando-o.

Uma sombra surgiu na janela. Uma criatura espectral adentrou o cômodo flutuando. Seu corpo era de um cinza transparente e não muito nítido, apenas contornos de um ser horripilante, com espinhos saltando pela pele, braços compridos que quase se arrastavam no chão, onde se prendiam correntes. Parecia estar coberto por um manto aos frangalhos, embora a separação entre manto e pele fosse indistinguível.

E seu olhar era raivoso, como se soubesse o que eu iria fazer e não conseguisse acreditar. Como se eu houvesse o traído. Então joguei a vela contra o lençol que logo estava em chamas. A criatura flutuou por cima do fogo, como se ele não a tocasse, se aproximou de mim. Esticou seu braço e passou sua corrente envolta do meu, prendendo-o. Agora eu já entendia tudo, ele esteve esperando por mim, para me prender, para

Aí termina o relato do diário de Emily. A casa entrou em chamas num famoso incêndio que se alastrou para outras casas da região. Porém no dia seguinte, nenhuma madeira da casa estaria chamuscada sequer, mesmo as cortinas e lençóis da cama estavam intocáveis, como se o incêndio nunca houvesse acontecido. E até este diário se encontrava inteiro. Não havia um único sinal de fogo na casa inteira. As autoridades disseram que o fogo simplesmente não havia chegada à casa, embora ela tenha sido onde ele começou. Fecharam-na, isolaram o perímetro, abafaram o caso, disseram que o diário era uma mentira inventada por alguém que conhecesse os estranhos acontecimentos da casa e o caso dos paramédicos desaparecidos. Mas eu sei que é verdade, eu estive lá, eu vi, eu senti. Vi quando a casa entrou em chamas e vi como elas se apagaram sem causar dano a mobília. Senti na pele a fúria da casa, e depois de um bom tempo internado no hospital me recuperando, fui mandado para um sanatório e tido como louco. Aqui sinto que estou realmente enlouquecendo aos poucos, ou talvez, quem sabe, ficando são. Peguei o diário para mim, o mantenho escondido a sete chaves. Sinto que tenho o direito de escrever em suas páginas, terminar o relato da pequena Emily.

Afinal, eu fui o único sobrevivente,

eu sou o chaveiro.

Gabriel Valeriolete
Enviado por Gabriel Valeriolete em 03/06/2012
Reeditado em 25/06/2012
Código do texto: T3704126
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.