Um Casarão Muito Suspeito(terror sátiro)

Um casarão muito suspeito e estranho bem no centro de São Paulo.

Era um sobrado muito bem arquitetado, a frente todo revestido de pedras, quatro colunas de mármore suportavam o teto da varanda.

Um portão de ferro, embora com aparência de nunca ter sofrido alguma reforma, aparentava estar em perfeitas condições. No andar de cima havia um telhado coberto com telhas francesas que desciam até poucos metros do chão.

O jardim da frente do casarão parecia estar abandonado, folhas se juntavam e corriam de um lado para o outro, levadas conforme o vento soprava. Um coqueiro que repousava suas folhas sobre o telhado, inclusive as que caíam com o tempo. Algumas plantas se enraizaram entre as pedras da parede e decoravam o casarão de dois andares de uma forma sombria.

A caixa de correio presa ao portão de ferro estava sempre vazia, os carteiros sempre faziam alguma piada sobre aquela caixa, fizeram ate uma aposta entre eles, quem entregasse a primeira correspondência naquela residência, iria ganhar o premio total arrecadado na caixinha de natal.

Era uma rua calma e de pouco movimento, quase que uma rua particular se não fosse via de acesso a outras ruas.

Durante o dia não se ouvia nada, mas há quem diga que a noite há gente lá dentro, algumas pessoas dizem ouvir vozes de pessoas conversando e som de músicas antigas tocando.

Os agentes do correio, ou carteiros como queiram, já perguntaram para os vizinhos sobre quem morava ali, mas eles não disseram nada, preferiram ficar calados, só disseram que tem pessoas morando lá que preferem ficar anônimos.

Um dia um carteiro muito curioso, foi ver o sobrado durante a noite, as luzes estavam acesas, podia se ouvir pessoas conversando e discutindo, mas não era claro sobre o que conversavam, as vozes eram meio confusas,uma musica tocava ao fundo como se fosse de um toca discos antigos, era uma musica antiga também, uma hora era de Tonico e Tinoco, de repente parava e começava a tocar Luiz Gonzaga, que logo era interrompida e começava a tocar Milton Nascimento, era como se houvesse uma discórdia para saber qual deveria tocar.

O carteiro intrigado, mas com a certeza de que pessoas moravam ali, se deu por vencido e foi embora.

Já dentro do sobrado...

Raimundo, Ribamar e Manoel, três amigos que não se entendiam muito, aliás, não se entendiam em nada.

Raimundo que era chamado de Raimundinho pelos amigos era de Sorocaba, interior de São Paulo, Ribamar cearense e Manoel um mineirinho arretado. Dizem que mineiro é calado, esse era diferente.

Os três formavam um trio sertanejo que nunca fez sucesso, certo dia foram convidados para fazer show em uma casa muito famosa em São Paulo.

Ficaram hospedados na casa de um grande empresário paulista, os três apesar de cada um ser de uma região diferente, moravam em são Paulo e se conheceram nas festas que tocavam nos botecos da vida.

O nome da banda era: Trio Sem Destino, uma sátira que eles fizeram com um trio famoso da época, o Trio Nordestino.

Eles iriam se apresentar para pessoas da elite nordestina, eram empresários, apresentadores e políticos da região nordeste, que estavam em São Paulo participando de eventos e que foram convidados por um dos empresários que morava nesta casa, para uma reunião de amigos. Participavam só os homens, as mulheres e filhos dos mesmos, não foram convidados.Era uma festa exclusiva para homens. As mulheres e filhos se reuniram em outra casa longe dali.

Foram convidadas mulheres de uma casa noturna para alegrar a festa, juntamente com eles, o Trio Sem Destino, era uma oportunidade para ficarem famosos e conhecidos pelas pessoas que estavam ali.

Faltavam algumas horas para o inicio da reunião, havia garçons por toda parte arrumando as mesas, na casa só estava o anfitrião, um senhor que se chamava Jeremias. Jeremias era um senhor alto, branco de bigodes escovados e usava um chapéu de panamá, gostava de um cigarrinho de palha e uma boa cachaça de alambique.

Enquanto o pessoal ajeitava as coisas entro da casa, o Trio e o seu Jerônimo estavam nos fundos do sobrado, era um quintal bem grande e gramado onde ia ficar o palco,Estavam rindo com os causos contados por Raimundinho, quando de repente só se houve um grande barulho!

Foi um grande estrondo, só se via fumaça e fogo e tudo ficou muito escuro e silencioso.

Um helicóptero que trazia as mulheres da casa noturna teve uma pane, o piloto não tinha onde pousar, então escolheu o quintal da casa, mas quando estava parado logo acima, o helicóptero caiu no quintal e explodiu logo em seguida, matando o piloto, as mulheres e os quatro que estavam conversando na mesa.

Foi uma grande tragédia, a notícia saiu nos noticiários de todo o país, e até em alguns países do exterior, o nome da banda foi citado varias vezes, e de uma forma ou de outra a banda ficou famosa.

Os homens convidados da festa que ainda não haviam chegado,

disseram para as esposas que não sabiam das mulheres, já as mesmas não acreditando dizem que foi bem feito, que era um castigo que elas pagaram.

A esposa e filhos de seu Jerônimo, traumatizados com o acidente, não quiseram mais morar naquele casarão, os filhos queriam vender a casa, já a esposa não, porque era uma casa que foi passada de geração para geração e que não ia vender, e quando conseguia alugar, os inquilinos não ficavam nem uma semana, dizendo que havia assombrações, então a casa ficou esquecida por muitos anos.

A vizinhança já estava acostumada com o barulho no casarão, muitos evitavam passar em frente a casa durante a noite.

Ouviam conversas, risadas, brigas e algumas luzes se acendiam principalmente a que ficava na varanda da casa.

Talvez por isso ela ainda não tivesse sido invadida, mas quem iria invadir? Somente algum pé de chinelo desconhecido.

A verdade é que as pessoas que morreram no acidente não aceitaram a morte e continuavam na casa, como se não tivesse acontecido nada, à noite os três mais o piloto o seu Jeremias e as mulheres, ficavam contando prosas e ouvindo musicas na radio vitrola, era uma guerra, Raimundinho colocava Tonico e Tinoco, Ribamar tirava e colocava Luiz Gonzaga ai vinha o Manoel e trocava por Milton nascimento, enquanto isso a mulherada dava risada, os três brigavam, o piloto ficava deitado de pernas pro ar fumando charuto com o seu Jeremias, que tomava cachaça e fumava, isso ia até o dia começar a clarear, toda noite a mesma coisa.

Um dia o carteiro estava fazendo entrega das correspondências na rua,quando chegou em frente da casa, um carro desgovernado avançou a calçada atropelou o carteiro prensando-o junto ao portão da casa, o coitado do carteiro morreu na hora, quando chegou o resgate já era tarde, o pobre já estava em outra vida.

Quando chegou a noite no casarão, lá estava os mesmos fanfarrões, a mesma briga, as mulheres se jogando pra cima dos homens, quando de repente... A porta da casa se abre.

Seu Jeremias grita:

Quem foi que invadiu minha casa?

Todos ficaram quietos e olhando um para o outro e resolveram assustar o novo morador, acenderam as luzes, ligaram o som, jogaram pratos no chão, o globo de vidro que ainda estava preso no teto começou a girar, as mulheres gemiam.

A porta vai se abrindo devagarzinho e o carteiro entra.

- caramba sempre quis entrar aqui, mas nunca imaginei que quando entrasse, iriam fazer uma festa pra mim.

- opa! É o carteiro, diz uma das mulheres.

- caramba, depois de 50 anos finalmente temos uma companhia diferente! Exclama o senhor Jeremias.

- aí complica a situação, já somos cinco homens e quatro mulheres, com ele seremos seis, isso vai dar confusão, reclama o piloto.

- seja bem vindo carteiro, qual é o seu nome?

- meu nome é Ligeirinho, e vocês, como se chamam?

Cada um respondeu dizendo os seus nomes, inclusive as mulheres que não tiravam os olhos dele.

- finalmente depois de tanto tempo, apareceu um gatinho, já estava cansada dessa velharada, comenta uma das mulheres com as amigas.

- filho, a casa é grande, pode escolher um lugar pra você ficar, diz senhor Jeremias (como se fantasmas escolhessem lugares).

Eram umas oito horas da noite, quando Ligeirinho chegou, mas depois que conhecera todos os moradores, disse a todos que estava na hora de fazer a entrega das correspondências, um olhou para o outro sem entender, mas nem ligaram. Ligeirinho olha para o relógio, agora já são meia noite, em duas horas eu termino o trabalho e saiu pelas ruas entregando as cartas.

Voltou para o casarão às três horas da madrugada, a turma continuava acordada e discutindo pra variar, a mesma historia de sempre, cada um queria ouvir uma musica diferente, tirava um disco, colocava outro, quando ele entrou, as mulheres o cercou, passando as mãos no seu rosto e dizendo que ele era bonito e gostoso.

- epa,epa epa!Isso não tá certo, nós estamos aqui há mais tempo, reclama o piloto.

- é isso mesmo, e eu paguei pelo serviço, diz senhor Jeremias.

- é verdade, mas pagou só por uma noite, e estamos aqui há cinquenta anos, com certeza não vamos receber nunca esse dinheiro.

Ligeirinho de uniforme azul e amarelo jogou a bolsa tira colo para o lado de deitou se com as mulheres, sentia-se um faraó em meio ao seu harem.

O senhor Jeremias e o piloto ficaram nervosos, jogavam coisas no chão, e ligava e desligava as luzes, os vizinhos do lado esquerdo e direito, ficavam com medo, ouvindo aqueles barulhos estranhos vindo da casa, colocavam as crianças para dormirem mais cedo, alguns até já chamaram a policia para verificar se não haviam invadido o casarão, mas de tanto os policiais constatarem que não havia ninguém, nem atendiam mais os chamados.

Depois de cinco décadas alguém entra na minha casa sem ser convidado e ainda rouba nossas mulheres e acaba com nosso sossego, vamos entrar em greve! Sugere o senhor Jeremias.

- é isso mesmo, eu estou dentro, responde o piloto.

- que tipo de greve? Pergunta Ribamar.

- é eu também quero saber, já que greve de fome e passeata a gente não pode fazer, resmunga Manoel.

Seu Jeremias atravessa a parede da sala e vai para o quarto, deita se numa cama, coberta com um lençol branco que estava todo amarelado e cheio de pó.

-essas mulheres não servem pra nada mesmo, nem pra tirar o pó das coisas elas servem, por mim podem ficar com o carteiro folgado, eu já não posso fazer mais nada, só brincar com elas mesmo.

Enquanto isso, os três caipiras mais o piloto, também atravessam a parede e vão se juntar com o senhor Jeremias.

Sem ter o que fazer senhor Jeremias tem uma ideia, vamos jogar truco!

- truco? Caramba porque a gente não pensou nisso antes.

Senhor Jeremias vai até a sala para pegar a caixa de baralho que guardava em uma gaveta da estante toda empoeirada, quando se depara com o carteiro deitado no sofá com as mulheres da vida deitadas sobre ele.

- que vida boa heim carteiro, quem disse que é ruim morrer?

Ligeirinho dá um pulo jogando as mulheres para o lado.

- morrer, O senhor disse morrer?

- sim isso mesmo, pra ter uma vida dessas teve que morrer, não queria conhecer a nossa casa, então?

- é por isso que quando vou entregar as correspondências, ninguém me reconhece mais, pensei que fingiam que não me viam, outro dia um garotinho ficou me olhando e dando risada, a mãe não entendeu e achou que o filho estava vendo coisas, agora eu entendo.

- calma querido, agora você terá todo o tempo do mundo para ficar com a gente.

O senhor Jeremias pegou o baralho e atravessou a parede novamente, jogou as cartas na mesa e começou o jogo.

- truco! Gritou o piloto.

- seis! Responde seu Jeremias.

- nove! Devolve o piloto confiante.

- eu pago pra ver, responde senhor Jeremias.

O piloto joga uma copa.

- só isso? Isso é muito pouco, ironiza senhor Jeremias que mata com um zap e joga um três.

Manoel, parceiro do piloto, não tem pra matar, então só vira a carta.

Ribamar, parceiro do senhor Jeremias, também vira a carta, deixando para o piloto se virar.

- esse tá no papo marreco, olha só, e dá uma piscadela pro parceiro, ele mata o três com um pica fumo matando o três do senhor Jeremias, salta da cadeira e grita: chupa seus marrecos!

E joga um três na mesa, mata essa que eu quero ver, seus pangarés!

- para não ficar feio pra vocês, nem vou pedir doze.

- a gente aceita, pode pedir!

- então são doze marrecos! Grita senhor Jeremias.

- pode cair, essa ganhamos fácil demais, retruca o piloto.

Senhor Jeremias fecha o jogo com outros três, calando o oponente que já se vangloriava.

- toma marreco! Essa foi só a primeira, que venham os próximos! Grita Ribamar.

Com o barulho excessivo na casa, fora do comum, a vizinhança assustada chama a policia.

Demora alguns minutos, chega um carro de policia que para em frente ao casarão, era pouco mais da meia noite, antes disso Ligeirinho havia saído para fazer a entrega das correspondências, um dos moradores que estava presente na rua. Disse aos policiais que tinha visto um vulto de uma pessoa entrando no casarão.

- eu acho que era um carteiro, ele estava com uma bolsa igualzinha a que eles usam.

- você tem certeza? O que estaria fazendo um carteiro a essas horas por aqui?

- não sei senhor, mas algumas pessoas dizem que recentemente elas veem um carteiro entregando correspondências nas casas daqui da rua, mas ninguém o vê de perto, parece fantasma, deve ser mais um que mora nessa casa.

- como assim mais um? O senhor esta dizendo que nessa casa tem fantasmas?

- é que o senhor não mora aqui, toda noite tem algum tipo de barulho, tem dias que bem calmo, mas quando chega o final de semana a coisa complica, nós até evitamos passar em frente ela durante a madrugada.

- sei não em sargento, eu não vou entrar nessa casa nem a pau, diz o cabo da PM.

- larga de ser medroso cabo, tem que ter medo é de gente viva, gente morta não faz mal a ninguém, vamos lá verificar.

- acho melhor os senhores levarem uma lanterna, comenta o morador.

- Mas parece ter energia lá, acho que não é necessário levar.

- Sei não a ultima vez que um policial entrou lá, estava tudo escuro, e as lâmpadas não acendiam, apesar de que sempre está meio claro la dentro, (comenta o morador).

- tudo bem, pegue a lanterna, cabo Fonseca e vamos entrar lá para ver se alguém invadiu a casa.

O sargento Mosquetto vai á frente e o cabo Fonseca logo atrás com a lanterna tremendo na mão, deparam em frente ao portão que só está encostado, entram e chegam na porta, uma lâmpada acesa ilumina a entrada.

- deve ter alguém aqui, a luz esta acesa aqui fora, vamos bater na porta.

O sargento bate, uma, duas, três vezes e nada, podia se ouvir um barulho vindo La de dentro, uma musica tocava, mas não dava para definir qual era, umas batidas como se fosse alguém nervoso batendo na mesa, resolvem empurrar a porta, que com um barulho rangente se abre, estava destrancada, o cabo com a lanterna na mão, se tremia todo.

- caramba Fonseca! Segura direito essa lanterna, desse jeito não vou enxergar nada, procura o interruptor na parede.

Quando eles definitivamente estão dentro, escutam perfeitamente os barulhos, numa espécie de radio vitrola, tocava um vinil de 78 rotações de Tonico e Tinoco, tocava a musica "Chico mineiro", o cabo liga o interruptor, mas a lâmpada não acende, vão até um corredor e param de frente a um dos quartos, ouve um barulho de molas de cama velha, as molas faziam o barulho de subir e descer.

Ai sargento, vamos entrar ai não, melhor a gente voltar com mais reforço.

- larga de ser cagão Fonseca, vamos ver quem é, pegamos no flagrante e prendemos.

O sargento abre a porta e entram o quarto, a luz da lanterna que o cabo segurava, ziguezagueava pelas paredes.

- me daqui essa lanterna Fonseca, tu mais atrapalha do que ajuda.

Assim que eles entram no quarto, Ligeirinho e uma das mulheres estavam fazendo amor na cama, se assustaram e ficaram pulando em cima da cama.

- olha lá sargento, a cama está se mexendo, vou sair fora, fica o senhor ai.

O sargento também estava morrendo de medo, mas não queria dar uma de medroso em frente do cabo Fonseca, se alguém soubesse que ele estaria com medo, seria motivo de gozação no quartel.

- calma Fonseca, é apenas uma cama velha, com o ar que entrou ela deve ter se mexido.

O cabo Fonseca só não saiu correndo, porque estava tudo escuro e a lanterna estava como sargento.

a mulher que estava com ligeirinho comenta...

- Pô ligeirinho, na melhor parte você parou.

- é claro a gente tava numa boa e entram no nosso quarto assim.

- o seu burro, eles não podem nos ver, nos somos fantasmas.

- minha nossa senhora, não me lembra disso que eu morro de medo, ainda tenho que acostumar com isso.

No corredor, Fonseca e o sargento Mosquetto sobem uma escada, uma lâmpada pendurada no teto do corredor está acesa, mas bem fraquinha, iluminava muito pouco.

- sargento, sargento, vamos voltar, a gente vem de dia.

- calma Fonseca, vamos ver de onde vem esse barulho de batida na mesa.

Os vão até outro quarto encostado ao que eles entraram.

- é aqui Fonseca, está ouvido? Vamos entrar de surpresa e dar voz de prisão.

O sargento abre a porta devagarzinho e percebe que há um lampião aceso e logo eles gritam:

- mãos pra cima todos vocês!

Mas não tinha ninguém, só se vê cartas de baralho jogadas pra cima e caindo nas suas cabeças.

- misericórdia, o sangue de Jesus tem poder, grita o cabo Fonseca, que sai correndo, dessa vez o sargento não consegue disfarçar o medo e também corre, na correria um deles tropeça no lampião que vira e começa a pegar fogo na cortina velha, o fogo se propaga, mas eles nem percebem, quando chegam do lado de fora da casa, só veem o fogo se alastrar.

- sargento a casa esta pegando fogo, liga para os bombeiros.

Os moradores estavam todos na rua, um deles grita:

- a gente só chamou vocês para ver se não tinha ladrões lá dentro e não para botarem fogo na casa.

Os outros moradores não sabem se riem ou se choram com a piada do vizinho.

A casa literalmente está em chamas, gritos de rugidos são ouvidos, outras viaturas chegam no local, mas os bombeiros ainda não, vizinhos ligam suas mangueiras e tentam apagar o incêndio, mas não adianta muito, os moveis velhos, a madeira seca e os objetos de fácil combustão só ajudam a propagar o fogo, que a essa altura já saia pelas janelas.

O carro do corpo de bombeiros chegou, com sirene tocando acordou o resto dos moradores das ruas vizinhas.

Preparam as mangueiras, mas a essa altura as chamas era incontroláveis, já ultrapassavam o telhado superior, mas mesmo assim ligaram as mangueiras finalmente, era água e mais água, mas nada parecia apagar o fogo, a sorte é que havia um bom espaço entre a casa e os vizinhos do lado e dos fundos, as paredes da casa começaram a ranger.

- pessoal saiam de perto que as pareces vão desabar, grita um dos bombeiros.

Todos se afastam e a casa desaba espetacularmente, folhas de papel ainda queimando, voam pelo ar.

O capitão estava presente e pergunta o que aconteceu, para o sargento.

- eu e o cabo Fonseca estávamos verificando os cômodos da casa, não vimos ninguém, mas o que chamou atenção foi o fato de ter algumas luzes acesas, quando entramos em um quarto, tinha um lampião aceso, acho que havia algum gato la dentro que se assustou e derrubou perto da cortina, o fogo se alastrou rapidamente, tentamos apagar, mas na escuridão não tinha como, saímos para pedir socorro ao corpo de bombeiros.

- boa historia sargento, cochichou o cabo Fonseca no ouvido do sargento.

A polícia tentou encontrar os herdeiros do casarão, mas não encontraram ninguém, a esposa do falecido Jeremias, morto duas vezes, uma com a queda do helicóptero e agora queimado, já havia falecido e segundo alguns parentes próximos, disse que os filhos moram fora do país, como os impostos da residência estavam atrasados por muitos anos, a divida era maior que o valor venal.A prefeitura resolveu construir uma praça no terreno, já que não havia nenhuma ali por perto.

Os moradores gostaram da ideia, que deram o nome da praça de sargento Mosquetto, afinal ele pôs fim os problemas dos moradores, agora eles passeiam e fazem caminhada em torno da praça nas noites de calor e também jogam truco nas mesas implantadas no centro da praça.

Finalmente aquelas almas perdidas encontraram a luz, ou o fogo melhor dizendo.

( aos amigos leitores peço que deixem seus comentários e obrigado pela visita)