* SHAW CROW: SOMBRIO ACALENTO
[...] E pude sentir minha mão segura naquela noite, e permaneci em silêncio, envolta em uma sensação de letargia, queria poder levantar e ver quem estava ao meu lado, segurando minha mão, com tamanha delicadeza, mas sentia um poder emanar através de meu corpo, sob minha pele, suspirei profundamente ouvindo a voz dizer:
- Durma, minha pequena!
Havia algo estranhamente familiar, não apenas na voz, mas na entonação das palavras, um carinho subliminar naquelas palavras, algo terno e delicado, afagou meus cabelos, e pude sentir aquela sensação de que não estava sozinha, ou melhor, não ficaria sozinha naquela noite, tentei murmurar algo, mas aproximando os lábios de meu ouvido, disse:
- Tenha calma, não está sozinha!
- Durma agora.
Queria mesmo abrir os olhos, mas aquela sensação quente percorria meu corpo, como um óleo umedecendo minha pele, fazendo meu corpo transpirar em uma noite fria de inverno, e da solidão que acometia minha alma, ensandecida havia retornado para casa, servindo em meus lábios, aquele aprazível vinho, que escorria em minha garganta, enquanto lagrimas escorria em minha face, desejei tudo, menos uma companhia, e ao deitar, ainda absorta em pensamentos, pude sentir a brisa fria, fazer a cortina serpentear sob a luminosidade da lua, única luz que ainda mantinha a penumbra longe de meu quarto. Pude ouvir os passos, lentamente aproximando da cama, e ainda fui capaz de vislumbrar a silhueta, surgindo, envolta nas trevas, esboçou um sorriso, e aproximou mais, um aroma preencheu todo ambiente, uma fragrância que parecia emanar da pele daquela criatura, sombria e soturna, que como a lua cheia, surgira brilhante diante de meus olhos.
Ficou quieto, apenas olhando para mim, por vezes, sentia meu coração descompassar, em uma reação natural de causa e efeito, aquele olhar, todo silencio, mas a sensação da presença dele, apenas fazia meu corpo reagir instintivamente, aproximou mais e segurou minha mão, com firmeza e delicadeza, aspirou profundamente, como quisesse sorver todo ar ao redor de meu corpo, e nesse momento, senti aquela sensação estranha, de letargia, uma sensação que foi prolongando ao longo de minutos, acompanhada de uma melodia que ecoava em meu ouvido, parecia um cântico, uma musica que conduzia por entre labirintos, entre muros e grades, emergi diversas vezes da letargia, sentindo meu corpo reagir, por vezes eriçado como cada pensamento de sua mente pudesse acariciar longamente minha pele, despindo meu corpo, revelando minha mais nobre e poderosa nudez, por vezes sentia uma sensação de serenidade, como fosse envolvida em um abraço abrasador, que resgatasse de um imenso abismo, mesmo que para aquele universo soturno. Sentia medo, mas um prazer pela companhia inegável, sentia uma sensação de nunca estar sozinha, como fosse parte de mim, ficasse oculto sob minha pele, e viesse em meu resgate, como um anjo caído, aprisionado ao mundo real, apenas para cuidar de mim. E assim, adormeci, ouvindo a voz dizer:
- Durma, minha pequena!
- Hoje quero que descanse...
- Mas vou voltar, para ver você.
- Shaw Darkholme