CONTO – O amor a tudo supera – Final
 

CONTO – O amor a tudo supera – Parte Final – 16.05.2012
         

 
          Claro que os dois não se conheciam, mas em virtude de suas especializações médicas, clínica geral e cirurgia, passaram a atuar juntos, e aos poucos o relacionamento foi se tornando mais intenso, até que terminaria num namoro... Só o tempo diria... Aqui e ali um jantar nos melhores restaurantes de então, e muitas vezes frequentavam os bailes dançantes que lá se realizavam, porém não com tanta liberalidade.
 
          Tal relacionamento, como era lógico, ficara tão intenso, a ponto de o Rivaldo ter tentado por várias vezes levá-la aos motéis, a fim de tornar mais real aquela atração que sentiam um pelo outro. Mas ela sempre recusava, apesar de amá-lo, pois tinha vergonha de lhe mostrar a grande cicatriz que carregava no seu peito, oriunda do transplante. Também ficara em dúvida se deveria contar o ocorrido, e até procurou ir se afastando dele aos poucos, idealizando que o rapaz jamais iria querer uma mulher operada, porquanto ele era de uma beleza exuberante.

          Mas chegou um dia em que ela não resistindo ao assedio do médico, seu grande amor, aceitou seu convite para ir jantar em seu apartamento luxuoso, situado no melhor condomínio daquela região. Na sua estada em São Paulo ele aprendera a cozinhar divinamente, e falou pra ela que fazia questão de preparar toda a comida que iriam consumir sob a luz de velas, regada aos melhores vinhos, a fim de reavivar aquele namoro.

          Os beijos estalavam e os abraços eram intensos. Mas ela ainda relutante em tirar a sua blusinha, embora já com ele estivesse naquela cama amplamente confortável. Rivaldo estava louquinho de excitação, tudo teria de ser naquela noite memorável. Como havia esquecido os preservativos, pediu que a Glorinha fosse até seu guarda-roupa e os pegasse, pois cautela nessas horas é muito bom para os enamorados, no que fora de logo atendido. Nessas alturas ela já estava assim molhadinha, todavia bastante nervosa ainda. Quando abriu a primeira gaveta, deparou-se com um envelope parcialmente lacrado, com o nome de uma mulher, Dona Esmeralda.

          Claro que de nada sabia sobre essa pessoa, mas a curiosidade fê-la com que abrisse o invólucro, pois poderia ser até mesmo de uma nova namorada dele.  Leu todo o conteúdo e ficou bastante convicta de que aquele coração que carregava no peito fora doado por aquela senhora, eis que todos os dados constavam do relatório médico do hospital. De mansinho, e aproveitando que o Rivaldo estava meio tonto, vestiu uma roupa qualquer daquela senhora e saiu pela porta dos fundos, tomando um táxi que passava na ocasião. Levara consigo aquele famigerado envelope, do qual ele nunca se lembrara.

          Notando tanta demora no retorno de sua querida namorada, Rivaldo foi ao local do armário, procurou-a por todas as dependências, mas nem sinal dela, nem rastro. “Meu Deus, o que teria acontecido que a Glorinha não se encontra mais aqui”, perguntara-se a si próprio. Ligou para o seu celular, mas sem êxito, até porque ela o desligara justamente para evitar receber ligações, pelo menos por enquanto.

          No dia seguinte, para surpresa de todos, ela não compareceu ao trabalho e nem dera notícias. Passaram-se os dias e ela nem sinal de vida. Sua atitude fora radical, pois pegou o seu automóvel e viajou com destino a sua cidadezinha lá do interior, quando colocou em prática o seu plano de abrir um consultório particular, mesmo porque nas cidades longínquas do interior a falta de médicos é uma realidade em todo o país. Ninguém quer ir pro sertão, pois somente as capitais dão apetite a esses que deveriam se submeter, de vez em quando, aos serviços em qualquer localidade, eis que o juramento da medicina é muito claro: “Salvar vidas”.

          Rivaldo ficara abismado com a fuga de sua bela namorada, mas sendo uma pessoa de educação privilegiada decidiu não incomodá-la, pois era quase certo que teria viajado para as suas origens. Preferiu dar tempo ao tempo, mas sofria abundantemente em seu peito a dor daquela abrupta e singular separação. Da parte dela, claríssimo era que sentia toda a saudade do mundo de seu belo namorado, paquerado por todas as mulheres daquela capital.

          Não resistindo àquela angústia e ao sofrimento, o doutor Rivaldo decidiu procurá-la com todas as suas forças, e foi justamente naquela cidadezinha que a encontrou, clinicando que estava no seu consultório/ambulatório. Nem se anunciou à secretária, de sorte que quando o último cliente saiu da sala ele entrara embevecido de paixão, suficiente para apanhá-la nos braços e beijá-la efusivamente, sendo igualmente correspondido.

          Calmamente ela abriu a gaveta de sua escrivaninha e retirou o envelope que continha aquele segredo, digamos assim, colocando-o nas mãos dele. “Tome, leia, veja o porquê de nosso relacionamento não poder persistir, pois esse coração que carrego no peito já foi fruto de seu amor com a sua esposa Esmeralda, e eu não consigo admitir esse absurdo”, falara aquela médica de alta capacidade.

          Ricardo leu o relatório. Pra ele aquilo era novidade, pois jamais poderia imaginar tanta coincidência! Com os olhos marejados, abraçou sua namorada e pronunciou as seguintes palavras: “Glorinha, querida, talvez seja também por isso que você é tão meiga, bondosa e competente criatura; sabe, o meu amor pela Esmeralda nunca haverá de ter fim, pois ela vai continuar dentro de meu coração, porém um sentimento diferente, do lado espiritual, da alma, que é imutável; todavia, o nosso amor é mais do que real, e esse coraçãozinho que bate em seu peito será uma alavanca a mais na concretização de nossos sonhos; eu te amo, querida, com todas as forças de que disponho e estou prometendo aqui e agora que hei de honrar essa dádiva que Deus nos deu, e fazê-la feliz”. Ela, completamente relaxada, inebriada de paixão, caiu em seus braços e o beijou apaixonadamente, selando assim aquela união, que mais tarde seria concretizada com a realização de seu casamento, como sempre fora de seu desejo.
 
Nota: Será coincidência qualquer fato da natureza ocorrido com pessoas na vida real, porquanto aqui se trata de ficção. Todavia esse conto foi inspirado, mesmo que levemente, no drama Corações em Conflito, cujo autor desconhece.
 
Em construção/revisão
Ansilgus
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Enviado por ansilgus em 18/05/2012
Reeditado em 19/05/2012
Código do texto: T3673862
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