O Corpo Na Crípta

O Corpo Na Cripta

Mariana, uma jovem quase desajustada, levada pelos modismos de uma tribo misturada, nem góticos, nem punks nem metaleiros, um grupinho que curtiu do rock, de tudo um pouco.Tinha fascinação pelo dark, pelos cemitérios, queria porque queria ser como aquelas góticas de verdade, lindas em sua palidez, perfeitas em suas produções, suas makes trabalhadas e fortes, suas roupas longas, cheias de adornos, pedrarias e crucifixos, mas ela estava longe disso, usava umas roupinhas pretas feinhas, sem nenhuma graça, uma correntinha católica presente da avó com uma cruz simples. Os olhos delineados fortes, cobriu com lápis toda pálpebra, assim, ganhava uma sombra escura.

Naquela noite após a baladinha, bandas de amigos de som próprio tentavam covers difíceis de bandas européias, letras em alemão quase impossíveis de reproduzir mas, dava pro gasto, cerveja barata, bebida ruim mas estava bom, jovens de 16 anos aproximadamente que se classificavam como grandes bandas de renome internacional, agiam como adultos responsáveis pelo que faziam, que ilusão, uma boa ilusão para fugir de um cotidiano sem graça.

Tivera um namorado de quem ainda gostava, e como gostava daquele tipinho sem sal, não pôde esconder o desgosto de vê-lo já com outra ali na mesma balada, passou por ela como sequer a conhecesse, exibia um tipinho feio a tiracolo, meia arrastão colorida, uma sainha curta e tênis de cano longo, bem semelhante aos seus, naquele momento como queria ser como aquelas góticas de verdade com aquelas poses, aqueles vestidos roçando o chão as maxibotas até metade das coxas... mas nada daquilo seria escudo suficiente para amortecer aquele baque, aquela sensação horrível de ver quem gostava com outra pessoa.

Ninguém queria ir embora, então foi sozinha, triste, chateada, cabisbaixa seguiu para o metrô, não era tão tarde assim passava um pouco das 11 da noite. Seguiu para um vagão quase vazio, sentou-se lá no fundo e pôde ver que na outra extremidade havia um legítimo grupo gótico, aqueles sobretudos negros tocando ao chão, os coturnos as camisas vitorianas dos homens e as moças elegantes de corset, saias, botas e as gargantilhas combinando com os brincos, foi se aproximando mais, sem deixar que a notassem, mirou uma delas e se espelhou, pensou consigo:

“Eu quero ser assim, quero ser como ela”.

A gótica era um esplendor de beleza, pele de porcelana, branca como se nunca tivesse visto a luz do sol, o pescoço longo coberto por uma gargantilha de contas negras e pequenos crucifixos de strass adornando as pontas, os brincos em cascata combinando. E que roupa ! Um corset bem apertado deixava o corpo já perfeito ainda mais contornado, seios que arfavam no decote redondo coberto de renda, era linda e os homens pareciam apaixonados por ela ! Ah quem dera também fosse assim!

O grupo se preparava para descer na próxima estação e lá se foram aqueles de negro, o vento soprando seus cabelos e vestes longas. Foi então que notou que nos acentos onde estavam havia uma bolsa de couro grande e uma sacola com uma caixa dentro, olhou para o vagão quase vazio e se aproximou dos pacotes, certamente pertenciam a alguém do grupo gótico, mais duas estações e teria que descer, ficou olhando os pacotes, o vagão parou, apitou e então seguiu caminho, logo parou na estação onde ela desceria, pensou rápido, foi apressada pegar os pacotes e saiu como se fossem seus, pacotes pesados... na rua já parava no ponto o ônibus que a deixaria em casa, entrou afobada e desajeitada com o peso das coisas, sentou lá no fundo, sozinha e abriu a sacola maior, havia uma outra embalagem média dentro, abriu com cautela, não acreditou, eram bijuterias góticas, anéis com pedras negras, vermelhas e roxas, brincos, gargantilhas... o que sempre sonhou havia recebido de ‘presente’, olhou depressa o restante da sacola, era uma caixa de sapato e havia uma bota, não pôde ver bem os detalhes, mas com certeza era daquelas grandonas cheias de taxas, fivelas... que fosse seu número ! Mas a etiqueta na caixa mostrava uma numeração 2 vezes maior, usaria mais meias então, o problema não seria esse, nem que tivesse que encher de jornal mas usaria ! Na bolsa pesada tinha roupas, um corset, não acreditava no que seus olhos viam ! Era um look completo, parecia até as roupas de uma cantora famosa ! Mal esperava para chegar logo em casa e poder ver tudo aquilo com calma, vestir, calçar, vislumbrar tudo !

Cortou os quarteirões que levavam à sua casa com extrema rapidez, subiu a ladeira já exausta então, chegou em casa, os pais já dormiam, entrou com cautela no quarto e se extasiou com cada produto que seus dedos afoitos tocavam ! Passou longos minutos admirando cada item do visual impecável que aquele conjunto de peças formaria ! Correu para o banho, queria vestir tudo aquilo, olhar-se no espelho e ver que finalmente seria uma gótica de verdade, nunca pôde ter aquelas coisas, considerava-se uma gótica ainda que não soubesse muito sobre as raízes, dogmas e ideologias do goticismo. Gostava de preto, gostava das músicas, da solidão e da melancolia, para ela isto já fazia de si uma gótica.

Demorou a aprontar-se, puxa algumas coisas eram complicadas de vestir, como prender a liga na meia 7/8 sem que ela escapasse quando se levantasse? Por fim, conseguiu, vestiu a lingerie, seus quadris largos se adaptaram a calcinha de renda tipo short, o corpete ficou um pouco largo, faltava-lhe seios para encher tudo aquilo, não fazia mal depois poderia dar uns pontinhos para ficar mais justo, o vestido negro tinha uma cauda longa quase chegava ao chão e na frente deixava os joelhos a mostra, era de veludo e renda, deparou-se com um enigma... Como fechar o corset ? Será que todas as góticas sabiam vestir-se sozinhas ? Amarrou de qualquer jeito apenas para ver como ficava, também ficou largo, claro, não fechara direito ! Calçou a bota, seus pés dançavam dentro delas, e daí ? Por fim colocou os anéis, brincos e a gargantilha, e o sobretudo de renda, olhou-se no espelho, a maquiagem já um pouco borrada, tudo bem, importava que estava como sempre tinha sonhado ! Não acreditava ainda ! Também tinha uma bolsinha em formato de caixão e dentro uma nécessaire com maquiagem ! Passou o batom vinho por cima do preto já quase nulo em sua boca.

“Uma gótica de verdade !” sussurrou sorrindo ao se olhar no espelho.

Alguns dias se passaram e recebeu dos amigos um convite para um showzinho à noite, enfim a grande oportunidade de usar tudo o que havia ‘ganho’, de tanto treinar a noite já conseguia fechar o corset ainda que não o sentisse tão apertado, alguma coisa estava fazendo de errado mas, ele apertava um pouco e moldava de leve sua silhueta, sentia-se linda e realmente estava, os cabelos loiros que cresciam sob a tinta preta dava-lhe um ar descontraído, aprendera a se maquiar com vídeos vistos pela internet. Pronto, estava na hora de se mostrar ! Ganhou olhares curiosos pelo caminho, que bom, estava dando certo, era isso que sempre quis !

Havia um congestionamento na cidade naquela noite, um trecho adiante, um casal adentrou o ônibus, chamaram sua atenção, um casal certinho que se sentou à sua frente, falavam de um culto, “crentes” pensou consigo, mas logo deu de ombros, desceu e seguiu para o metrô.

Na casa já conhecida encontrou os amigos, estava curtindo até que foi abordada por um homem tão lindo que a deixou sem graça, alto, cabelos curtos vestia um sobretudo de couro, assim como a calça e uma camisa preta semi aberta, beirava uns 25/30 anos não sabia direito, estava semi embriagada com tantas bebidas que havia tomado, deixou-se guiar pelo estranho, “Daniel” ele havia se apresentado no começo da conversa. Diante de tantos elogios, beijos e carícias quase ousadas dele concordou com a idéia de se afastarem de lá, daquele barulho, daquela pouca luz. Estava inebriada, nunca imaginou que um cara como aquele ficaria um dia com ela.

Deixaram a casa e foram vagar pelo cemitério silencioso algumas esquinas de distancia de onde estavam antes. Ele falava pouco, ela estava tímida, mas ele era um homem e sabia bem o que queria, o que tinha em mente, ela parecia boba e ingênua.

Ele cortou o silêncio com mais um elogio a ela, que se deixou levar para dentro de uma cripta, toda calma que ele expressava antes se esvaiu, os dedos afoitos soltaram os cordões do corset dela, levantavam a saia do vestido, ela tentava contê-lo, mas não conseguia...

“Qual é gata vai dar uma de santinha agora ?” – dizia já abrindo a calça, empurrou a moça para baixo e ordenou que o chupasse, coisa que ela não sabia fazer, o outro percebeu e descontente a puxou para cima outra vez e a encostou na pedra fria de mármore.

“Está um cheiro estranho aqui, vamos embora, pra outro lugar hã ?” ela tentou fazê-lo desistir da idéia, ele nem deve ter ouvido, continuou... Abaixou-se e afastando a lingerie brincou com a língua morna dentro da sexualidade dela, não foi algo que ela gostou, ele era afoito demais, sentiu-se desconfortável, ele foi breve e então a penetrou com seu membro rijo, sentiu uma dor horrível, aquele ato colocava fim à sua virgindade, um ato que ela sempre tinha imaginado diferente, mas, deixou que fizesse tudo até o fim, sentia-se mal, mas não importava.

Aquele cheiro de antes agora parecia mais forte, mais ácido, pediu que fossem embora, as nuvens encobriram a lua e o recinto ficou mais escuro, dificultando a visão, ela o tateou mas sentiu que se afastava, o ouvia beber algo, voltou a buscá-lo mas já não sabia a direção, pediu que acendesse um fósforo, isqueiro, qualquer coisa que iluminasse aquele recinto que começava a lhe causar calafrios, o outro era só silêncio, só ouvia ele beber, os anéis se chocando contra a garrafa de vidro. Ela ficou nervosa.

“Que saco cara fala alguma coisa ! Mas... mas que merda é essa ?” – exclamou ao tocar uma superfície fria, pegajosa, aquele odor estava mais forte ali naquele canto, sentia teias de aranha e fios... fios como de cabelo... a lua reapareceu iluminando parcialmente e devagar a extremidade, havia uma moça morta, nos primeiros estágios da decomposição bem ali no canto, agachada, o pescoço cortado onde o sangue já coagulado cristalizou, os olhos esbugalhados e a boca semi aberta, a pele ganhara um tom amarelo horroroso, a menina soltou um grito e repetia para irem embora daquele lugar, saiu correndo mas o homem a segurou na porta.

“Você ta louco ? A mulher foi assassinada aqui ! Vamos embora !”

Mas o homem a empurrou com força tapando sua boca até fazer com que as costas dela batessem na parede enegrecida, bem ao lado do corpo abandonado, Mariana murmurava e as lágrimas desciam freneticamente, pior do que a primeira vez, agora estava sendo violentada pelo homem, que enfiava com mais força, com um canivete rasgou a parte de cima do vestido e corpete, abrindo-os de par em par deixando os seios da moça saltados para fora, os quais mordia como um cão feroz, sem nunca tirar a mão dos lábios da moça que continuava a gritar e chorar sufocada, sentiu então o gozo dele explodir dentro de si, ele tirou, porém não a deixava falar, Mariana sentiu escorrer o gozo misturado ao sangue dentre suas coxas, mas ainda havia algo porque o homem ainda a olhava de um jeito sinistro, foi então que a puxou com força quase deslocando seu ombro fazendo com que ela se debruçasse na pedra onde estivera sentada antes,ele prendeu seus pulsos em suas costas segurando-os com apenas uma mão forte, levantou a saia e a penetrou entre as nádegas, ela gritou de dor e novamente foi ‘amordaçada’, os seios sensíveis às mordidas batiam na pedra fria, o abdômen doía e ela chorava mais enquanto ele estocava com mais força, pelo breve momento que ele afastou a mão de sua boca ela gritou, pediu por socorro, em vão, então ele passou a navalha afiada no pescoço da jovem, só parando de transar com ela quando viu que o fim dela havia chegado, colocou o corpo cuidadosamente ao lado do outro e foi embora satisfeito. Havia outras meninas a conhecer !

Der Rosenrot – 14/05/2012

Sandra Franco Der Rosenrot
Enviado por Sandra Franco Der Rosenrot em 14/05/2012
Código do texto: T3668031
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