O dia em que a menina se "viu". Parte I
- Mamãe, quantos anos eu tenho? - perguntou uma menininha com vestido florido e sapatinhos de couro.
- Você, minha querida, - respondeu uma mulher de baixa estatura e cabelos grisalhos - tem 8 anos. Por que pergunta?
- Ah, não sei mamãe.
- Então coma logo essa sopa antes que esfrie - disse a mulher em um tom enérgico.
- Mas mamãe, eu não gosto dessa sopa.
- Você tem que comer antes que seu pai chegue - disse a mulher um pouco eufórica - Você sabe que ele não gosta de choramingo.
- Tá bom.
Então a menininha comeu com esforço aquela sopa aparentemente sem gosto.
A casa em que se encontravam era feita de madeira, tinha apenas um quarto com três camas toscas de madeira e a cozinha.
Do lado de fora se encontrava o banheiro, rústico mas bem cuidado. Em volta só se via uma vasta floresta. O dia estava nublado, dando a impressão de estar escurecendo, o que era impossível, pois um relógio pregado a parede indicava onze horas da manhã.
De repente um homem entra pela porta, furioso e assustado, segurava um facão na mão esquerda. Deu para perceber que estava ensangüentado. As duas, mãe e filha, levaram susto. A menininha parou logo de comer e se encolheu na cadeira.
- O que houve? - perguntou a mulher aflita.
- Cale a boca - esbravejou o homem.
- Mamãe o que está acontecendo?
- Você - disse o homem apontando para a menina - Pegue um pouco de comida, roupas, e saia já daqui!
- Não - gritou a mãe se ajoelhando - Não faça isso com nossa filhinha!
- Me solte mulher - gritou o homem, dando uma facada de raspão no braço da mulher.
- Mamãe! - gritou a menina, enquanto corria até ela.
- Não se aproxime dela - disse o pai, colocando o facão a mostra - Agora pegue suas coisas e suma daqui!
A menina correu até o outro cômodo e pegou dois vestidinhos e enrolou em um trapo de pano. Cruzou a cozinha e chorando olhou para a mãe.
- Filhinha querida - disse a mãe chorando ajoelhada no chão - Vá com cuidado. Eu não posso impedir isso.
Então dando uma ultima olhada para a mãe, a menina saiu derramando lágrimas.
Uma menininha, pequena e frágil, correndo por uma floresta densa. Foi o que se seguiu ao episódio de sua expulsão da própria casa. Lá ia ela, com uma trouxinha de roupa, nem mesmo o de comer ela tinha. Ela ia chorando, se perguntando o que tinha feito. Ela não conseguia raciocinar, era muita coisa pra uma criança.
- Papai do céu - disse baixinho a menina - o que foi que eu fiz pra minha mãezinha? Eu não sei.
Ela correu, correu o mais depressa que pode. Tropeçou em galhos protuberantes no solo e caiu. Se levantou enxugando o rostinho de lágrimas e terra. Ela sentou e encostou-se em uma árvore. Tudo ali parecia ser um grande inimigo que a qualquer hora iria devorar uma menininha indefesa.
- Ahahaha!
Ela ouviu uma risada distante que congelou seu corpo. Ela olhou assustada para os lados e não viu nada.
- Quem está ai? - perguntou a menina. - É você mãezinha?
- Não, não é sua mãezinha - disse uma voz masculina e histérica - Venha aqui tenho um presentinho pra você.
A menina se levantou e começou a correr novamente. Ela sentia que alguém estava logo atrás dela, ela podia sentir o mal que a aguardava.
- Mamãe! - gritou a menina - me ajuda, socorro, não me deixa aqui!
- Ahaha, sua querida mãezinha não está aqui pra te proteger - gritou o homem em alguma parte da floresta.
Ela correu, não conseguia lembrar se algum dia, em sua curta vida, já havia corrido tanto assim. De repente, após minutos de fuga ela avistou um carro parado em uma pequena estrada que margeava a floresta. Ela correu até ele e viu um homem sentado no banco do carona.
- Socorro - gritou a menina, com um ultimo fio de esperança.
- O que houve garotinha? - perguntou um homem de barba feita e cabelos repartidos exatamente pela metade.
- Tem alguém atrás de mim - disse a menina ainda com lágrimas no rosto - Eu não sei quem é.
- Calma. Cadê seus pais?
- Por favor - implorou a menina - me salve, não deixe ele me pegar.
- Hmm. Tá bom, entra no carro e eu te levo até a cidade mais próxima.
- Não - disse a menina olhando desconfiada para o carro - Eu não entro no animal que ronca.
- Garotinha - disse o homem gentilmente - Ele não te fará mal algum. Acredite em mim.
- Ahaha.
Ela ouviu a risada novamente. Ela entrou no carro e o homem deu a volta e deu a partida.
O carro partiu lentamente por uma estrada longa que parecia não ter fim.
- Ahhhhhhhhhhhh!
E lá ficou um homem estranho que seguiu uma menininha frágil e assustada por uma floresta. Já desaparecendo de vista ia um carro, em uma estrada deserta, com um homem desconhecido e uma menina traumatizada.
- Ei, garotinha - disse o homem enquanto dirigia. - Qual é seu nome?
- Minha mãe disse pra eu não falar com estranhos - respondeu a menina com olhos vidrados.
- Ah, mas você já está falando comigo - disse o homem bondosamente acariciando os cabelinhos loiros da menina. - Não se preocupe, eu vou cuidar de você, e vamos procurar seus pais.
Então aos poucos uma cidade ia se tornando visível mais ao longe pela estrada. Realmente o homem estava ajudando, pensou a garotinha agora um pouco mais aliviada.
- Moço, - arriscou a menina - por que aquele homem mau me seguia na floresta?
- Bem, eu não o conheço. Mas eu me pergunto quem teria coragem de fazer o que ele fez.
Estavam chegando a uma pequena cidade, pelo visto, pouco habitada.
- Ele era seu pai?
- Não. - respondeu a menina com lágrimas nos olhos.
- Não se preocupe, já estamos chegando e vamos resolver tudo isso.
- Tá bom - concordou triste a menina.
Ali, onde estavam quase parando o carro se lia em uma placa de madeira, provavelmente talhada à mão: Recanto Eterno.
- Chegamos - disse o homem dando um pequeno suspiro.
O homem dirigiu até um prédio que parecia ser um hospital improvisado. Ali na porta do prédio estava sentado um velho com avental branco e sapatos pretos impecavelmente lustrados. O motorista parou o carro e saiu, caminhando até o velho que continuava sentado observando o carro. A garotinha de dentro do carro viu que eles conversaram algo. O homem voltou ao carro e o velho entrou naquele hospital improvisado.
- Vamos - disse o homem abrindo a porta para a garotinha - O doutor Rubens vai te dar um bom copo de água, e uma sopa quentinha.
- Não! Eu não quero ir - disse a menina chorando.
- Não precisa ter medo - disse bondosamente o homem segurando-a pelo braço. - Vamos, antes que ele mude de idéia.
E puxando-a pelo braço frágil de uma garotinha de oito anos ela não pôde recusar. Eles caminharam vagarosamente até o prédio. A cada passo que a garotinha dava, ela via que o prédio parecia uma grande boca faminta que sugava tudo a sua volta.
- Não, eu não quero! - dizia a menina tentando se soltar do homem - Mamãe, mamãe!
- Vamos, pare já com isso - disse o homem energicamente - Eu só estou te ajudando, não tenha medo.
- Por favor, eu não quero!
- Vai ficar tudo bem agora - disse o homem mais para si do que pra ela.
E numa última tentativa de se soltar daquele homem ela cruzou a soleira do prédio.
Ela sentiu como se tivesse sido engolida por uma boca demoníaca e faminta. Agora ela sabia que não tinha mais volta. Alguma coisa ia acontecer a ela...
- Nazira - disse o doutor dos sapatos lustrados - prepare uma cama para a garotinha.
- Sim doutor - disse a enfermeira olhando desconfiada para a garotinha que chorava silenciosa.
- Olha aqui - disse o homem que salvou a menina na floresta - confia em mim, nada de mau vai te acontecer.
- Eu quero minha mamãe - disse a menina chorando.
- Agora não dá. Precisamos cuidar de você primeiro - disse o homem afagando os cabelos loiros da garotinha. - Eu me chamo Alberto.
A menina olhava, com os olhos marejados, para um homem sorridente que passava confiança. Mas ela não sabia se deveria confiar nele. Ele, afinal de contas, arrastou ela a força para um lugar estranho e medonho. Ela nada respondeu.
- Alberto - chamou a enfermeira com seu uniforme impecavelmente limpo. - Pode trazer a menina.
- Vamos querida - disse o homem segurando-a pelo braço outra vez - Agora vai ficar tudo bem.
- Por favor moço - implorou a menina - deixa eu ir embora.
- Você não pode - disse Alberto - eu não sei o que está acontecendo, mas tem alguém atrás de você e eu não quero te deixar sozinha.
- Segure ela pra mim Alberto - disse a enfermeira.
Então o homem segurou sem esforço uma garotinha indefesa para que a enfermeira aplicasse uma injeção, o que tinha nela não sabiam. A menina logo ficou sonolenta, sentou-se no banco e olhou assustada à sua volta. Tudo parecia girar, se tornou impossível ficar de olhos abertos e ela adormeceu nos braços de Alberto. Ele a pegou no colo e caminhou por um corredor escuro e frio, tão frio que a menina tremia inconsciente.
Eles levaram a menina até uma sala um pouco mais clara, é verdade, porém fria como o corredor.
- Vamos, vamos! - disse o doutor velho com entusiasmo - Coloque ela aqui!
Alberto a pôs com cuidado em uma maca, e claro, com um lençol tão branco e limpo quanto a roupa da enfermeira.
- Nazira - disse o doutor sorrindo estranhamente - traga meus instrumentos.
- Instrumentos? - perguntou Alberto assustado - Doutor, porque instrumentos?
- Não se preocupe - disse o doutor ainda com aquele sorriso.
- Mas eu achei que você fosse curar ela!
- Ah! - exclamou o velho - E vou! Vou curá-la sim.
- Dr. Rubens... - começou o homem, mas foi interrompido.
A enfermeira chegava com um estojo nas mãos dos mais variados bisturis e tesouras.
- Não! - gritou Alberto - Você não pode fazer isso!
- Nazira - disse o doutor sem olhar - Seguranças, por favor.
Então a mulher apertou uma campainha e olhou assustada para Alberto. Ele estava ali parado, com um dos bisturis da coleção do velho doutor.
- Não faça isso - disse a mulher horrorizada.
Então dois homens chegaram e pararam diante da situação.
- Podem levá-lo - disse o doutor ainda com os olhos na garotinha adormecida. - Tranquem ele no porão. Eu ainda posso precisar dele.
E um dos seguranças deu uma pancada na mão do homem com um bastonete, fazendo com que caísse o bisturi. Ele foi dominado pelos dois e levado dali a força.
Ele não podia se soltar e foi levado da sala aos gritos. Lá estava uma garotinha indefesa prestes a ter um destino cruel.
- Nazira - começou o médico dos sapatos lustrados - pegue os equipamentos para a lobotomia.
- Sim doutor.
E lá estava a menina inconsciente, esperando, mesmo que lá no fundo, um fim triste.
Ninguém poderia salvá-la, nem mesmo Alberto, que agora estava preso em um porão escuro e sem saída.
- Me deixem sair! - gritava Alberto - Vamos!
- Ahaha - gargalhou um dos seguranças - Você não tem escolha. Vai ser melhor assim.
- Mas o que aquele louco pretende fazer com a garotinha?
- Nós não sabemos de nada - respondeu o outro segurança - apenas cumprimos ordens.
- Mas vocês não podem deixar isso acontecer! É uma criança!
- Já disse, nós não nos intrometemos.
Frustrado com a situação Alberto olhou à sua volta, agora os olhos já acostumados a escuridão. Procurou algo que pudesse usar para arrombar a porta. Não viu nada resistente que pudesse usar.
Seu tempo se esgotava, nesse momento o médico louco poderia estar fazendo qualquer coisa com a garotinha. Ele nunca a viu na vida, mas podia sentir uma forte ligação entre eles.
- Mamãe - sussurrou a menina - Mamãe, cadê você?
- Amarre ela!
- Sim doutor.
A mulher amarrou os braços e pernas da menina. Ela não gostava do que fazia, mas não queria contrariar o médico.
- Vamos começar - disse o doutor dando mais um daqueles sorrisos malignos.
- Mamãe! - a menina já estava desperta. - Quem é você?
- Ninguém - respondeu o médico - Eu só vou te curar.
- Mas eu não estou doente!
- Ah! Está sim - disse o doutor dando gargalhadas.
- Me deixa ir embora. Eu quero ir com minha mãe.
Nesse momento Alberto escutou um barulho no porão escuro.
- Quem está ai? - perguntou.
- Calma - respondeu uma voz suave - Fique calmo.
- Quem é você?
- Ninguém muito importante. - respondeu a voz, suave como antes.
- Apareça!
- Ainda não - disse a voz - Tudo no seu devido momento. Agora você tem algo mais importante a fazer do que me ver.
- Não! não tenho!
- Tem sim, você precisa salvar a menina.
- Como você sabe dela?
- Não importa meu jovem - continuou a voz - Só importa o que fará para salvá-la.
- Como eu vou fazer isso? Eles me trancaram aqui.
- Isso é o de menos - continuou aquela voz suave que vinha do escuro - O mais difícil vem depois.
- Claro! - se irritou Alberto - Pra você é fácil, fica ai falando e falando.
Alberto investiu contra a voz, mas inesperadamente ficou paralisado.
- Não meu jovem - disse a voz - Não perca seu tempo comigo, ele é curto demais.
- Tá certo - concordou Alberto - O que faço pra sair.
- Tome.
Um molho de chaves caiu sob seus pés. Ele a pegou e virou para a porta.
- Vá! - mandou a voz.
- Mas e os dois lá fora?
- Eu cuido deles - disse a voz dando um riso de deboche.
Alberto abriu a porta e fechou os olhos para a claridade ofuscante do corredor.
Segundos depois abriu os olhos e nenhum segurança estava lá. Ele olhou para trás na esperança de ver alguém no porão agora que a luz o iluminava. Nada pôde ver. Se virou e correu corredor a fora, rumo ao inesperado, e pensou ele, rumo ao terror.
- Garotinha! Cadê você? - gritou Alberto no meio do corredor.
Ele saiu a procura dela, ele podia sentir que achar a menina o mais rápido possível significava salvar uma vida.
- Não! - gritou um homem no corredor que Alberto havia acabado de deixar pra trás.
- Não, não faça isso, por favor! - gritava o homem. Alberto reconheceu a voz de um dos seguranças que o tinham trancado no porão.
Alberto pensou em voltar e ver o que acontecia. Mas então lembrou da menina e mudou de idéia. Correu por um corredor mergulhado em breu.
- Criança, cadê você? Fale comigo.
Ele abria as portas do corredor na esperança de achá-la. Mas ele percebeu que tinha alguma coisa estranha no hospital. Parecia que toda a arquitetura havia mudado. Ele parou e apurou os ouvidos, na esperança de escutar um choro ou sinal da menina.
Nada escutava. Os gritos do segurança cessaram. Agora nada ouvia, era um silêncio anormal.
- Meu Deus - se desesperou Alberto - Não pode ser assim! Aquela menina precisa de mim.
Uma porta as suas costas se fechou. Ele se virou assustado, transpirando como nunca. Ele podia ouvir seu coração batendo. Ele se dirigiu a porta e olhou para os lados. Abriu a porta e olhou para dentro. Mais uma vez aquela escuridão. No silêncio perturbador ele pôde ouvir uma respiração no fundo da sala. Com cautela deixou a porta aberta para que a pouca luz do corredor iluminasse o local.
- Quem está ai? - perguntou. - É você garotinha? Eu não vou te machucar.
Nenhuma resposta. Ele avançou mais um pouco na direção da respiração.
- O que aquele maluco fez com você? Eu quero te ajudar. Eu não sabia que ele era louco.
Ele avançou para um armário.
- Vamos embora daqui. Eu prometo que ele não vai mais te fazer nada.
Ele abriu o armário e lá estava a menina chorando tentando se esconder inutilmente.
- Venha - disse Alberto estendendo a mão. - Vamos sair logo daqui.
- Eu quero ir com minha mãe. - disse a menina resistindo.
- Nós vamos procurar sua mãe. Mas antes temos que sair daqui.
- Tudo bem - disse a menina enxugando as lágrimas. - Você promete?
- Prometo. Agora vamos logo, antes que alguém apareça.
Ela segurou a mão de Alberto e eles foram para o corredor. Andaram por alguns corredores, o hospital silencioso como antes.
- Acho que é por aqui. - disse Alberto.
Eles seguiram por um corredor que ia se iluminando ao longo do caminho. Finalmente viram a porta por onde entraram.
- É ali - disse Alberto sorrindo.
- É sim - disse a menina.
Eles caminharam a passos largos até a porta. Atrás deles virando o corredor vinham o médico e um dos seguranças. O segurança pegou o cassetete e ameaçou ir atrás dos dois.
- Não - disse o médico segurando o braço do segurança - Eu já fiz o que precisava.
E cruzando a porta Alberto e a menina saíram do hospital. A menina olhou para trás e percebeu que havia acabado de sair da boca de um enorme monstro faminto.
"Eu não posso ir até a polícia, eles fariam muitas perguntas". Pensava Alberto dirigindo rumo à cidade mais próxima. A menina continuava calada no banco do passageiro.
- Garotinha, por favor fale comigo.
- Por que você me levou para aquele lugar horrível?
- Desculpe, eu não sabia que ele ia te fazer aquilo.
- Eu só quero ver minha mãe. Por favor me leve pra minha mãe.
- Calma criança, primeiro precisamos procurar ajuda. Não é normal uma criança como você andando assim por uma floresta.
Já haviam rodado uma tarde toda quando de repente avistaram uma mulher caída no meio da estrada. Alberto guinou o carro o suficiente para não passar por cima dela.
- Fique no carro - disse Alberto alarmado - Não saia daqui.
- Tudo bem - disse a menina.
Ele se ajoelhou perto da mulher e verificou se estava viva. Ela respirava.
- Tudo bem com a senhora?
A mulher se virou aos poucos para Alberto. Agonizando e com o rosto deformado por cortes ela olhou direto para o carro.
- Filha! - gritou a mulher.
- Mamãe?
A menina desceu do carro e correu até a mulher.
- Espere garota - disse Alberto segurando a menina.
- É a minha mãe. Me solta.
- Não, não encoste nela. Eu vou chamar uma ambulância.
- Filhinha, fuja! Fuja! - gritava a mulher desesperada.
- Do que a senhora está falando? - perguntou Alberto alarmado.
- Salve minha filha! - pediu a mulher segurando a camisa de Alberto - Salve minha filha!
- Mamãe! - chorava a menina.
- Vá com ele Gabriela.
- Entra no carro Gabriela - disse Alberto - Não se mexa senhora, vou procurar ajuda.
A menina entrou no carro chorando e ficou olhando para a mãe caída ali, agonizando. Quem teria feito aquilo? Por que justo com a mãe dela?
- Lá está ela! - gritou um homem vindo da floresta que margeava a estrada - E a filha está junto.
Barulho de tiros. Alberto se levantou assustado olhando ao redor. Alguém chegava e queria matar.
- Vááá! - gritou a mulher com as forças que lhe restavam. Ela se largou no asfalto e morreu.
Alberto correu para o carro e hesitou. Não podia deixar aquela mulher ali caída.
De repente três homens saíram do meio das árvores e olharam da mulher para o carro.
- Peguem eles! - ordenou um dos homens.
- Vamos embora - disse Alberto - Sua mãe ficará bem, confie em mim. Esses homens vão cuidar dela, disse Alberto, mesmo sabendo que era mentira.
Ele ligou o carro e disparou estrada afora. Um dos homens acertou um tiro na lanterna traseira do carro, mas eles conseguiram fugir.
- Não se preocupe - disse Alberto agradando os cabelos da menina - Eu vou cuidar de você.
A menina não respondeu.
Por que eles fizeram isso com aquela mulher? O que realmente aconteceu naquele hospital? Quem é essa menina?
Alberto só sabia de uma coisa. Tudo que estava acontecendo girava em torno daquela menina, que agora sentada ali olhava fixo, perdida em seus próprios pensamentos.
- Eu estou passando mal - resmungou Gabriela.
- Acalme-se, vamos pra um lugar seguro - disse Alberto olhando para a menina - Prometo que ninguém te fará mal.
- Alberto, - começou a menina séria - nós precisamos ir por ali.
Ela apontou uma bifurcação da estrada. Ela parecia outra pessoa.
- Do que está falando Gabriela?
- Entre nessa estrada.
- Não posso - disse ele - Temos que ir pra um lugar seguro.
- Vá por ali, agora! - gritou a menina.
Alberto deu uma freada brusca guinando o carro e parando diante da bifurcação.
- Escute Gabriela, nós vamos pra um lugar que eu sei que nos ajudarão.
- Alberto - disse a menina com o olhar fixo na estrada - É por ali que eu tenho que ir. Se você não quer me levar não tem problema.
A menina foi abrindo a porta do carro quando Alberto a puxou de volta.
- Você não está normal garota. Aquele maluco fez alguma coisa com você.
- Vai ou não vai?
Alberto pensou durante alguns segundos, o sol da manhã batendo na lateral esquerda do carro.
- Vamos, mas antes me diga o que tem lá.
- Não posso dizer. Não tenho certeza.
Alberto ponderou sobre a atitude pitoresca de uma menina de oito anos. Mas por tudo o que tinham passado, e sua inevitável curiosidade em saber o que era tudo aquilo, ele decidiu fazer a vontade de Gabriela. Ele dirigiu durante algumas horas. A menina não disse mais nada, apenas olhava para fora pelo vidro semi-aberto. À medida que avançavam o dia ia escurecendo e o vento ficando mais gélido. A estrada rodeada por grandes árvores centenárias dava a impressão de uma cena de uma grande pintura crepuscular.
- Vire aqui - indicou a menina apontando para uma estreita estrada de terra à direita.
- Gabriela, me diga onde estamos indo.
- Não posso - disse a menina olhando pela primeira vez em horas para Alberto - Por que não me contou sobre o homem que te ajudou lá no hospital?
- Que homem? - Alberto olhou assustado para a menina. Tentando descobrir como ela sabia sobre o homem - O segurança?
- O segurança não importa. Estou perguntando do homem das sombras.
- Como você sabe dele? - Alberto cada vez mais preocupado.
- Ele lhe deu outro objeto junto com as chaves - disse Gabriela fixando o olhar na estrada escura - Procura, você deve ter guardado em um bolso.
Alberto tentou se lembrar se havia guardado algum objeto. Não lembrou de nada. Apenas pegou as chaves abriu a porta do porão do hospital e a largou lá.
Mesmo assim decidiu arriscar, meteu a mão livre em um bolso da calça, depois em outro e sentiu um objeto pequeno entre os dedos. Ele puxou uma pequena esfera azul-escuro menos que uma ervilha e olhou facinado.
- O que é isso? Como veio parar em meu bolso.
- Me dê ela aqui e preste atenção na estrada. Esse homem me ajudou a escapar do médico.
Ela pegou a pequena esfera e a olhou de perto.
- É como ele me disse. Isso foi tirado de dentro de mim. O Carlos vai explicar tudo quando chegarmos lá.
- Carlos? Quem é ele?
- O homem que te ajudou lá no hospital.
- Mas como ele pode estar em outro lugar assim tão rápido?
- Não sei.
Eles continuaram a viajem interminável. Alberto cada vez mais espantado com os acontecimentos. Chegou a pensar que estava em um sonho maluco.
Finalmente escureceu, as estrelas tomaram o céu límpido. Virando uma curva íngreme.
Alberto avistou uma cabana pequena e rústica. Foi desacelerando o carro e olhou para a menina.
- Encoste nessa cabana - mandou Gabriela.
- O que vamos fazer aqui? - perguntou Alberto um pouco apreensivo.
- Encoste e espere no carro.
- Não Gabriela - gritou Alberto puxando-a pelo braço - Eu irei com você.
- Calma, você ainda vai ter sua explicação.
A menina, frágil mas decidida, desceu do carro e caminhou até o cercado da pequena cabana. Ela parou por alguns segundos e olhou para Alberto.
- Venha - gritou a menina - Carlos está te esperando.
Alberto correu para perto da menina e olhou a porta da cabana. Um homem de físico frágil, mas olhar astuto, abriu a porta dando um ligeiro sorriso.
- Achei que vocês não viriam - disse o homem com aquela voz suave, que fez Alberto se lembrar do episódio do porão.
- Então era você lá no porão.
- Prazer Alberto, me chamo Carlos.
- Como sabe meu nome - Alberto parecia atordoado.
- Eu ouvi quando Gabriela te chamou. Posso parecer frágil mas tenho bons ouvidos - disse o homem - Vamos entrando, vamos, é muito perigoso quando escurece aqui.
Todos entraram em uma cabana de um cômodo, com uma cama, duas cadeiras e uma lareira.
- Aqui faz muito frio a noite sabe - disse Carlos ajeitando um punhado de lenha na lareira acesa - Vamos, se acomodem!
- Quem é você? - perguntou Alberto ainda com expressão de pura confusão no rosto.
- Gabriela - disse Carlos como se não tivesse sido questionado -, está com a esfera, querida?
- Estou - disse a menina obediente - O Alberto me ajudou bastante.
- É, eu sei - disse Carlos olhando para Alberto - Por isso ele tem o direito de saber o que está acontecendo.
- Eu vou me sentar na cama enquanto vocês conversam - disse Gabriela.
- Faça isso Gabriela - disse Carlos tomando seu lugar na cadeira restante - Vamos ao que interessa.
E olhando nos olhos de Alberto o homem começou a falar.
- Essa é Gabriela, como você já bem sabe - começou Carlos apontando para a menina - Ela foi de grande ajuda. Uma menina especial para a idade dela.
Alberto não pôde deixar de sentir compaixão pela menina, haviam passado momentos marcantes juntos. Ele sorriu para ela e voltou sua atenção a Carlos.
- Você não está aqui à toa Alberto. Não temos muito tempo, por isso vou encurtar a nossa conversa - Chegue mais perto, por favor.
Alberto se aproximou devagar, podia sentir o calor reconfortante da lareira relaxar seus músculos.
- Feche seus olhos - disse calmamente Carlos - Vai doer um pouquinho.
Carlos pôs os dedos indicadores nas têmporas de Alberto. Ele sentiu suas orelhas formigarem e logo em seguida seus olhos pareciam pegar fogo. Ele gritou e sentiu seu corpo adormecer logo em seguida. Perdeu a consciência, seu corpo imóvel sobre a cadeira.
Alberto acordou em outro lugar, não estava mais na cabana. Se encontrava sentado em sua casa de campo. Ali na varanda, em sua cadeira de balanço ele lia um romance de Stephen King. Estava quase adormecendo em cima do livro quando escutou um estrondoso trovão. Despertou de seu devaneio, olhou em volta e não viu ninguém. De repente em meio ás nuvens um clarão intenso, Alberto se levantou e observou o céu mais atentamente.
Em meio ás árvores surge um homem de baixa estatura com camiseta, jeans e tênis.
- Alberto? - perguntou o homem com uma suave voz.
- Quem é você? - se assustou Alberto - Como entrou em minha propriedade?
- Alberto, não tenho tempo para discursos - continuou o homem ignorando a interrupção - Você tem uma missão.
- Missão? Ei! Do que é que está falando? Se identifique ou saia de minha propriedade.
- Me chamo Carlos - disse o homem estendendo a mão - Vim em paz.
Alberto, meio receoso, cumprimentou o homem.
- Alberto, sua missão será resgatar uma garotinha em uma estrada - começou o homem - Não se preocupe, no dia você saberá o que fazer.
- Fazer o que? - perguntou Alberto confuso e nervoso - Eu não conheço garota alguma, e você não me conhece.
- Não importa Alberto - interrompeu o homem - Eu te explicarei tudo quando tiver cumprido sua missão.
- Não fale bobeiras - gritou Alberto.
- Acalme-se - Carlos ergueu a voz pela primeira vez - Sua esposa gostaria que você me ajudasse.
- Como você se atreve a se referir a ela?
- Alberto não me faça perguntas que ainda não posso responder - Apenas diz se você aceita ou não.
Alberto ponderou, recordações de sua esposa vieram à cabeça. Ele ficou em devaneio por alguns segundos e voltou a si.
- Eu aceito. O que devo fazer?
- Você vai ajudar uma menina, que estará perdida nesse local - Carlos entregou um papel com o endereço e a data - É importante que esteja lá, e você deve levá-la ao hospital seguindo a estrada.
- Tudo bem, mas qual a finalidade disso?
- Já disse Alberto, não é hora pra perguntas. Você sofrerá um pequeno lapso de memória que será reparado assim que cumprir a missão.
- Tudo bem - aceitou Alberto olhando sem jeito para o chão - Mas me prometa que eu não sofrerei nenhum dano.
- Prometo. Mas agora tenho que ir. Outros compromissos me aguardam.
E o homem se retirou deixando Alberto pensativo, e curioso.
Na cabana, no presente, Alberto recuperava os sentidos, abria lentamente os olhos e viu Carlos sentado no mesmo lugar.
- Não pode ser - Alberto olhou assustado à sua volta - Eu sabia de tudo!
- Sabia - começou Carlos - E agora você cumpriu sua missão e pode cuidar de sua vida.
Alberto olhou para a menina deitada na cama com seu vestido florido e sentiu pena.
- E ela? - perguntou Alberto.
- Não sabemos. Ela perdeu a mãe e o pai parece ter medo dela. Ainda temos coisas a fazer, coisas que podem decidir o destino de muitos.
- Eu fico - disse Alberto se levantando - Eu vou ficar para cuidar da Gabriela.
A menina se levantou com uma salto da cama e correu para abraçar Alberto. Carlos olhou os dois e deu um simples, mas sincero sorriso. Ali surgia um laço de amor além da compreensão.
- Então agora que já sabemos o que você decidiu Alberto - disse Carlos - vamos pegar algumas coisas e ir embora.
- Ir embora? - perguntou Alberto - Não vamos passar a noite aqui?
- Eles estão chegando - disse Carlos - E quando eles querem acham qualquer coisa.
- Eles quem? - perguntou o homem assustado.
- Não temos tempo agora - disse com urgência mas mantendo a leveza acalmadora da voz - Gabriela, eu já sei o que tinha na esfera, depois te conto.
Gabriela concordou com um aceno de cabeça, e pôs os sapatinhos.
- Carlos, espere - disse Alberto - Pra onde vamos?
Carlos deu um ligeiro sorriso.
- Para sua casa de campo. Eu escondi algo muito importante lá quando te fiz a visita.
- O que? - se espantou Alberto - Escondeu algo lá?
- Escondi. Gabriela, está pronta? - perguntou o homem - Alberto, você está deixando algo para trás?
- Não, eu estou bem, mas...
Carlos interrompeu.
- Sem mas por enquanto. Você saberá de tudo quando chegarmos lá.
Alberto concordou. Eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo.
- Apague o fogo Alberto - mandou Carlos - Vamos procurar não deixar muitas pistas.
Alberto jogou a areia de um bacia em cima do fogo e apagou-o.
- Vamos então.
Os três saíram no ar gélido da noite estrelada. Estavam a caminho do carro quando avistaram um farol de carro fazendo a curva na estrada.
- Vamos logo! - pela primeira vez Carlos perdeu a calma - Não podemos perder tempo.
Eles entraram apressados no carro e Alberto deu a partida. Deu uma guinada estrondosa no chão de terra. Ele nunca passou por situação parecida, sempre teve uma vida pacata e sossegada.
- Não, por ai não - disse Carlos - vá por ali.
Alberto disparou na direção oposta da estrada por que tinham chegado. O carro vinha a toda velocidade logo atrás.
- Quem são eles? - perguntou Alberto desesperado - Por que nos seguem?
- Eu nunca soube dizer ao certo - disse Carlos mostrando um leve temor - Mas estão atrás da menina.
- Por que? O que ela fez?
- Me desculpe, mas ainda não é a hora de dizer.
- Você está bem Gabriela? - perguntou Alberto olhando pelo espelho retrovisor.
- Estou.
- Essa menina é especial Alberto - disse Carlos - Você vai descobrir. Agora vá mais rápido ou então seremos pegos, e eu não poderei fazer nada.
Alberto pisou mais fundo no acelerador e ganhou uma distância do outro carro.
- Mais rápido - disse Carlos - Tem que ser mais rápido.
Alberto pisou mais, o carro todo tremia com a velocidade na estrada esburacada.
- Me desculpem, mas é preciso - disse Carlos.
Eles iam passando por uma fazenda cheia de gados atrás de uma cerca à beira da estrada. Carlos olhou as vacas e disse algo indecifrável. Três vacas arrebentaram a cerca, enfurecidas invadiram a estrada. Eles já tinham passado do local, mas o carro que vinha logo atrás bateu em uma delas. Foi tudo muito rápido, um barulho anunciou o desastre. Alberto olhou assustado pelo retrovisor e viu que o carro não os seguia mais.
- Desculpe - disse Carlos olhando para as mãos - Não tinha outro jeito, eles iam nos pegar.
- Meu Deus! - se desesperou Alberto freando o carro bruscamente - Como você fez aquilo?
- Alberto, já lhe disse. Agora não posso explicar nada. Vamos sair logo daqui.
- Gabriela, você está bem?
- Estou - respondeu a menina como se não tivesse acontecido nada.
Alberto inconformado voltou para a estrada e continuou um caminho cada vez mais incerto.
- Vire aqui - indicou Carlos apontando para a direita - Esse caminho nos leva para a cidade.
Eles tomaram uma estradinha de terra batida que parecia não ter fim. Quando de repente Alberto leva um susto que quase o faz perder o controle do carro.
- Pare aqui Alberto, por favor - disse Carlos.
Alberto parou e viu que quase tinha atropelado um homem.
- Vocês demoraram - disse o homem pela janela de Carlos - Achei que não viessem mais.
- Tivemos alguns imprevistos - disse Carlos.
O homem entrou e se sentou atrás com Gabriela. Um homem alto de cabelos curtos e barba feita passava uma sensação de paz. Seus olhos grandes pareciam poder observar tudo a sua volta.
- Me chamo Mario - disse o homem - Prazer em finalmente te conhecer Alberto.
- Hã? - se assustou Alberto - Por que finalmente me conhecer? Já tinha ouvido falar em mim?
- Já sim - disse o homem dando um sorriso - E ouvi bastante coisa interessante.
- Mario - disse Carlos - Eu disse que explicarei tudo pra ele quando for a hora.
- Concordo - disse Mario - Não é a hora ainda.
Alberto já estava se cansando de tantos segredos.
- Me contem logo o que está havendo - se exaltou Alberto - Eu mereço saber.
Mario pôs a mão no ombro de Alberto.
- Confie em nós. Esse lugar não é seguro. Vamos para sua casa de campo, e lá teremos tempo para todas as suas perguntas.
A voz do homem transmitia uma segurança assustadora.
- É bom que seja assim - disse Alberto - Tenho muitas perguntas.
- E nós responderemos todas - disse Carlos - Agora vamos.
Alberto acelerou o carro novamente e seguiu a estrada sem fim.
Eles seguiram pela estrada por um longo tempo. Mais a frente avistaram outra bifurcação, o caminho da esquerda levava a uma ponte que dividia o centro da cidade com a área rural. Eles seguiram pela ponte.
- Alberto - chamou Carlos - daqui em diante você sabe seguir o caminho da casa?
- Sei.
- Mario - tornou Carlos - analise isso e veja se estou certo.
Mario pegou a pequena esfera azul e a olhou com aqueles olhos penetrantes.
- Bom - começou Mario - é isso mesmo Carlos, mas eu já esperava que fosse isso.
- Do que é que vocês estão falando? - Alberto olhou pelo espelho retrovisor - O que tem essa esfera?
- Alberto - disse Carlos - espere que a hora das respostas às suas perguntas vai chegar.
Alberto ficou quieto, não agüentava mais tanto segredo.
- O que isso significa? - perguntou a menina olhando para a esfera - O que ela diz?
- Isto Gabriela - disse Mario mostrando a esfera - foi tirado de você.
- Isso eu sei - disse a menina impaciente - mas o que ela significa?
- Significa que alguém a colocou em você. E que alguém tirou.
- Quem tirou nós sabemos - disse Carlos - Mas quem pôs nós apenas suspeitamos.
- E o que ela diz? - perguntou Gabriela.
- Eu não sei ao certo - disse Mario - Possui algumas mensagens sobre sua origem, menina.
- E quem pôs isso nela? - perguntou Alberto.
- Não sabemos dizer ao certo. Temos nossas suspeitas. - disse Mario - Mas o que vale lembrar é que você Alberto, foi muito importante para a sobrevivência dessa menina.
- O Carlos me disse algo do tipo. Mas não quer me explicar por que.
Eles agora rodavam pela cidade, passavam por prédios de luxo, casas humildes espremidas entre arranha-céus imponentes. Muitos restaurantes e bares, todos movimentados na madrugada. As pessoas que ali conversavam nas calçadas não faziam a mínima idéia do que estava acontecendo com aqueles indivíduos do carro. Eles passaram por ruas em que garotos se drogavam, garotas se prostituíam, um lugar aparentemente sem lei.
- Isso - começou Mario - é o que vocês mesmo fizeram.
- Como assim nós fizemos? - perguntou Alberto.
- Vocês humanos - disse Carlos achando engraçado a expressão de confusão no rosto de Alberto.
- Ah tá - tornou Alberto - como se vocês também não fossem humanos.
Fez-se silêncio no carro, só ouviam o barulho do motor. Passada meia hora, avistaram outra estrada de terra, mas essa tinha muitas placas de sinalização. Ainda estavam perto da civilização.
- Já estamos chegando - disse Alberto - mais uma hora de viagem.
- Isso é bom, pois já vai amanhecer - disse Carlos - não queremos chamar atenção por ai.
- Tem um posto de gasolina mais a frente - disse Alberto - Temos que abastecer.
- Tudo bem - tornou Carlos - aproveitamos e comemos alguma coisa.