Três Caixas Vermelhas
Chovia torrencialmente. O ajudante pede ao motorista que procure onde estacionar o caminhão. Madrugada, a estrada sem iluminação torna-se ainda mais perigosa, a visibilidade quase zero. Motorista e ajudante são velhos amigos, estão juntos nessa lida de caminhoneiros faz tanto tempo que não saberiam precisar quanto. Era é a primeira vez que trafegavam por aquela estrada.
O motorista sabe que seu ajudante e amigo está com a razão, há perigo a cada metro percorrido, mas não tem idéia de onde estacionar, parar na estrada seria imprudência que certamente seria punida com acidente. Silenciosamente ele reza para São Cristóvão pedindo que os valha.
-Veja Ciro, luz, olha, bem ali na direita.
Pedro vira luz, embora que fraca não muito distante do ponto em que estavam. Ciro passou a palma da mão no para brisa para limpar o vidro embaçado, aproximou o rosto do para brisa e murmurou um resmungo: -Graças a Deus.
Tendo a fraca luz como guia Ciro conduziu seu caminhão até o ponto iluminado. Parou o caminhão, travou o freio e olhou em volta fazendo reconhecimento do terreno. Nada via que não fosse o fraco ponto e luz. A escuridão da madrugada e a chuva sem trégua não lhe permitiam ver nada ao redor.
Pedro disse que não estava gostando daquele lugar, sentia algo como um arrepio frio na espinha. Perguntou ao Ciro se ele tinha alguma idéia. Ciro disse que também não tinha bons sentimentos, seu joanete estava latejando, e quando o joanete de Ciro latejava algo de ruim estava para acontecer, seu joanete nunca falhara.
-Pedro meu amigo vamos ficar na boleia ate que a luz do dia venha nos valer, são duas horas da madrugada, falta muito para o amanhecer. Eu fico de prontidão enquanto você dorme. Quatro horas eu te chamo. A gente não devia ter aceitado esse frete, meu joanete avisou que alguma coisa tava errada logo que eu olhei para as três caixas vermelhas.
-A mulher que contratou o frete ofereceu três vezes mais que o preço que teríamos cobrado, não dava pra recusar o frete Ciro. Estamos parecendo crianças assustadas com sombras na parede. Eu vou dormir, me chame as quatro.
Pedro acordou com o canto dos pássaros. Esticou o corpo num espreguiçar escutando o estalar dos ossos cansados. A luz do dia invadia a boleia do caminhão, a claridade ofuscava suas vistas, passou as mãos nos olhos e desejou bom dia ao Ciro. Ciro não respondeu. Pedro saltou do caminhão já sentindo o aroma do café feito por Ciro. O café do Ciro caminhoneiro só não é apreciado pelos colegas dos pampas que preferem mate na bomba.
Pedro arrodiou o caminhão e não encontrou Ciro, de repente lembrou da noite passada, olhou instintivamente para o ponto de luz que guiara o caminhão até ali. Nenhuma construção, casa ou barracão, não havia nada, apenas a pequena clareira onde estava, e mata em toda a sua volta. Não havia nem estrada ou picada. Como o caminhão ali entrara?
Pedro pegou as chaves para abrir a porta do baú, a porta não estava trancada, o lacre estava quebrado. Pedro vacilava entre a vontade de abrir as portas do baú e o medo do que poderia ver lá dentro. Pensava em seu amigo Ciro, temia que algo muito ruim tivesse acontecido ao amigo. Muniu-se de forças e de um só golpe abriu as portas do baú.
Nem Ciro nem as três caixas vermelhas. Apenas o caminhão a pequena clareira e a mata em sua volta que agora parecia ainda mais densa. Pedro fechou as portas do baú, correu para a boleia do caminhão, sairia daquele lugar mesmo que tivesse que abrir caminho na mata fechada com as próprias mãos.
Chovia torrencialmente. O ajudante pede ao motorista que procure onde estacionar o caminhão. Madrugada, a estrada sem iluminação torna-se ainda mais perigosa, a visibilidade quase zero. Motorista e ajudante são velhos amigos, estão juntos nessa lida de caminhoneiros faz tanto tempo que não saberiam precisar quanto. Era é a primeira vez que trafegavam por aquela estrada.
O motorista sabe que seu ajudante e amigo está com a razão, há perigo a cada metro percorrido, mas não tem idéia de onde estacionar, parar na estrada seria imprudência que certamente seria punida com acidente. Silenciosamente ele reza para São Cristóvão pedindo que os valha.
-Veja Marcelo, luz, olha, bem ali na direita.
Facuri vira luz, embora que fraca, não muito distante do ponto...