Morte premeditada (T1513)
Não sabia exatamente quando começou a sentir o prazer de matar, a primeira vez que aconteceu foi praticamente sem querer, era ainda menino, estava voltando da escola, caneta na mão, um menino se aproxima e começa a pedir dinheiro, ele não tinha, o menino começa a ameaçá-lo, ele vê o ódio nos olhos dele, sabia que não aguentava uma briga, de repente o menino parte para cima, agarra-o em um abraço, só vê a expressão de dor, os olhos estalados, um líquido quente escorrendo em suas mãos, ele afasta o menino, a caneta estava lá, fincada na barriga dele, a mancha vermelha na camiseta, ele vai caindo já sem vida, até que seu corpo ficar totalmente estendido no chão.
Fora sem querer, não havia dado em nada, mas sua infância havia ficado marcada, só lembrava do gosto que aquilo havia proporcionado, a satisfação de poder sobre a vida, era algo sem explicação ver aquele corpo sem movimento, sem um único sinal de vida.
Agora estava ali, acuado, já sabiam sobre ele, mas ele quis assim, a infância passara, só muito tempo depois aquela sensação voltara, e com mais força, não conseguia se controlar, a segunda vítima, já não foi sem querer, foi a necessidade de sentir aquela sensação percorrendo seu corpo novamente, sentindo um leve sorriso em seus lábios.
Estava tudo cercado, luzes de carros e sirenes, muita gritaria, mas aquela segunda vítima, escolhera a esmo, ela vacilara, não sabia que seria tão fácil, era uma mulher, estava chorando, se aproveitara da fragilidade, puxara assunto, disse que a coincidência de ser um psicólogo o havia aproximado dela, exatamente para escutar os problemas que a afligiam, ela acreditou nele, viu nos olhos dele sinceridade, claro que falsa, mas ele aprendera a disfarçar muito bem, gabava-se deste seu lado, gritaria do outro lado, isso fazia as lembranças virem em turbilhão, conseguira levá-la para um hotel, ela em sua carência não pensava, só queria alguém que a escutasse.
Já dentro do quarto, ofereceu algo para ela tomar, aproveitou e jogou um sonífero, ela tomou o que ele ofereceu, em poucos minutos ela já dormia, era linda em seu sono sereno, agora seria rápido, sem gritos, sem pedidos de socorro, sem dor, ele só queria ver o sangue escorrer, um leve corte nos pulsos e o sangue escorrendo, só cinco minutos eram suficientes, malditas sirenes, lá fora muito barulho, muitos curiosos, e o sangue ainda escorria, agora estava satisfeito, deleite total, pegou as chaves, saiu, havia estudado o hotel, se dirigiu às escadas de incêndio, ninguém chegaria a ele, sem digitais, sem identificação, mandou ela ir fazendo o registro, dera dinheiro a ela, com uma desculpa que havia esquecido algo no carro, quando voltou entrou direto, o recepcionista nem perguntou, só acenou, usava um óculos e um chapéu, talvez pensou que fosse um hóspede já antigo daquela espelunca, ainda a encontrou no corredor, a sensação foi algo indescritível, daí não parou mais, contou até a décima vítima, depois não contou mais, deveria ter sido trinta ou um pouco mais, não se lembrava.
Agora era tempo de parar, de dar um basta, ele já havia chegado ao limite, o que lhe dava prazer, agora lhe causava remorso, mas um lado dele era mais forte, agora ele decidira acabar com aquilo, antes de seduzir a última vítima, ligara para a polícia dizendo ser o assassino das desesperadas, infelizmente a última vítima teria o mesmo fim, estava cada vez mais difícil, uma vez uma tinha coneguido se salvar, mas muitas eram desinformadas, estavam passando pelos piores momentos, quem sabe procuravam exatamente isso, o último suspiro.
Lá fora só o pedido para que se entregasse, mal sabiam que o serviço já havia sido feito, mas em lugar da satisfação, o remorso.
De repente um estrondo na porta, a polícia entrou, muitos saíram passando mal com a cena que viram, ele precisava sair dali, então num súbito levanta em direção a porta de saída, com as mãos na cabeça e gritando, um policial pede para que ele parasse, mas não conseguia, só sentiu os baques das balas atingindo seu corpo, o mesmo sangue que o seguiu a vida inteira, agora era o dele mesmo, já no chão um policial se aproxima, vê um sorriso em seus lábios, ouve apenas um "obrigado" antes de um último suspiro.
Alexandre Brussolo (07/04/2012)