A CASA 453 - Parte VI
Para a narrativa dos fatos decorridos dentro da casa 453, não foi obedecida uma ordem cronológica de idade e nem de sexo. O importante era que quando um terminasse a sua narrativa, outro começasse, de maneira rápida e sucinta, pois o tempo estava curto, e a casa ardia em chamas.
Então Valeska, se adiantou e começou a maneira dela, contar como tinha dado fim a seus problemas causados por um casamento sem nexo e sem amor. Todos ficaram mudos para escutá-la. A principio surpresos, mais depois, com um olhar de perguntas, que surgiria ao término.
A sensação de abandono que ela sentia era enorme, como também a certeza da morte. Ela não queria morrer sozinha, sem ninguém a seu lado, como também não conhecer um fruto de amor. Seria inadmissível.
O destino lhe fora cruel, pois havia lhe reservado, uma pessoa mais solitária ainda, que encontrava refúgio no litro de cachaça. Ainda havia o agravante de que ela tinha sido condecorada, com dois filhos homens, que no final se tornaram num só. Formando uma dupla de ser humano sem igual, um que se achava e outro que se encontrava.
Na vida dela o aviso vinha a galope. Um dia o corpo privava a sua liberdade, e no outro a sua condição de vitima.
Ela começa a falar da noite fatídica em que, propositalmente, para dar fim ao seu sofrimento de solidão, colocou veneno dentro do liquido asqueroso, que consumia o seu marido ingrato. A cachaça do ser pequeno. Ela não suportava mais o bafo da noite, em seu cangote.
Tinha ficado apreensiva, no começo, talvez pelo fato dele por ventura suspeitar, mais depois, quando o viu, sentiu que sua suspeita seria infundada. Pois quando ele chegou do trabalho para a casa, depois de mais um dia de labuta. Trocava as pernas como sempre, pois já tinha entornado umas e outras no bar, perto do trabalho.
Deu uma boa noite seca, como ele, e foi direto ao seu alimento, a maldita, que se encontrava na sala de jantar da casa. Bem devagarzinho, como um ritual, abriu e sorveu de um gole só, depois sem balbuciar nada, foi se arrastando para o quarto e apagou. Fim.
Ela não acreditou, mais ficou a olhar o seu ser doente, jaz na cama de casal. Sorrindo e feliz, por ter se livrado dessa criatura que lhe perseguia durante anos, a sua vida, um entulho por melhor dizer.
Resolveu então, carregá-lo até a cacimba e plof. O corpo de o pequenino ser, desceu garganta adentro, indo parar, só Deus sabe, onde. Tomara que no inferno.
Todo o morador da mansão dos horrores, da casa 453, carrega a solidão, como companheira. Para Valeska, não era exceção. Sua vida era uma brecha de saudade.
TARTAY/ABRIL-2012