A CASA 453 - Parte V
Eu parecia com a Tiazinha, e assim era chamada por todos. Minha marca registrada era a mini saia preta, que deixava a maior parte de minhas pernas torneadas a mostra, e uma vida cheia de alegrias, que depois se transformou numa agonia, num verdadeiro inferno. Tudo por causa de uma moto infernal, que transformou o meu viver, numa vida de morte.
No baú da memória, recordo ainda, que ao avistar o aspecto negro se aproximando de mim. Senti muito medo. Mais fiquei decidida a saber o que ele queria de mim. Passar uma noite, um dia ou uma semana. Passamos anos juntos, aos trancos e barrancos. De marrom só tinha os dentes. Desse estrupício veio o desastre.
Eu era mais inteligente do que ele. Fria e gélida. Até hoje o acaso e a oportunidade do crime dele, foi pago com a moeda da sorte que não estar mais comigo. Não se perdoa uma traição desse gênero. Ao saber, sai de casa, com lembranças tristes. Foi proporcional e justo.
Olho por olho, dente por dente. Seria tão bom se pudesse estar livre de tudo, liberar esta borboleta que vive dentro de mim.
A liberdade tão sonhada foi conseguida ao enterrá-lo na cacimba, junto com meus outros amantes, aqueles que me pertenceram um dia e me fizeram sofrer, possuindo-me como uma leoa. Clímax do espetáculo da paixão.
Apagam-se as luzes, escondendo todos os gestos, e ao longe são escutados os trovões, abafando todos os ruídos dentro da casa 453. Uma mancha vermelha, de sangue, surge na parede, ao longe do ridículo. Confundiram com suco de tomate, daqueles que porventura tomam, a simulação sangrenta, dentro da casa amaldiçoada.
TARTAY/ABRIL-2011