A CASA 453 - Parte III
A casa continua ardendo em brasa. De quem era então, a criança recém-nascida encontrada na casa453?
Dessa pergunta veio uma resposta, lá no fundo esquecida por todos. É minha. Falava a Linda Inácia.
Tive esta menina no auge do amor com um homem sem coração. Dela nasceu a doce ilusão da criação. Loira, linda de olhos verdes e com um sorriso de santa, assim era a minha menina. Com sérios problemas cardíacos e também uma deficiência de mongolismo. Tudo me arruinou, o nascimento e a morte dela. Uma coisa eu tinha certeza. A menina era a cara do pai. O ditado é quem diz: Filha de puta tira a mãe da culpa. Eu não fugi a regra e foi isso que aconteceu.
Pergunto-me até hoje. Qual é a intensidade do amor paterno? Dar a vida para ter uma filha, ou um filho? Isso significa que tenha dado uma prova de amor?
As nossas brigas atingiam níveis paroxísticos. Uma ferrenha disputa para ver quem ofendia mais, depois da verdade do bebê. Começavam com palavrões, terminavam em quebradeiras.
Precisava colocar um basta neste sofrimento. Porém, não tenho mais tempo de explicar o meu amor. Eu sei que a criança não entende; não sabe. Mais a distância da cacimba, para a casa453, é pequena, e dela eu me aproximava velozmente. Espero que um dia, eu entenda o meu ato; o que eu estou a fazer. Enterrá-la para sempre junto com o meu amor.
E a casa453 ardia em chamas. E mais uma vez, um cadáver a olhar por nós, ou diante de nós.
TARTAY/Março-2012