A CASA 453 - Parte II
As chamas vão consumindo aos poucos a casa 453 da família Nascid. E todos permanecem dentro dela. Vendo a consumação daquele lar que, pertenceu a uma geração de seres lactentes do mau. É muito comum nesse tipo de seitas de ocultismo, o pacto de morte. E sua prática é uma continuação. Mediante o descobrimento da magia, todos sem exceção, até o último remanescente, devem morrer. E enfrentar juntos os assassinatos? Começa então o questionamento e a revelação brutal.
A omissão de cadáveres. Foi o pior dos inúmeros crimes graves, praticados, pela família Nascid. Definitivamente, agora os lamentos das famílias dos mortos teriam fim. Finalmente eles encontrariam paz.
Então um por um, começam a narrar os seus assassinatos. O primeiro foi o irmão mais velho. O Melzequias. Alto e Magro. Uma pessoa calada e fraca, muito desolado, por tudo e por todos. Um eterno depressivo. Casado com uma velha enrugada, que se achava uma menina na flor da idade. Portadora de câncer terminal de pele. Tinha dois filhos, que herdaram a sua depressão. Brancos como uma jia descascada. Opacos pela inércia, diante da vida que lhes apresentaram.
Ele começou com sua calma peculiar, a descrever a barbaridade do qual ele era o único responsável. Deixou claro que, nunca comentara com alguém e nem tampouco com os seus familiares. Esse segredo era só seu. Como fez e de como manteve, na cacimba, o cadáver de uma criatura infernal da noite, um anão detestável. Até o presente momento, julgava o abrigo perfeito. De fato, o foi, durante anos. Mais diante da triste descoberta pelos familiares e pela detetive de homicídios da Delegacia do bairro. O fato, brevemente veria a público. Ele sabia que a cacimba, era o lugar perfeito, para omissão de cadáver. Ela tinha exatamente a largura e altura da passagem para o inferno. Tudo haveria de ser resumido e concretizado, devido a urgência do caso.
Aos poucos os flashes da memória, gasta pelos remédios por ele tomados, foram aparecendo. Finalmente aquele dia fatídico, seria desvendado. Seu primeiro assassinato tinha sido a morte do vizinho chato, o Luís da cerca, que deu seqüência a um segundo, a do anão do jardim. A uma chantagem barata, do ser repugnante.
Era um vizinho chato e sem modos, que vivia implicando com tudo. Principalmente da cerca que fazia divisão do quintal. Todo dia era um rombo que aparecia, por sinal enorme. Às vezes eu me perguntava se não era ele que fazia este estrago. Eu consertava tudo e no dia seguinte, tudo voltava a ser como era antes. O maldito rombo, na maldita cerca. Resolvi então, dar um basta. Colocar um fim, nesta história. Acabar de vez com a história da cerca ou então ela iria acabar comigo. Foi então, que o vi, com a tesoura, cortando a cerca. E sorrindo muito. Zombando de mim. Eu então, partir para a briga. De repente, uma tragédia que se originou noutra. Eu o peguei de jeito, com uma só machadada, bem defronte da sua testa. O sangue jorrou para todo lado. De imediato, não tive qualquer ação. Depois refeito do susto, pulei a cerca e fui para o lado dele. Não sei aonde arrumei coragem. O pior era que me encontrava sozinho. Mais não podia falar para ninguém. Foi muito grave. Era um crime. Eu o arrestei até o final do quintal. E o enterrei, abaixo do pé de coqueiro. Frondoso e de muitos frutos. Que dava uma água de coco deliciosa. A realidade foi pior. A constatação do fato consumado. Precisava também de uma justificativa, para o desaparecimento do vizinho chato, chamado Luís. O pesadelo se instalou. A ironia do destino. O traste tinha um irmão, que por sinal, muito pior do que ele. O anão do jardim. Que não acreditou na história inventada por mim e passou a me perseguir. Chantagear-me. Até que novamente, meu instinto de assassino, me fez praticar mais um assassinato. Eu acho quem pratica um, se torna fácil praticar outro. A seqüência da vida.
Desta feita, o assassinato do anão de jardim, foi premeditado. E com mais crueldade. Comprei um galão de gasolina e coloquei no banco de trás do passageiro. Convidei-o para ir à praia, para conversarmos. Ele prontamente aceitou. Mal sabia ele que o fim estava próximo. Durante o caminho percorrido, fomos conversando e de repente começou a troca de palavras. Era uma estrada deserta. Parei o carro e a discussão ficou alterada. As chantagens foram questionadas. De repente, ele ficou enfurecido e partiu para cima de mim. Revidei com um soco. Joguei a gasolina, nele e ateie fogo. Desci do carro e corri. Agora só restava o grito profundo e inaudível, saído do corpo do anão de jardim, enquanto ardia nas chamas, naquele dia. Enquanto me distanciava, pesava que o pesadelo tivesse chegado ao fim. Voltei ao corpo, porque precisava dar um fim a este infeliz. A cacimba era o ideal. Diante do fato consumado. Agora com meus botões, eu vejo que não terminou.
A ameaça que vinha sofrendo dele, de contar a verdade para meus familiares e para todos do bairro. Inclusive a polícia. Era bem menor do que o fato, agora descoberto, outros cadáveres, desta feita, não só no quintal e na cacimba, mais na casa toda. O silêncio se tornou predominante entre irmãos da irmandade, neste momento. E isso intrigava. O fato era que, nunca mais a casa 453, serviria de abrigo para as horrendas tramóias da família Nascid. Origem dos piores pesadelos, que ganham força dos medos mais vividos. O fato era que, ela seria lacrada e sepultada para sempre, com estas descobertas.
Ele se viu diante da verdade que precisava ser dita, e de como um crime puxa o outro e vice-versa. Ele só não entendia o porquê? Dos sussurros e desaprovações de todos? Das vozes misturadas ao longe? Das recriminações? Das descobertas de tantos cadáveres? Na cacimba, no quintal e em toda casa 453? Das complicações que todos iriam ter diante dos fatos? Até o momento, ele sabia, da existência de dois cadáveres. Então a explicação para dez, como seria? A quem pertencia os outros? O pior estava por vim, o passado tenebroso de todos, à tona? Quantos mistérios haveria para ser descobertos sobre a família Nascid? Existiria outros, além dos cadáveres encontrados?.
A casa continua ardendo em brasa. E os outros cadáveres a quem pertencia? De quem seria então, a criança recém-nascida encontrada na casa 453?
TARTAY/Março-2012