O Tesouro de Rod Brent - Cap. 4

- Então vamos, não fica longe daqui.

Atravessaram praticamente toda a pequena cidade de Desert Hills, já quase na fronteira de Mohave Valley, conseguiram, após uma tarde inteira, descobrir onde ficava Fort Danfree. Despediram-se ali mesmo e Jody, mais uma vez, desejou ao amigo muito boa sorte.

A noite há muito já havia caído quando Sam encostou com seu cavalo à porta de uma hospedaria. Amarrou muito bem o animal e entrou.

- Boa noite! Gostaria de um quarto para passar uma noite. - O dono, um senhor meio gordo com um bigode avantajado, já um tanto grisalho, assim como o cabelo, pegou atrás de si, de dentro de uma pequena caixinha pendurada à parede, um molho de chaves.

-Acompanhe-me, por favor. -Subiram uma escada em curva e, no segundo piso, ao final de um corredor, entraram por uma porta que já estava aberta. Sam olhou ao redor do que seria seu aposento. Não desgostou; era limpo e asseado, com um armário grande e uma cama que parecia ser bastante confortável. Enquanto pousava a pequena mala, perguntou ao homem, ao mesmo tempo em que lhe passava o valor correspondente a uma diária.

-O senhor conhece Mia Ferguson? -perguntou sem acrescentar mais detalhes. - O homem olhou para Sam com jeito meio espantado, o que deixou o rapaz embaraçado.

- Está tudo bem? Por sua reação acho que sabe de quem se trata.

- Sim, Mia Ferguson é minha filha. Muito prazer! James Ferguson - concluiu estendendo a mão que o rapaz apertou. - Se não se importa, gostaria de saber o que há com Mia.

- Senhor Ferguson, estou vindo de Desert Hills. Estive lá por uma noite após ter passado pelo deserto e... -o velho não deixou que ele terminasse a frase e disse ao interrompê-lo:

-Já sei o que vai dizer, não precisa concluir. Rod foi assassinado pelo bando de Terry Moore.

- Sim, é isso mesmo, sinto muito pelo seu genro. Mas como ficou sabendo? - perguntou Sam, curioso e surpreso.

- Um homem acaba de ser preso em Danfree, sr. Sam. E ele pertence ao bando de Terry Moore. Este homem invadiu ontem à noite a casa de minha filha com mais dois comparsas. Um foi morto pelos homens do xerife Grant e um conseguiu escapar. Desde que se espalhou essa história de que há ouro enterrado em nosso território não temos tido sossego. Minha filha casou-se com um homem sedento por ouro e por dinheiro vivo. Era ambicioso demais e acabou pagando com a própria vida.

-Quem enfrentou os bandidos? Já que sua filha, sendo mulher ...

-Colocamos capatazes para a proteção de Mia as vinte e quatro horas do dia. Não fossem eles não sei o que já teria acontecido com minha filha. Rod realmente enriqueceu com o negócio do ouro. Em uma de suas últimas investidas à mina de Baker City trouxe de lá valiosas pepitas. Nunca confiou em bancos e, achando que ficando ele próprio a cargo da guarda de seu dinheiro se sentiria mais seguro. Então se espalhou a história de que as últimas pepitas que conseguira na mina, junto à grande quantia de dinheiro haviam sido enterradas no rancho.

- Entendo. E o senhor, o que acha dessa história toda? -A essa pergunta o velho James lançou um olhar de desconfiança para Sam, mas, mesmo assim respondeu a sua pergunta.

-Se está querendo saber se sei também onde se encontra o tal tesouro, não tenho como responder ao senhor. Havia, sim, uma boa quantia em dinheiro guardada com minha filha, mas assim que ficou confirmada a morte de Rod fiz com que ela, imediatamente, depositasse tudo no banco. Não creio que Mia esconderia algo desse teor do seu próprio pai.

- Não digo ela, mas o senhor não acha que o próprio Rod possa ter escondido até por uma questão de proteção de sua esposa e alguém, quem sabe do bando de Terry, possa ter descoberto? - James lançou sobre o rapaz um olhar demonstrativo de reconhecimento por sua perspicácia, mas, por não conhecê-lo, conteve essa demonstração.

- Se o senhor está desconfiando da minha pessoa pode ficar tranquilo. Asseguro que estou aqui para ajudá-lo e ajudar sua filha no que for preciso. Posso dar referências da minha procedência. Faça um contato com o xerife Thompson, de Susanville. Trabalhei durante anos para ele e, tenho certeza, fui-lhe de grande auxílio no combate à criminalidade daquele território.

- Muito bem. Acho que já tenho idade suficiente para distinguir um bandido de uma pessoa comum. Mas o cheiro do ouro pode atrair e perverter até o mais honrado dos homens. Em todo caso, vou fazer o que me propõe. Mandarei uma mensagem a Thompson; conheço-o de longa data e, se for mesmo verdade o que me diz, pode contar com minha amizade. Agora me deixe descer que larguei sozinha a recepção. Mandarei trazer em seguida sua refeição e uma toalha. Tenha uma boa noite.

James fez mesmo o que afirmara na noite anterior. Bem cedo no dia seguinte, enviou, por telex, uma mensagem ara o xerife Thompson, de Susanville e obteve como resposta uma longa e entusiasmada descrição da personalidade de Sam Smith. Isto agradou sobremaneira ao velho que, no dia seguinte, tinha uma apresentação especial para fazer ao rapaz.

Já de banho tomado e sentindo-se muito bem disposto, Sam desceu à recepção e encontrou, sentada a uma pequena poltrona a um dos cantos, uma bela jovem. James, ao vê-lo, saiu da recepção onde estava e foi direto ao seu encontro.

-Muito bom dia, senhor Smith! Como passou a noite? - Sam estranhou, mas gostou da esfuziante simpatia do velho e correspondeu à altura.

- Muito bem, sr. Ferguson, agradeço a sua hospitalidade.

-Não é nada, não faço mais do que minha obrigação. - Sam falara aquelas palavras olhando rapidamente para James, pois logo voltara a sua atenção para a bela figura da jovem. Ficara encantado com sua beleza. Ela lia o jornal do dia no qual Sam percebera, mesmo de onde se encontrava, no pé da escada, uma nota referente ao assassinato de Rod, o marido de Mia Ferguson. É certo que não passava por sua cabeça que aquela bela e jovem mulher pudesse ser a própria viúva e foi enorme a sua surpresa ao ser apresentado a ela pelo velho pai. Sam se aproximou e Mia ergueu-se para cumprimentá-lo, estendendo-lhe a mão.

Mia Ferguson era mesmo muito bonita. Foi difícil convencer ao pai que o que sentia por Rod era amor verdadeiro muito além do que interesse pela fortuna que ele já havia acumulado em suas intermináveis andanças pelas minas de Baker City. Era uma morena alta e esguia; a pele era super macia e os olhos tinham uma expressão de ternura e encantamento. Os cabelos pretos e muito lisos iam até bem abaixo do ombro. Usava um vestido comprido, discreto, de um tom lutuoso, mas nada exagerado. Sorriu, meiga e discretamente ao cumprimento do rapaz, o que não empanou em nada sua beleza.

Alguns dias se passaram, dias que obrigaram Sam a continuar na cidade dada a uma contingência não esperada, muito menos planejada por ele, que foi a demonstração de amizade vinda de James Ferguson e, porque não dizer, da atração que Mia, agora uma jovem viúva, despertara em seu coração. Deslumbrou-se com o tamanho e a suntuosidade do rancho habitado pelo casal. Não admira que fosse Rod um homem invejado e essa história de que escondia ouro em seu próprio rancho deve ter contribuído para sua morte.

No esconderijo de Terry, o plano seguinte seria a invasão da pousada de James Ferguson a fim de sequestrarem Mia, pois sabiam que estava ali, protegida do pai e de uns poucos guarda costas. O casarão onde se reunia Terry com seus capangas ficava ao fim de uma estrada esburacada, uma das últimas de Desert Hills antes da solidão do deserto. Terry tinha a sua disposição treze homens bem treinados e dispostos a cumprir suas ordens. Quando souberam que estavam em jogo algumas centenas de milhares de dólares em ouro e dinheiro vivo redobraram em entusiasmo e chegaram a apostar quem primeiro colocaria as mãos em toda aquele grana.

Terry era grandalhão, barbudo e tinha a pele tisnada pelas constantes exposições ao sol do deserto, pois muito ali atuava em assaltos a caravanas. E ali ficava seu esconderijo principal,

seu reduto, segundo ele e seus homens, secreto e inviolável. Há muito vinha sendo procurado pelas delegacias de várias cidades e já tinha recompensa avaliada em milhares de dólares, tal era o interesse da lei em que fosse logo capturado. Pouco saia de sua jurisdição e, quando o fazia, era forte o esquema de segurança.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 29/03/2012
Reeditado em 29/03/2012
Código do texto: T3582906
Classificação de conteúdo: seguro