ANJOS 3 DE 7 ANJO CAIDO
Glorious desceu planando até as ruas sujas e escuras de uma São Paulo de Madrugada. Algumas ruas daquela cidade, no centro do estado, eram claustrofóbicas. Prédios altos, velhos, de muitos andares, que escondiam muitos segredos, elevavam-se até o céu, naquela Babel medonha. Era um feriado na cidade e por isso não se via ninguém ali. Apenas folhas de jornal velho, voando faziam algum barulho, na noite gélida. Glorius era um anjo caído, da Rebelião. Na luta que houve no Céu, ele fora ferido nos olhos e não podia mais enxergar. Uma bandagem, já suja de outras batalhas, cobria seus olhos, dando uma volta em todo o seu cabelo aloirado e longo. O anjo desceu, meio sem jeito, batendo uma das asas, enormes, na parede de um dos prédios sujos de poluição e pecado. Quando ele colocou os pés no chão, recolhendo as asas, ainda pode ouvir o riso debochado de algumas mulheres da vida, encostadas num muro fedorento, compartilhado com outras pessoas também desqualificadas, que usavam uma droga alucinógena da época, a dois quilômetros dali. Um farfalhar de asas atrás de si fez com que ele virasse levemente o rosto, apurando os ouvidos.
- Olá Mateus, veio para guerrear comigo? – disso o anjo caído já com uma das mãos na espada negra.
- Olá irmão Glorius. – ele desejou levantar a mão em saudação, como em outros tempos, quando se cumprimentavam já profetizando: “Que a paz esteja contigo!” Glorius também tinha saudades de algumas coisas que perdera com a rebelião. É lógico que se arrependera, mas não tinha mais volta. Eles estiveram com o Deus Criador, viram o principio do universo, a origem do homem, conheciam coisas que não é licito contar ao homem, sobre a glória que é o Céu e o que é viver no Céu, sob as benesses de Deus. Glorius vivia depressivo todo o tempo. Sem futuro, tendo como meta apenas o ódio pelos seres humanos, que lhes roubaram o Céu. Lá no principio Deus encheu-se de carinhos e mimos pelos odiosos humanos. O primeiro macaco: Adão e a sua macaca: Eva tiveram o que mereceram. Expulsos do Paraíso, debaixo de raios e trovões, foram a piada durante muito tempo aos caídos. Glorius não estava na morte de Abel, pois estava numa missão de reconhecimento em outros planetas. Deus não lhes falava mais o que estava fazendo, eles tinham que ir atrás procurar saber.
- Eu fiquei sabendo que um agrupamento está dando rolos da palavra aos humanos escolhidos? Isso significa que em breve estaremos dominando em nosso reino. – Aquela constatação queria dizer algo mais, imaginou o lindo anjo Mateus. A sua aparência era de um moço de uns dezesseis anos, meio magro, com um rosto tão belo, de olhos escuros e sobrancelhas grossas, no cabelo longo- É, eu fiquei sabendo disso também. – disse ironicamente o anjo Mateus ao demônio à sua frente. Glorius fora instrutor de Mateus... numa outra vida.
- O que você quer me seguindo? – disse o anjo caído.
- Nada, apenas sinto saudades de outros tempos.
- Vocês anjos de Deus insistem em quere ter misericórdia e pena de nós, os Anjos da Rebelião. Ainda chegará a hora em que ganharemos essa batalha e destituiremos Deus de seu Trono.
- Isso é uma ilusão, nunca poderá ocorrer... – Mateus fora interrompido pelo anjo cego, que furioso desembainhou a sua espada longa.
- A cada dia que passa temos mais poder. Eu sinto o poder em minhas veias. A raça humana a cada dia peca mais, em muito ultrapassaram a Sodoma e Gomorra. Eles querem a nossa liderança e vamos dar à eles o eu eles querem. O mundo terá a Glória do Exército de Satanás ainda.
- Você fala, como se gostasse do seu líder. Satan os enganou a todos e vocês se deixaram seduzir pela mentira deslavada.
- O seu Deus – acusou o demônio cego – permitiu que nos desviássemos e o confrontássemos na Batalha no Céu. Não venha dizer que Satan nos enganou, foi Deus quem nos enganou, amando a esses pobre mortais inúteis e preguiçosos. A raça humana é podre, cheia de gente que não presta. Pais abusam de seus filhos pequenos, mães abusam de suas filhas. Eu vi uma mãe matar a filha de dois anos e enterrá-la no jardim, isso sem a nossa ajuda. Ela matou, ela desejou o mal e era apenas ela própria. O homem é mal em sua natureza.
- Mas o homem pode ser bom também. Vejo a mulher grávida que afaga a sua barriga, o pai que penteia o cabelinho de seus filhos pequenos, a lágrima da mãe quando não pode dar o que comer ao seu filho. O homem tem atos nobres que surpreendem até o Céu, em algumas horas. O ser-humano morre tentando salvar uma vitima do fogo, ou entrando na correnteza, mesmo sem saber nadar, se lá houver alguém, que ele creia que tenha mais necessidades do que ele.
- Mentira, o homem não tem nada bom. Se existe alguma bondade, essa sobrevém de Deus, não do homem.
- Glorius, veja os cristãos verdadeiros, quando oram, preste atenção à suas orações, à suas vidas castas, à dedicação ao Senhor!
- Mentira de novo. O homem só glorifica a Deus, porque Deus falou que Ele, Deus, iria honrar o seu nome de Rei. O homem está sendo abençoado porque Deus está honrando o seu nome. Deus não está tão preocupado assim com a humanidade. Não seja ingênuo Mateus, olhe para tantos paises desse mundo em que a corrupção e a fome imperam. Eu não sei quem é pior, o povo que vota em seus péssimos líderes, ou os líderes que esse povo tem, e merece.
- Você que tem como líder a Satanás quer falar de liderança que o povo tem? Na maioria do tempo eles não sabem o que fazem. Levam a vida enrolados com seu dia a dia. Muitos humanos não têm meta na vida, mas isso não significa que não adorem a Deus.
Glorius não tinha o que responder. Ele sabia que Deus era bom. O que não queria aceitar é que errara redondamente, enganado de uma forma absurda. Ele traiu a Deus, e ponto final. Ele não se perdoava jamais, apesar de que pelo conhecimento que tinham do Deus Pai, eles não teriam perdão mesmo. Se outros anjos pecaram contra Deus, ele não deveria ter pecado. Se outros anjos conseguiram ficar do lado do partido de Deus, como é que ele não ficou. A idéia de usurpar o Trono de Deus parecia muito boa, a principio, mas quem imaginaria que seriam mandados a um lugar tão horroroso quanto era o Inferno? Todo esse erro e ódio e frustração deveria ser descontado em alguém. O bode expiatório era a humanidade. Se eles pudessem descontar em Satanás, eles o fariam. De qualquer jeito a inveja da raça humana, do perdão de Deus para com esses entes fracos e patéticos, era enorme e ultrapassava qualquer entendimento razoável.
- Mateus, você está me irritando, eu não quero mais conversar com você. Me desculpe, eu tenho coisas a fazer. – Sobre isso o anjo de luz não podia falar muito também. Os seres humanos deram brechas para que os demônios tivessem acesso a amaldiçoá-los e eles estavam autorizados a assim fazer. Enquanto Mateus saia voando em direção a outro lugar, o anjo cego caminhava pela rua, meio cambaleando. A sua cegueira era um maldição especifica. Ele não precisaria nem enxergar para andar em algum lugar, mas a cegueira para ele era como a marca na coxa de Jacó, o Israel. Glorius ia amargurado de encontro às vozes das prostitutas, dos cafetões e dos clientes da prostituição.
Um vento gélido percorreu as ruas da capital de São Paulo, o Centro Velho. Uma luz néon piscava esverdeada num terceiro andar qualquer, acendendo e apagando tristemente.
...
João acordou de manhã, deu o chocolatinho para os filhos, preparou o café da esposa e orou uma meia hora. Ficou mais ou menos duas horas procurando o que fazer até que decidiu-se a escrever um sermão, meio que estudo bíblico. Na sua mente estava a preocupação com o terremoto que viera na Ásia, nessa semana.
Existem duas escalas de terremoto, reconhecidas. As de Mercalli e a de Richter. A primeira escala para medir terremotos foi desenvolvida na Itália, no final do séc XVIII. Os tremores eram classificados em leves, médios e muito fortes. Atualmente firmou-se as escalas de Mercalli e a de Richter. A escolha depende do que se quer dimensionar. A escala do americano Charles Richter (1900-1985), registra a amplitude do movimento do solo, sem considerar o impacto na superfície. A escala cresce em progressão logaritimica, sendo assim um terremoto de 5 pontos é 32 vezes mais forte do que um de 4 pontos. A escala inventada em 1902, pelo sismólogo italiano Giuseppe Mercalli, mede terremotos pelo seus efeitos.
São 12 as graduações:
1. Vibrações são registradas por instrumentos.
2. Pessoas paradas nos andares altos sentem o tremor.
3. As casas tremem, objetos pendurados balançam.
4. Pratos chocalham, carros balançam, árvores tremem.
5. Portas abrem-se, líquidos entornam-se dos copos, pessoas adormecidas acordam.
6. Pessoas andam com instabilidade, janelas partem-se, quadros caem das paredes.
7. Difícil manter-se de pé, estuque, tijolos e quadros caem, sinos grandes tocam.
8. Condução de automóvel afetada, chaminés caem, arvores partem-se, fendas no solo molhado.
9. Pânico geral, danos em fundações, areia e lama brotam do solo.
10. A maioria dos edifícios destruída, grandes desabamentos, água lançada para fora dos rios.
11. Trilhos ferroviários dobram-se, estradas abrem fendas, grandes feridas aparecem no solo, caem rochas.
12. Destruição total, “ondas” vistas na superfície, do solo cursos de rios alterados, visão distorcida.
Mas o que é um terremoto?Pra isso precisamos entender o seguinte: O que é mais quente: o Centro da Terra ou a superfície do Sol?
A temperatura no núcleo da terra e a temperatura na superfície do Sol são muito semelhantes. Podemos estimar a temperatura na superfície do Sol ao estudarmos a cor da superfície juntamente com o espectro continuo emitido pelo Sol. Quando um pedaço de metal é aquecido, ele começa a ficar vermelho, então muda progressivamente para branco-azulado na medida em que fica mais quente. De maneira semelhante, a cor da superfície do Sol é um indicador de sua temperatura. Usando essa informação, podemos obter uma estimativa razoável para a temperatura da superfície em cerca de 5.505ºC. O núcleo da Terra é composto por uma liga de metais de ferro e níquel sob altíssima pressão. Os cientistas conseguem estudar as propriedades de materiais como o ferro sob pressão em laboratório. Utilizando tal método, podemos calcular a temperatura no núcleo em cerca de 5.430ºC.
Dentro da terra, gigantescos blocos de pedra de quilômetros de espessura, flutuam sobre uma imensidão de matéria fundida. O calor das profundezas da Terra mantém essas placas em movimento. Essas Placas Tectônicas, podem se chocar de frente, ou raspar de lado. Na grande maioria do tempo, o que mata, num terremoto, são os prédios mal construídos.
O terremoto que deu na Ásia naqueles dias foi tão forte que a superfície da Terra parecia feita de manteiga. Ondas foram registradas por helicópteros que estavam cobrindo um evento esportivo. A estimativa era que 350.000 pessoas morreram e 2 milhões, aproximadamente, estavam desaparecidas. Um dos helicópteros que não tinha combustível suficiente, para sair da zona do terremoto, conseguiu transmitir a transmissão de TV, mas não conseguiu chegar em terra firme a tempo e caiu, ao vivo. Esse fora de longe o pior terremoto já registrado na história, até hoje. Na zona do terremoto estava a capital do país. Sendo um dia de trabalho normal, o Palácio da Republica estava funcionando, com praticamente todos os seus funcionários. Morreu naquela terremoto, o presidente, os ministros, assessores e deputados. Ocorrendo no centro da cidade, as grandes empresas e os grandes negócios foram todos afetados. As estradas praticamente sumiram naquele enorme terremoto. Nunca se vira coisa igual. A terra fendeu-se me muitos lugares e jogava quilômetros acima no ar lava e pedra. Estávamos vendo uma mudança ocasionada com os terremotos que eram agora mais freqüentes em todo o mundo e a conclusão a que chegaram os cientistas era que o núcleo da Terra estava esquentando, a ponto de explodir. O ser-humano caminhava sobre uma imensa bomba, prestes a explodir em pedaços pequenos e também kilométricos. Era tão alarmante o que ocorreu, e pior de tudo, ao vivo para o mundo inteiro ver, que o medo mundial era quase pânico. Se o mundo explodir, não tem para onde se ir. Profetas de ultima hora apareceram pra todo lado. Astrólogos e gente falando todo tipo de baboseira também. Uma noticia ruim acabava abafando a outra. Descobriu-se que um enorme fragmento de rocha, do tamanho de Israel estava vindo de encontro à Terra. Colocaram o nome de Apolium, para essa rocha estelar. O choque ocorreria daqui a três anos e meio, exatamente, a partir de dezessete dias atrás. O mundo pedia um presidente único, com um órgão que gerasse um dinheiro único, para facilitar a todos, caso fatos como o terremoto na Ásia e sentido na França, ocorressem de novo.
Nada estava seguro, a partir de então. Milhares de pessoas que não bebiam começaram a beber. A droga nunca foi tão consumida antes. Traficantes estavam ficando milionários do dia pra noite. O sexo não era mais livre, como dizia Woodstock, mas era moeda comum agora. Novos ídolos surgiam a cada minuto. Templos novos pra tudo que era tranqueira apareceram.
João estava perturbado. Lá fora ele ouviu um barulho de alguém tentando arrombar o portão de sua casa. Ele e a família viviam praticamente prisioneiros dentro de casa. Câmeras lhes mostravam se podiam sair ou não. Supermercados e lojas de conveniência eram roubadas durante o dia. Ninguém ligava mais. Poucos iam trabalhar. João não foi. João era pastor em tempo integral, o que significava que ele vivia do evangelho. A Igreja o sustentava. Consagrado numa Igreja Batista Neopentecostal, João era um cristão muito centrado, não correndo atrás de modismos da Igreja. Ele gostava de uma liturgia um pouco meio da antiga. Três hinos no inicio. Uma oração. Uma ou duas oportunidades apenas para transmitir rapidamente os afazeres da Igreja, Ministravam os dízimos e ofertas, oravam. Por fim vinha a mensagem. O culto era todo centrado na mensagem. Era elaborado de forma que todos desejavam e ficavam esperando a mensagem a ser pregada. Não haviam outras distrações. Principalmente naqueles dias em que se amarravam demônios, repreendendo-os por kilômetros e mais kilômetros e que se enxergavam demônios em todo canto, espreitando nas sombras, João fazia questão de ser tradicional e pregar a Bíblia, do jeito antigo. Não do jeito novo, fluido, meio que linguagem da Internet, onde a conversa era tola e perigosamente rápida, sem aprofundamento algum. Cantavam-se nas igrejas atuais até dez hinos num culto e depois diziam que o povo não agüentava mais ouvir a Palavra como antigamente, por isso deveríamos pregar pouco e rápido, sem ser chato, falando de pecados ou outro tema confrontador – fazendo assim perderíamos os clientes!
O ladrão foi embora, afinal. Madalena, a sua linda esposinha não lhe disse nada, apenas olhou para ele, procurando um apoio. “Está tudo bem” Disse ele tentando sorrir, enquanto ela estava enxugando uma panela.
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referencias
http://descobrindosobre.blogspot.com.br/2011/09/centro-da-terra-ou-o-sol.html
Terremotos sem hora marcada - Superinteressante