Anjo

Segurando à beira daquele precipício, todos me olhando sem poder ajudar, eu me desesperava, como era possível? Meu braço não tinha mais força, alguém tinha ligado para os bombeiros, mas lembrando que estamos no Brasil, certamente viriam regatar apenas meu corpo inerte caído no fundo daquela fenda de pedras.

Eu não acreditava em anjos até ver aquele homem se aproximar, tinha uma corda amarrada na cintura, vindo em minha direção, com o cenho franzido, parecia fazer muita força, eu tremia, mas ainda segurava firme na pedra, minha mão em carne viva resistia bravamente há meia hora naquela triste situação. Quando ele me envolveu pela cintura e segurou com firmeza, eu praticamente desfaleci, pois estava muito cansada, nem vi quando me levou novamente para cima, acordei com o som de uma sirene.

Depois de ser atendida, os ferimentos devidamente limpos e cobertos eu o procurei, perguntei por ele, mas ninguém sabia quem era, nem para onde tinha ido.

Hoje, três anos depois, me lembro daquele incidente a beira do mesmo penhasco, vendo quão fundo ele é, vendo o quão lisa é a superfície em que me apoiava só penso naquele anjo, me pergunto então se o verei novamente, talvez esteja agora meu lado, talvez fosse só uma alma boa, mas de algo estou certa, minha vida esteve por um triz...