Visita à Casa Thriller
Eu e minhas amigas saímos do Hospital Infantil de Los Angeles e seguimos para Carroll Avenue.
Ao chegarmos, a placa confirmava que estávamos na maior concentração de casas da Era Vitoriana, tombadas pelo Registro Nacional de Monumentos Históricos.
Perplexas, entramos na rua, à procura da famosa Casa Thriller, do vídeo clip de maior sucesso da história da música.
Cada casa que víamos nos deixava de queixo caído. Mansões bonitas, mas estranhas... De repente, parece que estávamos protagonizando um filme de terror!!! O nosso carro ia bem devagarinho, em busca da casa do número 1345. O silêncio era sepulcral e a onipotência das casas metia medo. A ausência de cortinas revelava o interior das salas e podíamos ver imensas árvores de Natal decoradas e iluminadas em cada uma delas, mas não víamos nenhuma pessoa. A falta de muros nas casas construídas em 1887,porém, não transmitia aconchego nem segurança.
Finalmente encontramos. E a CasaThriller estava ali, medonha à nossa frente, tinta desbotada, sem iluminação, apenas uma tímida luz acesa em um dos cômodos, os móveis cobertos com lençóis brancos, jardim descuidado e uma placa “For Sale”. Parecia mesmo uma mansão assombrada e abandonada. Estava claro que não havia ninguém morando lá, nem decoração natalina tinha, como nas demais casas. O clima de solidão era evidente. De repente, a lâmpada se apagou. Nos assustamos!!! Quem teria apagado a luz??? Não havia nem sombra de morador algum naquela casa. A aventura estava apenas começando...
Pensamos em descer para fotografar. Eu estava com muito medo – a casa estava feia, tinha jeito de mansão maldita de filme de terror e a vizinhança estava toda recolhida, pois já era bem tarde. Além do mais, não queríamos incomodá-los para não correr o risco de chamar a atenção de algum segurança particular que certamente cuidava da rua. Ninguém queria se envolver num incidente desagradável ou ter problema com a polícia americana.
Do carro mesmo, peguei minha digital simplezinha e fizemos umas fotos da casa. A iluminação da mansão vizinha ajudou e a foto saiu bem visível.
Foi então que resolvemos descer. M., nossa amiga que fotografou toda a viagem, com sua câmera bem potente e semi profissional também começou a disparar fotos com flash.
Como o silêncio reinava absoluto, o barulho do flash disparado soava imenso e havia o risco de acordar moradores tão importantes.
Mas aí o inesperado aconteceu. A câmera não conseguia captar a imagem e a foto não saía. O medo foi aumentando... M. testou a câmera fotografando casas vizinhas e outros pontos, como o chão, os nossos pés... e tudo bem. Só a Casa Thriller não saía nas fotos.... Sinistro!!! Foi dando um gelo, um mal estar. Foi quando a S. nos alertou que já era muito tarde e no outro dia tínhamos que levantar cedinho, que era melhor irmos embora. Mas a nossa fotógrafa era persistente, o que aumentava meu pânico, eu que parecia ser a mais assustada de todas. Foi então que começamos a divagar. Que seria isso? Cada uma levantou sua hipótese: _ Alma penada, maldição na casa que foi palco de outros filmes de terror? Não podia ser nada a ver com Michael, um cara super do bem... E eu, tentando acalmar meu próprio desespero disse: _ Gente, não deve ser nada sobrenatural, imagina. Deve ser algum esquema de segurança que a casa tem, que a protege contra flashes.
Enquanto isso, M. insistia nas poses e, quanto mais tentava, mais a câmera rateava, fazia um barulho diferente, parecia chorar... Umas poucos fotos foram captadas, registrando imagens escuras, pouco nítidas, e o céu que estava límpido ficou parecendo nebuloso e até desenhos de raios e trovões apareceram, tudo muito assustador. Nesta altura do campeonato, eu já estava dentro do carro fazendo preces.
Foi quando resolvemos olhar no relógio, pois estávamos vencidas pelo cansaço. Lá do alto da Carroll Ave. víamos os prédios acesos do cartão postal de L.A., completando a horripilante cena. E os ponteiros marcavam os primeiros minutos de um novo dia, o que significava que as fotos foram feitas exatamente à meia-noite. Ainda mais sinistro!!! Ficamos gélidas diante da coincidência, entramos no carro, demos mais uma volta na avenida e em outra rua da estranha vila e, antes que a M. quisesse retornar pra novas tentativas, nós a convencemos a desistir.
Não via a hora de me retirar daquele local, pois na minha mente já imaginava coisas horríveis. Eu, particularmente, voltei com a sensação de pavor que nenhum filme de terror conseguira me dar e uma dúvida cruel. O que realmente teria acontecido naquela noite?