A Verdadeira Morte

Por um longo tempo, vivi em meio a sombras, em meio a coisas obscuras que me rondavam dia e noite. Nunca procurei uma saída. Para ser sincero, nunca precisei de uma. Acostumei-me com esse mundo de insanidades, vivendo com a tristeza e convivendo com a hipocrisia. Isso tudo, após ter dado um fora na pessoa que eu mais amava, e que, provavelmente, também me amava no mesmo grau de intensidade. O problema é que, devido a experiências frustradas, eu prometi a mim mesmo, nunca mais amar. Eu pensava que essa coisa de “amor” era uma farsa, algo irreal no mundo real. E acreditava que se eu permitisse me importar, tudo o que eu sentiria seria dor. Até que eu visitei um hospital, bastante conhecido por tratar de casos raros e anomalias.

Vaguei pelos corredores do lugar. Não sabia o que procurava, nem ao menos o que eu fazia naquele ambiente. Quando, de repente, ouvi gritos. Vinham de uma sala próxima de onde eu estava, caminhei até a mesma, na intenção de descobrir o motivo da gritaria. Observei a cena pela janela de vidro, e custou-me um certo tempo para entender o que realmente estava acontecendo. Tratava-se de uma cirurgia, muito complicada por sinal, cujos pacientes eram irmãos siameses recém-nascidos, que vieram ao mundo unidos por um só coração.

Encontrava-se, na mesma sala, a mãe dos bebês, dois estagiários muito mal instruídos e alguns ajudantes. Desejavam separar os irmãos, deixando-os, de preferência, vivos, e cada um com uma parte do coração. Eles sabiam que a possibilidade de tudo dar errado era enorme, senão a única, mas havia algo que os induzia a continuar: A Esperança.

A cirurgia finalmente começou, após minutos de discussão. Passaram-se cerca de trinta minutos, e eu permanecia ali, observando tudo: desde o nervosismo dos estagiários às lágrimas de assombração da mãe dos bebês. Foi quando uma voz murmurou:

-Nós vamos perdê-los.

E a aflição aumentava. Passados mais quinze minutos, o veredito foi dado:

-Desculpe-nos, mas não conseguimos salvá-los. -Disse o estagiário que aparentava ser o mais experiente dali.

A mãe dos garotos desmaiou. Os ajudantes estavam chocados, alguns chegavam a cair em prantos. Eu não consegui permanecer ali nem mais um minuto. Saí correndo pelo corredor do hospital. Enquanto isso, indagava-me: "E tudo acaba dessa maneira? Os bebês simplesmente morreram? E quanto à esperança e à fé? Não dizem que esta remove montanhas?" E continuei me fazendo milhares de perguntas. Até que eu parei numa praça que ficava em frente ao hospital e relacionei aquele acontecimento com a minha história, com a pessoa que eu deixei para trás e fiz sofrer num passado recente. Foi nesse momento que eu compreendi a mensagem e cheguei a seguinte conclusão: Quando se separa duas pessoas que compartilham um mesmo coração, elas morrem.

Então, no final das contas, eu havia aprendido alguma coisa com aquilo tudo! E saí dali disposto a voltar atrás e adiar mais um pouco a data da minha morte.

Lianderson Ferreira
Enviado por Lianderson Ferreira em 17/03/2012
Reeditado em 08/01/2014
Código do texto: T3559303
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