PAVOR
PAVOR
Parou frente à porta e a indecisão tomou conta. Depois de tantos anos será que era isso mesmo que queria? Começou a lembrar-se do passado.
Maria Augusta era uma das jovens mais bonitas da faculdade e tantas tentativas foram feitas para conquistá-la e tantas vezes foram rejeitadas. Mas não importava, pois o amor continuava o mesmo. Soubera até que nunca se casara. Talvez isso fizesse com que tomasse coragem e viesse procurá-la.
Agora ele estava ali sem coragem de bater à porta.
Jorge e Maria Augusta se formaram no mesmo ano. Ele em engenharia e ela em arquitetura. Tiveram sua colação de grau e as festas no mesmo dia. Depois cada um seguiu seu rumo.
Sentia-se um adolescente a procura da namorada. Levou a mão à campainha, mas...
Depois de dez anos como será que ela estava? A última vez que a viu estava mais bela e menos hostil para com ele. Deu trabalho para conseguir seu endereço. Conseguiu com um amigo dela, que relutava em fornecer. Mas de tanta insistência ele entregou a tão almejada informação, mas sem antes dizer que era por sua conta e risco. Não conseguiu compreender o que ele queria dizer com isso.
Tocou a campainha.
Ela sempre fora daquelas garotas de nariz empinado, orgulhosa e que gostava de aparecer. Mas era o jeito dela. Difícil mudá-la. Mas nos últimos anos de faculdade até que estava mais “digerível”.
A porta abriu-se e uma senhora de idade veio atendê-lo.
- Pois não? Com que gostaria de falar?
- É aqui que mora Maria Augusta? Maria Augusta de Sá?
Olhou Jorge com olhar desconfiado e parecia não querer muita conversa.
- Quem é você? Maria Augusta não gosta de ser incomodada.
- Diga a ela que é o Jorge Ricardo, lá da faculdade. Formamo-nos juntos.
- Ela nunca me falou de você. Vou ver se ela pode recebê-lo.
Fechou a porta e Jorge ficou aguardando.
“Que estranho. Nunca mencionou o meu nome!” pensou.
Longos dez minutos se passaram. Já estava quase indo embora quando a porta novamente se abriu.
- Entre. Olha que ela jamais recebeu uma visita, você é exceção. Ela está na biblioteca te esperando.
- Obrigado.
Cruzou a sala e dirigiu-se à porta que dava para a biblioteca. O ambiente estava meio em penumbra, o que dava certo ar de mistério. Um arrepio tomou conta de Jorge.
Entrou. Viu uma pessoa sentada em uma cadeira de rodas e de costas para a entrada.
- Entre Jorge. Faz tempo que não nos vemos, não é?
- Faz bastante tempo, Maria Augusta. E você como está?
Virou-se para ficar frente a Jorge.
(CONTINUA)