A destemida Anita

A novena em louvor a Santo Antônio estava para começar na residência dos Vieira. Vários membros da família e amigos que participariam do ato religioso ultimavam os preparativos para o início da reza, quando foram tomados de grande sobressalto! Misteriosas pisadas foram ouvidas atravessando a sala, onde todos se achavam, como se alguém houvesse entrado ali no recinto. Os cachorros fizeram festas abanando a cauda para os invisíveis seres. Arrepiados e de cabelos eriçados todos se entreolharam apavorados. Os preparativos para a novena foram interrompidos. Logo, o burburinho tomou conta do ambiente. A partir daquele momento ninguém quis mais circular sozinho pelas dependências da casa, exceto a destemida Anita, que todos já tinham na conta de mulher-macho em virtude das bravatas que, constantemente, alardeava. Dizia nada temer. Nem mesmo seres do além. Aquele fenômeno, então, seria o teste para ela colocar em prática o seu propalado destemor. Enquanto os demais se mostravam temerosos ante o acontecido, ela foi até a cozinha, armou-se de um facão e retornou à sala. Para demonstrar que com ela fantasmas não tinham vez, arrastou a lâmina do instrumento cortante no piso de cimento alisado, fazendo voar centelhas douradas que iluminaram toda a casa. Em seguida vociferou:

- Quem quer que seja que entrou nesta casa, apareça, e diga o que quer! Se for do bem será bem vindo. Porém, se veio por parte do filho de chocadeira que vá para as profundezas do inferno, que lá é o seu lugar.

Dito isto, uma lufada de forte vento invadiu o recinto, apagando todas as velas que já estavam acesas para a cerimônia religiosa. A casa só não ficou totalmente às escuras, devido a uma lamparina que se achava acesa e pendurada no meio da sala.

- Você ainda insiste em atentar “coisa” ruim?

Em nome do Senhor Jesus Cristo, saia desta casa, Rabudo! Que aqui você não é bem vindo! Vá arder na fornalha do inferno, seu Belzebu! - Tornou Anita.

Após a invocação do nome do Altíssimo, imediatamente cessaram as assombrações e todos que ali se encontravam receosos e contritos, iniciaram a reza para o Santo e, em especial, preces para afugentar os maus espíritos que tentavam atrapalhar a realização da novena.

Anita que já levava má fama de valentona, sem, apresentar qualquer evidência que comprovasse suas bravatas, desta vez, passou o atestado de sua valentia, enfrentando o fantasma enquanto alguns marmanjos que ali se achavam, já ensaiavam uma corrida de curta distância, cujo final, seria debaixo das camas.

Valmari Nogueira
Enviado por Valmari Nogueira em 29/02/2012
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