O doce veneno da enganação.
Aquela madrugada era perturbadora. Por mais que o céu estava deslumbrante em estrelas, a doce neblina tomava conta de todas as ruas e avenidas daquela pequena cidade pouco povoada. Mas naquela noite, uma alma estava para se calar. Estava prestes a ser interrompida pela voz do enganador. Havia um homem dentro de seu carro, estava em um total pânico. Seus olhos eram assustadores, vermelhos com as veias ressaltadas demonstrando medo, ódio e fraqueza. Ele sussurrava pequenas palavras que nem ele mesmo sabia o que significavam, mas que ele precisava falar para não se calar eternamente. Abria a porta e fechava ao mesmo tempo, não sabia o que queria. Mas o tempo todo mantinha seus olhos fixados no porta-luvas do carro. Nenhuma lágrima rolava em seu rosto, mas a tristeza e a angustia era fortemente notável em seu semblante. Uma voz então toma conta de seus ouvidos
- Vá, faça isso. Ela nunca te amou... Nunca te amou. Ela é deprimente, não é digna do seu perdão, é podre – sussurrava a voz maligna que penetrava a cabeça do pobre homem abatido – Corno chifrudo. É o que todos dirão quando você sair na rua... Está preparado para ostentar toda essa reputação?
Ele apoiava as mãos fixas em seus ouvidos para que não pudesse mais ouvir a voz. Porém ela entoava mais e mais, rasgando seu coração em dois, perfurando seu peito. Logo as lágrimas marcaram território de fraqueza e o homem não hesitou e abriu o porta-luvas e lá dentro havia uma arma cromada, e reluzia em seus olhos. A voz prosseguia
- Isso, faça. Faça!
Ele pôs a arma em sua mão direita, e abriu a porta e caminhava lentamente á casa a sua frente. Abriu a porta e suas lágrimas caiam no chão marcando cada passo com sua voraz tristeza. Parou diante de uma porta branca, e estendeu sua mão diante da maçaneta, deu um suspiro e abriu a porta.
- Amor? Chegou cedo hoje – dizia uma linda moça, deitada á cama com uma grande camisola branca de seda. – vem pra cama.
O rapaz em um impulso mirou diante dela e ateou bala. A bala perfurou a camisola, que naquele momento redecorou a seda com um vermelho sangue. O barulho do tiro quebrou aquela voz que tanto o incomodava. Ele parou diante do corpo da moça e postou-se a chorar. Lembranças e lembranças paravam diante de seus olhos, relembrando momentos que nem o tempo era capaz de apagar. E que naquele momento ele havia interrompido uma vida, por uma incerteza de adultério.
Enquanto caminhava para fora da casa avistou várias viaturas da polícia, mandando-o permanecer onde está. Enquanto era algemado, ele viu um homem de capuz preto se aproximando dele caminhando lentamente. O homem encapuzado olhou bem em seus olhos, e sua face era negra.
- Parabéns, você foi um bom escravo para mim. Vim buscar meu troféu. – dizia com a mesma voz que tanto o atormentou.
Em seguida o rapaz de capa negra esfaqueou-o. Ninguém podia vê-lo, nem mesmo a policia. Porém o rapaz agonizava, não de corpo, e sim de alma. E cai morto ao chão. Sua alma se levanta e vê uma forte luz branca, e com dificuldade ele avista a sua esposa caminhando para esta luz, ele tenta correr atrás dela mas uma força o puxa para trás.
- Este não é seu caminho, não mais. – debochava o enganador, do pobre assassino.
Ele então caminhava para o caminho de trevas e fogo eterno para enfim servir a voz daquele que o enganou.